Sunday, June 07, 2009

INSTRUMENTOS DE NAVEGAÇÃO. CAPÍTULO 12 . INTELIGÊNCIA COLETIVA

Alunos: Clarice/ Gabriela/ Giovanna/ Natália/ Patrick


CAPÍTULO 12. INSTRUMENTOS DE NAVEGAÇÃO


O texto faz referência inicial à época anterior aos séculos XV e XVI, período das Grandes Navegações, quando o homem utilizava relatos para se localizar. Esses relatos por mais eficazes que fossem, eram muito mais descritivos do que funcionais, sua compilação em portulanos auxiliava na localização e viagem dos navegantes, todavia, existiam muitos relatos em branco, os quais eram preenchidos com histórias fantasiosas e mitos que se tornavam símbolos de grande força.
Nessa época, além da grande utilização da bússola, instrumento terrestre, o qual auxiliava na orientação a partir de um norte magnético; existiam também os algoritmos que eram mais eficazes do que os portulanos para navegação, vez que era uma descrição seqüencial de ações a serem tomadas pelos navegantes durante suas viagens.
Devido às necessidades de se navegar em mares desconhecidos, os portulanos e algoritmos não serviam mais, era também grande a dificuldade em encontrá-los. Fez-se necessário criar, então, uma espécie de território, o qual, em um campo abstrato e imóvel, far-se-iam projeções sobre o céu na terra, as quais funcionariam para localização dos viajantes. Essa localização era definida a partir da criação de pontos especificados neste território abstrato depois de sua divisão quadrangular. Os instrumentos utilizados na época se voltavam consequentemente à orientação pelo território do céu, tais instrumentos eram basicamente o quadrante e o astrolábio, que definiam de acordo com a altura da Estrela Polar ou do Sol a latitude e a longitude. Com a nova definição de espaço, a Terra é quadriculada e cercada por uma rede que cai do céu, e cada ponto possui a partir de então coordenadas e um endereço, mesmo que não seja assim desejado. Os relatos e os algoritmos dão lugar ao sistema do qual a geografia científica só é um caso particular. Esse sistema permite orientar-se onde ninguém jamais antes esteve, e permite realizar com certeza e precisão resultados de uma operação bem efetuada.
No espaço da mercadoria já não é possível fixar pontos em um sistema, visto que tudo circula e flutua incessantemente. A inércia do Território é forte, seus pontos de referência, fixos. O espaço econômico é móvel, relativista, sendo que nele é o terreno que viaja e se transforma. As mercadorias circulam, seus preços flutuam, possuem valores diferentes em um lugar ou em outro no mesmo instante, os sistemas de produção evoluem. O valor e a organização dos conhecimentos dependem estreitamente de um contato cultural, social e profissional cambiante.
A dificuldade no Espaço do saber consiste em organizar o organizador, objetivar o subjetivante. O saber sobre o saber deriva de uma circularidade essencial, originária, inelutável.
Para auxiliar o espaço das mercadorias, surge no século XVII, as estatísticas e probabilidades e seu desenvolvimento acompanha a expansão capitalista. Com esse mapa móvel os comerciantes terão como base os índices, taxas, médias, demanda e todos os itens suficientes para se adequares a esse espaço imprevisível, onde tudo circula e flutua. Porém as estatísticas escondem de os exemplos particulares, ocorre generalização o que deixa por vezes um caso isolado no esquecimento. As estratégicas são submetidas à lei de grandes números, levando à probabilidades assim as qualidades são reduzidas a quantidades.
Considerando que o espaço do saber não pode apoiar-se na estatística puramente quantitativa à maneira mercantil, ou uma organização transcendente como o território, o cinemapa desenvolve espaço qualitativamente diferenciado. A organização desse espaço vai mostrar essa complexidade de relações que os objetos ou atores do universo informacional mantêm uns com os outros.
O cinemapa consegue dar tributo diferente, para cada lugar, com suas peculiaridades. Para cada ponto mostra investigações mais profundas, fornecem detalhamentos: o cinemapa é um mosaico móvel em permenente recomposição, onde cada figura é completa, mas adquire valor e sentido na configuração geral.
Ele permite ler uma situação, um espaço qualitativo. Grupo humano para utiliza-lo precisa intelectual coletivo. Assim, o cinemapa é uma realidade virtual , um ciberespaço.

Sunday, May 31, 2009

Novo cronograma ...

01/Junho
Barroco ainda e 19. Preparação para disciplina estética. Visualidade x drama: Willian Sheakeaspeare. A invenção da liberdade: David Hume (a teoria do gosto). Aesthetica (Baumgarten)

03 de junho
18. Transformações no conceito de espaço: extensão-divisibilidade. Boullé, Ledoux, Durand. 20. O criticismo. A crítica da faculdade de julgar Emanuel Kant / Hegel

08/Junho
21. O romantismo: a visão de mundo e a função da arte. Processos em arte, categorias estéticas: belo, sublime, grotesco, pinturesco em arte e em arquitetura.

08 e 10/Junho22. Hegel. O nascimento da história da arte e o sistema das artes. Nietzsche, a oposição a Hegel.


15 de junho23. O projeto moderno: modernidade, modernismo, movimentos modernos, funcionalismo.

17 de junho24. As teorias artísticas em arte e arquitetura: a empatia (einfühlung), a formalidade. A crítica do formalismo: Iconologia e tipologia. A filosofia das formas simbólicas.

22 e 24/Junho 29/Junho25. O momento pós-critico: Peter Einseman critica aos fundamentos da arquitetura moderna. 26. A nova agenda da arquitetura: fenomenologia, pós-estruturalismo

01 e 06/Julho 28. O design, o projetista: seus modos de ver e pensar – Flusser e Lawson

08/Julho 29. As relações entre espaços, a deriva contínua do mundo humano

IMITAÇÃO DA NATUREZA

Com base em: HAAR, Michel. A obra de arte. Ensaio sobre a Ontologia das obras. Rio de Janeiro: Difel, 2000
Por Fernada Ferri
Tópico do programa: Conceitos de beleza e arte. Platão e Aristóteles.

IMITAÇÃO DA NATUREZA
1. A depreciação platônica da arte
Segundo Platão, a imagem produzida por um artista é duplamente inadequada.
Comparando uma cama feita por um marceneiro e uma cama pintada por um pintor, ele fundamenta-se no postulado realista que julga que uma cama da qual possamos servir-nos seja superior a uma cama que se pode apenas olhar, e sempre pelo mesmo ângulo. Por isso ela é dita como inadequada ao ente (a coisa representada), e ao ser (a idéia).
A teoria do espelho deprecia a imagem artística comparando-a a um reflexo no espelho, uma ilusão sem substância, e o artista é comparado a um charlatão desprovido de ofício, sendo que a imagem produzida por ele qualquer um pode produzir sem qualquer dificuldade.
È estabelecida uma hierarquia das três camas: a primeira é o protótipo, estabelecido pelo próprio Deus, a única que é realmente existente “por natureza”; a segunda é a que é fabricada pelo marceneiro; a terceira, a que é pintada pelo pintor. Aqui o termo “natureza” significa a essência, aquilo que se mostra por si mesmo em oposição ao que é produzido por meio de outra coisa.
A partir desta hierarquia Platão distingue três tipos de “produtores”:
1. o deus: Aquele que toma a seu cargo a apresentação do puro aspecto das coisas;
2. o artesão: Aquele que reproduz o objeto a ser usado correspondendo verdadeiramente à sua idéia;
3. o pintor: “Operário da imagem”. Propõe-se não a representar o objeto tal qual ele é, mas sim tal qual aparenta.
E assim como não se pode aprender com um pintor a maneira de se fazer uma cama, não se pode aprender com um poeta que canta sobre a cura a maneira de curar, pois a imitação artística e poética não se baseia em conhecimento algum. Segundo Platão ambos são ignorantes, e a arte é algo inútil, que não ensina nada pois não se fundamenta em nenhum conhecimento verdadeiro.

2. Apologia da arte egípcia
A arte grega do século V não respeita proporções, alterando-as em busca da verossimilhança do objeto representado em relação ao ponto de vista do espectador. Assim, para que, vistas de baixo, a parte superior de uma estátua colocada no alto não pareçam menores, elas são aumentadas em relação às inferiores, passando para o espectador uma aparência, e não a verdade intrínseca do objeto representado.
A arte egípcia, ao contrário, não visa agradar o ponto de vista do observador. O artista egípcio não procura expressar o natural, nem a perspectiva, e nem busca dar aparência de vida e movimento, que os gregos chamam de skiagraphia, o “desenho da sombra”, que Platão relaciona com a intenção de enganar dando substância a algo que não tem. O artista egípcio negligencia esta percepção que faz parecer o objeto representado sempre do mesmo ponto de vista. Ele respeita a essência do modelo e o reproduz tal qual é em si mesmo, sem se preocupar com o aspecto que irá parecer. Uma arte que não procura enganar.
Em O sofista, Platão contrapõe essas duas artes distinguindo duas formas de “arte imitativa”:
1. A ”arte da cópia”: Trata-se de uma arte que produz uma imagem semelhante, comparável ao modelo, reproduzindo a proporções, e dando a cada parte as cores apropriadas. A arte egípcia;
2. A “arte do simulacro”: Trata-se de uma arte que não se preocupa em reproduzir as verdadeiras proporções, mas sim as que aparentam belas aos olhos do observador. A arte grega.
Platão luta contra essa tendência da “arte do simulacro”, cada vez mais relativista e ao mesmo tempo naturalista.

3. Aristóteles: a legitimação da mimèsis
Aristóteles também afirma que a arte seja imitação, mas coloca a imitação como algo “natural”, verdadeiro, não sendo ignorância ou ilusão, mas sim uma atividade conforme a “natureza”.
Para ele, a célebre fórmula da Physique, “A arte imita a natureza”, não significa que a arte deva reproduzir a natureza, mas sim que a arte tem essa capacidade, além de ter a capacidade de produzir, rivalizando com a natureza.
Ele propõe três maneiras fundamentais de imitar: a representação do que as coisas são; a representação do que as coisas parecem ser, o verossímil; e a representação do que as coisas deveriam ser, o ideal.
Aristóteles é o primeiro filósofo a analisar a natureza do prazer estético, concluindo que o prazer estético legítimo deve-se ao fato de que a obra de arte nos faz raciocinar ao compararmos o retrato ao seu modelo, nos encantando encontrar esta relação mimética entre arte e natureza. Contrariamente a Platão a arte não é ignorância, e sim ampliação do conhecimento.
Mesmo com essa legitimação da arte, que precede inúmeras outras, a condenação platônica ressurgirá inúmeras vezes, e um exemplo claro é através da censura. A discussão nos dias atuais, embora hoje a censura teatral tenha deixado de existir, persiste a censura cinematográfica com o pretexto de defender a juventude do vício, indecência e crime.

Saturday, May 23, 2009

Figuras de espaço e de tempo – Cap. 11

Segundo Levy, a Terra constitui a memória dos homens. Em suas paisagens mapeia as epopéias e guarda todas as sabedorias. Pois o espaço vive e cada canto do mundo contém uma história. Onde as trilhas não são refeitas, perde-se a referência da memória e tudo morre. Quando refeitas, a origem se faz presente. Tudo revive, pois jamais passou. Aqui o espaço é percorrido por forças, pontuados de lugares altos, intensidades, centros, livres de áreas proibidas. Trata-se do espaço-memória, um espaço-narração, a encarnação de uma subjetividade coletiva dentro do cosmo.

 “(...) Os sites notáveis da Terra nômade são ossuários, restos de gigantomaquias (...)” [p.149]

 A invenção (a novidade) é uma reminiscência. Com o retorno cósmico, o devir sobre a terra alimenta a eternidade. Ao tempo Terra, chamamos imemorial. Todo espaço habitado, por peregrinos, viajantes, aventureiros e poetas reconstitui a Terra. O tempo é transportado com a Terra. Ela está sempre presente e é sempre o presente.

 Imemorial (figuras de tempo)

 “A inteligência produz recortes que introduzem em re

giões de parada no devir, correspondendo a contrações do passado mais ou menos fluida. Quanto mais fluídas, mais próximas estarão de uma dimensão virtual, da memória imemorial. Somente através da memória se pode atingir o passado, e este, não existindo como um antigo presente, só se torna possível enquanto produção no presente, resgatado pelo imemorial. Assim, é somente a partir de hoje que se pode falar sobre o passado, e é implicado no presente e comprometido com o futuro que se faz valer o passado — um passado sempre a se refazer no presente.” [Rauter, 1998].

 

Território: a clausura, a inscrição, a história (3.000 a.C).

 


Espaço: Clausuras (fundações)

 

Clausura:

  1. Vida de claustro.
  2. Estado de quem não sai de casa, e vive nela com retraimento.
  3. Fig. Claustro, convento.

 

Liames:

  1. Tirar a rudeza; civilizar.
  2. Polir; aperfeiçoar

 

Tempo: História; Tempo “lento” diferido, engendrado pelas operações espaciais de clausura e fundação.

 

 A fundação é o ato que cria o Território. Cada vez que se funda, no sentido do gênio ou da arquitetura e no sentido de instauração, estende-se o império do Território.

 Fundação é o início da criação do espaço e inaugura o tempo. Lembrando que o lugar é existente, mas o espaço territorial passa a ser contado através do espaço-tempo, sustentado pela continua fundação e refundação.

“O camponês cerca, ara, carpe, e planta o campo. O rei cava os fossos, ergue muros em torno da cidade, e edifica no centro seu palácio. O padre delimita o espaço sagrado, núcleo secreto do templo, para nele alojar um ídolo, um altar ou a ausência.” (vazio constitui um espaço). “O escriba prepara a tábua de argila, o papiro (...) inscreve (...) o texto (...) cercado por suas margens.” [p.150]

“Os cercados abrigam (...); as fronteiras impedem (...); o Estado prende (...); canais e estradas canalizam os fluxos. Alfândegas, guichês, portas restabelecem continuamente o dentro e o fora. Entre os escribas, os exames e concursos erguem barreiras em torno do saber.” [p.151]

Seguindo...

Todas as fortificações são proteções contra a aniquilação e o esquecimento, esforços para durar, permanecer, não passar. Já a agricultura instaura os jogos e os riscos da duração, do atraso, do estoque. Surgindo celeiros, silos, depósitos, adegas, tesouros enterrados, previsão para os anos de escassez, e aposta no futuro.

 Estoque do sentido, a página grifada, semeada de signos invoca a leitura, a interpretação, o comentário. As falas se evaporam, restam as escritas.

 Restare: Deter-se, que provém de stare, manter-se de pé, plantado, fundado.

 Levy afirma que só existe o antes e o depois porque existe o dentro e o fora. O Território produz o tempo linear da história, a qual não corre mais rápida do que o imemorial, é outra velocidade, outra qualidade de tempo: a lentidão do Território.

 

 

Mercadoria: circuitos, tempo real (1750).

Espaço: Redes; Circuitos Urbanos.

 Tempo: Tempo real; Tempo abstrato e uniforme dos relógios.

“Desterritorializados, homens, coisas, técnicas, capitais, signos e saberes renovam-se e giram continuamente nos circuitos da mercadoria. As estratégias comerciais não mais erguem proteções: instalam redes, organizam circuitos. Redes de comunicação, de transporte, de distribuição e de produção entrelaçando-se (...), tecendo um espaço de circulação.” [p.151]


CAPÍTULO 10 – SEMIÓTICAS

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva. São Paulo: Loyola, 2007.

ALUNOS: Letícia Colnago e Renan Grisoni

 

RESUMO - CAPÍTULO 10 – SEMIÓTICAS

Cada espaço antropológico desenvolve um regime de signos, uma semiótica específica.

A semiótica da Terra, ou a presença

Na Terra, o signo participa do ser, e o ser do signo. Aqui, tudo nos fala. Animais e pessoas, astros e climas, formas e detalhes nos fazem sinal, remetem a relatos, discursos, rituais. Simetricamente, o signo é um atributo, uma parte ativa da coisa, do ser ou da situação que ele qualifica. Graças ao sopro que o leva, o signo não se separa jamais de uma presença. As falas são atos, exercem poderes, destroem e criam. Atos divinos ou rituais humanos são gestos e cantos que sustentam o mundo. Tal é o regime semiótico dos “primitivos”, dos animistas, das culturas anteriores à escrita, das crianças muito pequenas.

 

A semiótica do Território, ou o corte

No Território, a fala é destacada do sopro vivo e fixada em um suporte inerte, é sedentarizada pela escrita.  As coisas às quais remetem esses signos talvez estejam muito longe, ou tenham passado há muito tempo. Os signos representam as coisas: tornam presentes as coisas ausentes. O vínculo cambiante, vivo, atual entre os seres, os signos e as coisas é diferido. As separações e as fronteiras que quadriculam o Território insinuam-se no centro das relações de significação: o corte semiótico está instituído. Entre os signos e as coisas interpõe-se de agora em diante o Estado, a hierarquia e seus escribas. Doravante, o signo representa. O signo é arbitrário. É transcendente. O signo está presente, mas sem possuir, é claro, a dignidade ontológica e a imanência da coisa terrestre. É um ser menor.

 

A semiótica da Mercadoria, ou a ilusão

No espaço das mercadorias, já não é apenas a fala que está separada de uma situação viva. Quadros e rostos, paisagens e músicas, ritos e espetáculos, todos os tipos de acontecimentos são indefinidamente reproduzidos e difundidos fora de seu contexto de surgimento. Multiplicado pela mídia, levado por mil vias e canais, o signo é desterritorializado. No Espaço das mercadorias, os fluxos de signos correm desenfreados. O corte funcionou tão bem que a transcendência não vincula mais. Na semiótica mercantil, o signo já não representa, ele traça. Já não é um representante com o crédito de uma transcendência, mas um vírus, trabalhando para se reproduzir, competindo em velocidade com outros vírus para ocupar o espaço midiático. É isso o espetáculo: todo o real é passado para o lado do signo. Os fatos, as pessoas, as obras são signos e são tratados, reproduzidos, difundidos como tais.

 

O Espaço do saber, ou a produtividade semiótica

A semiótica do Espaço do saber define-se pelo retorno do ser, da existência real e viva, na esfera da significação. No Espaço do saber, os intelectuais coletivos reconstituem um plano de imanência da significação no qual os seres, os signos e as coisas voltam a encontrar uma relação dinâmica de participação recíproca, escapando às separações do Território, assim como aos circuitos espetaculares da Mercadoria. O retorno do real na esfera da significação supõe o envolvimento dos sujeitos vivos; mas sugere também que o espaço dos signos torna-se sensível, semelhante a um espaço físico (ou a vários!): que possamos entrar nele, observar a nós próprios, encontrar os outros, explorá-lo, apalpá-lo, modificá-lo. De um espaço a outro, tornar real, dar vida é conduzir ao dia claro do sentido, manifestar por meio de signos. Entre os seres humanos, o que não foi cantado não existe.  

Monday, May 18, 2009

O QUE É UM ESPAÇO ANTROPOLÓGICO?

O QUE É UM ESPAÇO ANTROPOLÓGICO?
In. A Inteligência Coletiva LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo Loyola, 2003.
Multiplicidade dos espaços de significação
Há diferentes espaços gerados pela interação entre as pessoas, as situações, as trocas de mensagens e representações, que denominam-se espaços plásticos. O homem vive constantemente produzindo, transformando e administrando os espaços que se criam e entrelaçam.
Os espaços são estruturados pelas pessoas, pelas palavras, imagens e conceitos, de acordo com a intensidade afetiva que os ligam. Assim, os espaços podem se curvar e deformar em torno dos objetos que os contêm e organizam, podendo ser mais duráveis ou passageiros.
Espaços maiores existem, por exemplo, na escala das instituições, grupos sociais, conjuntos culturais, etc, e que envolve elementos não humanos como sistemas de signos, armas, vírus, etc.
A importância de um acontecimento é reconhecida por sua capacidade de reorganizar as proximidades e as distâncias nos espaços, “quando não seu poder de instaurar novos espaços-tempos, novos sistemas de proximidades”.
Além do espaço físico ou geométrico existe também os espaços de significação, que compreende espaços afetivos, estéticos, sociais, históricos, entre outros.
“Vivemos em milhares de espaços diferentes, cada uma com seu sistema de proximidade particular (temporal, afetiva, lingüística etc.), de modo que uma entidade qualquer pode estar próxima de nos em um espaço e bem distante em outro.”(...)
“Dessa forma, passamos nosso tempo a modificar e a administrar os espaços em que vivemos, a conectá-los, a separá-los, a articulá-los, a endurecê-los, a neles introduzir novos objetos, a deslocar as intensidades que os estruturam, a saltar de um espaço a outro.”
Os espaços antropológicos são estruturantes, vivos, autônomos, irreversíveis
Os espaços antropológicos são constituídos de uma multiplicidade de espaços interdependentes. Os quatro espaços antropológicos (Terra, Território, Espaço das mercadorias e Espaço do Saber) são estruturantes e contém vários espaços diferentes. Eles são produzidos pelos processos e interações que neles acontecem.
O Espaço do saber não deve ser confundido com um recipiente que contém todos os saberes possíveis. O espaço do saber produz uma forma específica de saber, reorganiza, hierarquiza e insere em seu meio ativo os modos de conhecimento resultantes dos outros espaços antropológicos.
Da mesma forma que o Espaço das mercadorias não é a “economia”, mas supera o domínio da produção e das trocas econômicas para englobar quase todos os aspectos da vida humana. Assim o Espaço das mercadorias cresceu e se desenvolveu de maneira autônoma, auto-organizada, criadora e destruidora.
Os espaços antropológicos ganharam consistência, autonomizaram-se até se tornarem irreversíveis. A irreversibilidade é a qualificação dos espaços antropológicos.
Cada espaço antropológico produz sua própria estrutura com a devida autonomia. Apesar de parecerem se sobrepor, eles se permeiam e coexistem, uma vez que não devem ser entendidos como meio físico ou objeto, mas sim algo mais abstrato, tangendo o limiar da emoção e relação entre tudo aquilo que existiu, existe e existirá. Nesse sentido, podem ser entendidos como “planos de existência” com velocidades de processamento diferentes e que se renovam dinamicamente.
Estes espaços podem ser classificados em quatro esferas: a Terra, que é a freqüência básica, pré-existente e possui uma velocidade acima da compreensão da vida animal, ou seja, intangível; o Território, que passa a ser a inserção do indivíduo na Terra, e o estabelecimento de uma velocidade perceptível e de uma forma de organização da relação espaço-indivíduo, indivíduo-indivíduo, e espaço-espaço; o Espaço das mercadorias, baseado na aceleração, inserida pelo capitalismo; e, ao final, o Espaço do saber, constituído pelas redes digitais, universos virtuais e vida artificial, uma vez que não se constitui do ‘conhecimento’, mas da troca de informações dentro de uma ‘inexistência física’ ou ‘surreal’.
O autor pontua que “não havia necessidade alguma no surgimento dos espaços antropológicos”, negando assim, de certa forma, o processo de evolução que estabeleceu a contemporaneidade. A exemplo, cita as antigas civilizações, grega, egípcia, mesopotâmica, romana e chinesa, como grandes impérios que poderiam apenas ter continuado a sucessão do que já havia se estabelecido no Espaço do Território, ou seja, na esfera organizacional entre indivíduos e espaço físico. Dessa forma, condena o desencadeamento do capitalismo por volta do século XVI como forma de aniquilamento da memória, cultura e linguagem através da aceleração do processo histórico e unificação das tão diferenciadas sociedades em prol da economia.
A cartografia antropológica pode ser entendida não a partir da classificação e isolamento, mas sim pela processo ‘quase cronológico’, ou melhor, uma espécie de processo temporal vista sob o foco atemporal, em que estão aplicadas as relações, situações e emoções de tudo presente no cosmos, sob a forma de um desenvolvimento natural desordenado (não linear).
Ao final, o autor destaca que sob quaisquer circunstâncias as quatro esferas do espaço antropológico, a Terra, o Território, o Capital, e o Espaço do saber coexistem em toda parte, diferentemente, descoordenadamente e sob a inegável necessidade atual de existirem.


Autores: Bárbara Lyrio Fernandes Frazão, Bárbara de Araújo Torres e Renata Collodetti

Wednesday, April 29, 2009

Design, forma e matéria

Sumário do texto A Forma das Coisas, Uma Filosofia sobre o Design de Vilém flusser Tradução livre por Débora F. Figueiredo Bergamasco
Aluna: Lilian Dazzi Braga

Sobre a palavra Design
Para Flusser o design é objeto de análise etimológica, não começa com a ciência, nem com a apreciação de objetos fabricados ou a visão dos criadores, mas com o significado das palavras. A palavra Design em inglês é tanto um verbo (simular, desenhar, etc) como um substantivo (intenção, plano, estrutra básica).
A palavra design, máquina, tecnologia , arte, estão diretamente relacionadas e todas derivam da mesma visão de mundo. Um design está associado à esperteza e ao engano. O grego “mechos”, de máquina, significa “engano”, feito para enganar, “armadilha”. Uma máquina é uma ferramenta desenhada para enganar, a mecânica é o truque para trapacear corpos pesados.
A idéia é de que a madeira é um material sem forma ao qual o artista, o “técnico”, dá forma. Portanto causa a forma aparecer em primeiro lugar. Para Platão, a arte e a tecnologia traem e distorcem formas teoricamente intangíveis (idéias) quando transferem estas ao mundo material. Para ele, artistas e técnicos, eram traidores das idéias e trapaceiros porque espertamente seduzem pessoas a perceberem idéias distorcidas.
A cultura burguesa moderna fez uma divisão entre o mundo das artes e o da tecnologia. A cultura foi dividida em uma científica, quantitativa, “hard” e outra estética, evolutiva, “soft”. O design indica onde a arte e tecnologia se juntam como iguais, fazendo uma nova forma de cultura possível.
Entretanto, essa nova forma de cultura é enganosa. O design da alavanca copia o braço humano, é um braço artificial. Essa máquina, este design, esta arte, esta tecnologia, é feita para enganar a gravidade. Este é o design base de todas as culturas: enganar a natureza por meio de tecnologia, substituir o natural pelo artificial. O design por trás de todas as culturas tem que ser “enganador” suficiente para tornar meros mamíferos condicionados pela natureza em artistas. Ser um ser humano é um design contra a natureza.
A questão do design substitui a da idéia. Como um exemplo temos as canetas de pástico, são designes que não notasmos, e são dadas como brindes, não tem valor. As grandes idéias por tras delas são tratadas da mesma maneira que o material (plástico) e trabalho por trás delas.

Forma e Material
A palavra material, tradução do termo grego hylé, é o resultado da busca de uma palavra que expressase o oposto da palavra forma(morphe em grego). Portanto hylé é algo amorfo. O mundo material é aquele preenchido com formas, dando um enchimento. Como exemplo temos uma mesa, eu vejo madeira em forma de mesa, seu estado é transitório (será queimada e decomposta na forma amorfa de cinza). A forma da mesa é eterna, uma vez que eu posso imagina-la a qualquer tempo em qualquer lugar. A forma da mesa é real, e o conteúdo é apenas aparente. Os carpinteiros enformam a madeira (impõem a forma de mesa) e também deformam a idéia de mesa (distorcem ela na madeira).
Se a forma é o oposto da matéria, então não existe design que possa ser chamado de material. É sempre “enformar”, colocar em uma forma. A forma é o “como” da matéria e “matéria é o “que” da forma, o design é um dos métodos de dar forma à matéria. Uma vez o material enformado começa a aparecer (se torna fenômeno). Portanto material é design, é a forma como a forma aparece.
A questão atual é a de realizar as formas designadas para produzir mundos alternativos, para a “era da informação”. Não é mais uma questão de formalizar um mundo conhecido e garantido, como no passado. Isso significa a cultura “imaterial, mas deveria ser chamada de materialização da cultura, a visibilidade das formas e idéias.
O ponto central é o conceito de enformar. Impor formas aos materiais. O que quer que “material” possa significar, não significa o oposto de “imaterial” ou melhor, a a forma, é que faz o material aparecer. A aparência do material é a forma.

Tuesday, April 28, 2009

Os Quatro espaços (cap. 7)

A Inteligência Coletiva LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo Loyola, 2003.
Leituras pelo grupo: Conrado Carvalho, Deyvid Preato de Paula, Julia Ferolla Falqueto, Kamila Drago Bona, Lívia Delboni Lemos, Minieli Fim, Stella Brunoro Hoppe e Tatiana Virgilio Pereira

Os Quatro espaços
A terra
A terra, a grande terra nômade, foi o primeiro espaço ocupado pela humanidade. Nossa espécie produziu a terra elaborando o mundo como tal. A terra é o mundo das significações. A humanidade inventou a si própria, desenvolvendo a terra. A terra é o espaço-tempo imemorial ao qual não se pode atribuir origem. É o espaço "desde sempre presente" da espécie, que contém e supera o começo, o desdobramento e o futuro do mundo humano.
A terra é um cosmo, em que os seres humanos estão em comunicação com os animais, plantas, paisagens, lugares e espíritos. É o lugar das metamorfoses. O humano vive sobre uma terra que ele elabora e reelabora constantemente por meio de suas linguagens, ferramentas e edifícios sociais complicados e sutis.
A revolução Neolítica não suprimiu a grande terra nômade e selvagem. Atravessando as fronteiras das identidades, o coração da terra ainda canta sua louca canção de sonho e de vida, que mantém a existência do mundo.
O território
Difunde-se sobre a terra como um segundo espaço antropológico -A domesticação e criação de animais, a agricultura, o estado, a cidade, a escrita, uma estrita divisão social do trabalho -um novo mundo se estabelece: O mundo sedentário da "civilização".
A agricultura, a cidade, o estado ou a escrita são daí por diante virtualidades inerentes a humanidade que contribuem para quadricular o território. A figura emblemática do primeiro espaço poderia ser um caçador do paleolítico. Já para o território teríamos uma grande pirâmide cobrindo com sua sombra todo o povo de felás, de artesãos, de escribas e também de soldados, todos ali dominando campos de cevada e trigo, canais de irrigação, e de cidade, com seus lugares, ruas, córregos, templos, estátuas e muros.
O território trabalha para recobrir a terra nômade, diminuir as margens, instaura com a terra uma relação de depredação e destruição. A terra volta sempre -Conflito dos espaços.
Até a Segunda Guerra a maior parte da humanidade, camponesa, viveu no território.
O Espaço das mercadorias
Em meio às fumaças da Revolução Industrial, no século XVII, que se abre o Espaço das mercadorias -uma espécie de novo mundo tecido pela circulação contínua, cada vez mais intensa, cada vez mais rápida, do dinheiro. Esse mundo flutuante, disperso e inconsistente só atinge a superfície e as margens da vida social. Mas consegue reunir os membros dispersos. Esse novo mundo acaba crescendo sozinho. Atravessando as fronteiras, abalando as hierarquias do Território -rapidez imóvel.
O capitalismo transforma em mercadoria tudo o que consegue incluir em seus circuitos. O Espaço das mercadorias organiza os espaços anteriores segundo seus próprios objetivos. O capitalismo é “desterritorializante”, e foi durante três séculos o motor principal da evolução das sociedades humanas. O capitalismo é irreversível. É daqui por diante a economia, e a institui como dimensão impossível de ser eliminada da existência humana.
Sempre haverá o Espaço das mercadorias, como sempre haverá a Terra e o Território.
Que movimentos ainda mais rápidos, mais envolventes que os da economia desterritorializarão a desterritorialização? Eis que a camada mercantil sofre um furo, abrindo para outro espaço.
O Espaço do saber
Espaço do saber não existe. Não se realiza em parte alguma, é virtual. Na expectativa de nascer já está presente, mas dissimulado, disperso, travestido, mesclado.
Espaço do saber não se trata apenas do conhecimento científico – recente, raro e limitado -mas daquele que qualifica a espécie. Cada vez que um ser humano organiza ou reorganiza sua relação consigo mesmo, com seus semelhantes, com as coisas, com os signos, com o cosmo, ele se envolve em uma atividade de conhecimento e de aprendizado.
É sem fronteiras de relações e de qualidades. Os intelectuais coletivos inventam línguas mutantes, constroem universos virtuais, ciberespaços em que buscam formas inéditas de comunicação. O quarto espaço não existe, no sentido de que ainda não adquiriu autonomia. Mas desde o advento de sua virtualidade sempre existiu.
Nenhum grande entardecer fará surgir o espaço do saber, mas muitas pequenas manhãs.

Tuesday, April 21, 2009

Cibercultura

Cibercultura. LÉVY, P. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999.
Cibercultura? Mas, o que é isso? A interconexão mundial de computadores forma a grande rede, mas cada nó dela é fonte de heterogeneidade e diversidade de assuntos, abordagens e discussões, em permanente renovação.
"A hipótese que levanto é a de que a cibercultura leva a copresença das mensagens de volta a seu contexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala, em uma órbita completamente diferente. A nova universalidade não depende mais da auto-suficiência dos textos, de uma fixação e de uma independência das significações. Ela se constrói e se estende por meio da interconexão das mensagens entre si, por meio de sua vinculação permanente com as comunidades virtuais em criação, que lhe dão sentidos variados em uma renovação permanente." (p.15).

A cibercultura é um problema a resolver
1. Lévy mostra que as tecnologias não determinam, mas condicionam as mudanças à medida que criam as condições para que elas ocorram. Além disso, aborda o movimento social que deu origem ao ciberespaço – a experimentação de novas formas de comunicação, depois cooptado pelos interesses da indústria, e as grandes tendências de evolução técnicas no que se refere a interfaces e a tratamento, memória e transmissão das informações.
2. As implicações culturais do desenvolvimento do ciberespaço: Lévy contempla essencialmente três temas: as artes, o saber e a cidadania. As mutações nas formas de ensinar e aprender. O futuro papel do professor não será mais o de difusor de saberes, diz, mas o de “animador da inteligência coletiva” dos estudantes, estimulando-os a trocar seus conhecimentos.
3. Com o advento do ciberespaço, o compartilhamento de memória permite aumentar o potencial da inteligência coletiva. O saber, agora codificado em bases de dados acessíveis on-line, é um fluxo ininterrupto e grande escala.
Ciberespaço
"O ciberespaço (que também chamarei de "rede") é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo "cibercultura", especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço." (p.17).

"Um mundo virtual, no sentido amplo, é um universo de possíveis, calculáveis a partir de um modelo digital. Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer ou modificar o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação coletivas." (p.75).

Capítulo 3 Do molar ao molecular

Capítulo 3 Do molar ao molecular: tecnologia da inteligência coletiva (pp 47-58).
LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 2003.

“Nada é mais precioso do que o humano. Ele é a fonte das outras riquezas, critério e portador vivo de todo o valor.”
A evolução das técnicas, especialmente das técnicas da comunicação, renova profundamente o leque de soluções possíveis aos problemas de gestão do laço social e da maximilização das qualidades humanas. A novidade da engenharia do laço social reside antes nas finalidades e nas modalidades dessa engenharia.
Em oposição as tecnologias molares que consideram as coisas no atacado, em massa, as cegas, de maneira entrópica, as tecnologias moleculares abordam de maneira bem precisa os objetos e os processos que elas controlam (LÉVY, p. 48). As técnicas moleculares reduzem os desperdícios e as rejeições ao mínimo.

Vida
Lévy se refere as duas seleções a natural – a que a vida aplica a si mesma, e a artificial finaliza e acelera a formação de espécies (...).

Matéria
Podem-se classificar as técnicas para domínio da matéria em três grandes categorias: mecânicas, quentes e frias.
As tecnologias controlam o ponto de apoio de aplicação das forças humanas, animais ou naturais (ferramentas, armas, instrumentos, arados, velas, etc), a transmissão dessas forças (rodas, polias, árvores, engrenagens etc) e a reunião simples de materiais (nós, tecidos, arquitetura primitiva etc).
Lévy se refere aos desenvolvimentos também como o cruzamento da física, da química e das ciências materiais, que junto à nanotecnologia poderão acarretar imensos questionamentos econômicos, sociais e culturais...

Informação
As técnicas de controle das mensagens podem ser classificadas em três grupos principais: somáticas, midiáticas e digitais. As técnicas somáticas implicam a presença efetiva, o engajamento, a energia e a sensibilidade do corpo para a produção de signos.
As tecnologias midiáticas são molares, fixam e reproduzem mensagens a fim de assegurar maior alcance, melhor difusão no tempo e no espaço. A mídia propriamente dita aos meios de comunicação de massa se dá com técnicas de reprodução dos signos e marcas: selos, carimbos, moldagem, cunhagem de moedas (protomídias). Da escrita à difusão em massa de escrita e sons, graças à fotografia, à gravação sonora, ao telefone, ao cinema, ao rádio e à televisão.
As mídias fixam, reproduzem e transportam as mensagens em uma escala que os meios somáticos jamais poderiam atingir. Mas, ao fazê-lo descontextualizam essas mensagens e fazem-nas perder sua capacidade original de adaptar-se às situações nas quais eram emitidas por seres vivos. (...) (LÉVY, p. 52).
Pierre Lévy, nesta parte do capítulo 3, segue uma análise sobre as mídias... que vale a pena ler-ver p.53-54 do livro Inteligência Coletiva.

Coletivos humanos
As famílias, clãs e as tribos são grupos sociais orgânicos. Os Estados, as Igrejas, as grandes empresas, assim como as massas são grupos organizados molares, que passam por uma transcendência ou exterioridade para se constituir e se manter. Os grupos moleculares são auto-organizados.
Nos grupos orgânicos as regras, os códigos, as tradições são fixados e carregados pela própria comunidade constituída como corpo. As tecnologias da transcendência se colocam com a formação de grupos populacionais numerosos, os líderes, os chefes, reis e representantes unificam e polarizam o espaço coletivo. As instituições configuram um tempo contínuo. A burocracia torna-se seu órgão separado de gestão e tratamento da informação. Há divisão estrita de trabalho e ruptura entre execução e concepção para “melhor” coordenação das atividades. A transcendência e a segregação são tecnologias molares, as mudanças se efetuam de maneira custosa, brutal até catastrófica: golpes de estado, motins, revoluções, revoltas.
A política molecular os grupos não estão para serem forças a explorar são inteligências coletivas que elaboram e reelaboram seus projetos, recursos e refinam suas competências. Esta política é “fina” e não quer modelar o coletivo segundo um plano pré-estabelecido. Ela suscita um laço social imanente, emergindo da relação de cada um com todos (p 56-57).
A multiplicação dos coletivos moleculares supõe um declínio relativo da mídia em proveito do ciberespaço acolhedor das inteligências coletivas.
Sem hierarquias as comunicações seriam transversais, recíprocas, fora de categorias, e as cidades seriam um grande tecido metamórfico, “cidades calmas”.

Monday, April 20, 2009

Redes sociais, redes urbanas e outras

Rede - Anne Cauquelin in Arte Contemporânea
Características das redes: É um conjunto extensível e auto-organizável. Elas repercutem-se umas sobre outras. A noção de sujeito comunicante se apaga em proveito da produção global de comunicações. A anelação ou autonomia em relação a outros sistemas, estruturas. Nominação ou prevalência do continente (a rede prevalece sobre o conteúdo). Redundância ou saturação, quer dizer, na rede pode haver a construção de uma realidade de segundo grau, simulação.

Redes sócio-culturais: Rede é o próprio tecido da sociedade
Distinguir redes alternativas e as pirâmides disfarçadas com base nos autores: Deleuze, Guattari, Mendel, Castels
Redes são tecidos sociais que se formam a partir do estabelecimento de relações entre entes independentes, mobilizados por uma questão ou objetivos comuns que, de alguma forma, concorra para os objetivos específicos de cada ente (Inojosa, 2001). Esta definição enfatiza ou privilegia a comunicação ou relação entre pessoas e o objetivo compartilhado. Manuel Castells se encaminha para a mesma ênfase na conexão, para ele rede é um conjunto de nós interconectados...
INOJOSA, Rose Marie. Redes de Compromisso Social. In: Revista de Administração Pública - RAP. Rio de Janeiro: FGV,33 (5),set./out.1999: 115-141.

As formações sócio-espaciais são constituídas como dois tipos de espaço os espaços dos lugares e espaços dos fluxos segundo Manuel Castells. Assim o espaço social é compreendido dos processos que operam em um lugar específico que o distinguem e, talvez, fornecer-lhe uma identidade, e pelos processos que são operados através dos lugares poder criar uma formação social coerente em relação às conexões. Estes dois jogos de processos não são exclusivos operam-se simultaneamente para produzir resultados espaciais em “pacotes” sociais complexos. Não obstante é analiticamente útil distingui-los.
Os espaços são criados por práticas sociais. Assim não são universais, eles são sempre historicamente específicos. Os espaços tornam-se socialmente importantes quando são constituídos por práticas sociais inumeráveis. Neste ponto definem uma espacialidade material de vida. Todas as espacialidades são produtos de agentes sociais que operam como os fabricantes dos espaços. Há fabricantes dos espaços de lugares que criam mundos de identidades ' locais ', e há fabricantes dos espaços dos fluxos que criam mundos das conexões. Com estas práticas sociais e suas espacialidades, são os dados formais da coexistência entre os espaços dos lugares e os espaços dos fluxos.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em redes. Tradução: Klaus Brandini Gerhrdt. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2000.


Redes são articulações entre diversas unidades que, através de certas ligações, trocam elementos entre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que podem se multiplicar em novas unidades, as quais, por sua vez, fortalecem todo o conjunto na medida em que são fortalecidas por ele, permitindo-lhe expandir-se em novas unidades ou manter-se em equilíbrio sustentável. Cada nódulo da rede representa uma unidade e cada fio um canal por onde essas unidades se articulam através de diversos fluxos (...). MANCE, Euclides André. A Revolução das Redes. São Paulo, Ed. Vozes,2000.


Hipertexto e redes in "As Tecnologias da Inteligência" de Pierre Lévy:
"A fim de preservar as possibilidades de múltiplas interpretações do modelo de hipertexto, propomos caracterizá-lo através de seis princípios abstratos:
Princípio da metamorfose: A rede hipertextual está em constante construção e renegociação. Ela pode permanecer estável durante certo tempo, mas esta estabilidade é em si mesma fruto de um trabalho. Sua extensão, sua composição e seu desenho estão permanentemente em jogo para os atores envolvidos, sejam eles humanos, palavras, imagens, traços de imagens ou de contexto, objetos técnicos, componentes desses objetos etc.
Princípio da heterogeneidade: Os nós e as conexões de uma rede hipertextual são heterogêneos. Na memória serão encontradas imagens, sons, palavras, diversas sensações, modelos etc, e as conexões serão lógicas, afetivas, etc. Na comunicação, as mensagens serão multimídias, multimodais, analógicas, digitais, etc. O processo sociotécnico colocará em jogo pessoas, grupos, artefatos, forças naturais de todos os tamanhos, com todos os tipos de associações que pudermos imaginar entre esses elementos.
Princípio de multiplicidade ou encaixe de escalas: O hipertexto se organiza de modo "fractal ", ou seja, qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode revelar-se como sendo composto por toda uma rede, e assim por diante, indefinidamente, ao longo da escala dos graus de precisão. Em algumas circunstancias críticas, há efeitos que podem propagar-se de uma escala a outra: a interpretação de uma vírgula em um texto ( elemento de uma microrrede de documentos ), caso se trate de um tratado internacional, pode repercutir na vida de milhões de pessoas ( na escala da macrorrede social ) .
Princípio de exterioridade: A rede não possui unidade orgânica, nem motor interno. Seu crescimento e sua diminuição, sua composição e sua recomposição permanente dependem de um exterior indeterminado: adição de novos elementos, conexões com outras redes, excitação de elementos terminais ( captadores ), etc. Por exemplo, para a rede semântica de uma pessoa escutando um discurso, a dinâmica dos estados de ativação resulta de uma fonte externa de palavras e imagens. Na constituição da rede sociotécnica intervêm o tempo todo elementos novos que não lhe pertenciam no instante anterior: elétrons, micróbios, raios X, macromoléculas, etc.
Princípio de topologia: Nos hipertextos, tudo funciona por proximidade, por vizinhança. Neles, o curso dos acontecimentos é uma questão de topologia, de caminhos. Não há espaço universal homogêneo onde haja forças de ligação e separação, onde as mensagens poderiam circular livremente. Tudo que se desloca deve utilizar-se da rede hipertextual tal como ela se encontra, ou então será obrigado a modificá-la. A rede não está no espaço, ela é o espaço.
Princípio de mobilidade dos centros: A rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos centros que são como pontas luminosas perpetuamente móveis, saltando de um nó ao outro, trazendo ao redor de si uma ramificação infinita de pequenas raízes, de rizomas, finas linhas brancas esboçando por um instante um mapa qualquer com detalhes delicados, e depois correndo para desenhar mais à frente outras paisagens de sentido."(Lévy, P, 1993, p 25-26) .

Nova gramática espacial no mundo das redes. In. GaWC Research Bulletin 117 (Z) : 'Place as Network' (R.G. Smith).

Sunday, April 19, 2009

Capítulo 2: As qualidades humanas. Economia da inteligência coletiva

“A inteligência Coletiva” de Pierre Lévi
Fichamento do aluno: Maikon Côco; profa. Clara (inserções do livro de Lévy)
Este capítulo trata das leis da economia aplicadas às relações sociais, uma vez que as relações comerciais dependem obrigatoriamente das relações humanas. Forma-se uma rede de contatos sociais e quanto mais ampla e forte essa rede for, mais chances de gerar capital, porém fatores antiéticos tais como corrupção e máfia, além da desterritorialização gerada pela instabilidade do sistema geopolítico e tecnológico interferem no bom funcionamento dessa rede.

“O que acontece quando se mecanizou a agricultura, a indústria e as operações que giram em torno das mensagens? A economia girará – como já faz – em torno do que jamais se automatizará completamente, em torno do irredutível¨a produção do laço social, o “relacional”.” (LÉVY, p. 41). É necessário mobilizar a subjetividade dos indivíduos.

Como a economia está ligada à relação social, há a necessidade de se investir nas qualificações profissionais que permitam lidar com as pessoas, em todas as necessidades delas, que são o produto final da engenharia do laço social, contratante/contratado, comerciante/cliente, servidor público/população, etc.

“As necessidades econômicas se associam a exigência ética. Mas não é a única razão que nos faz invocar uma economia das qualidades humanas”. (LÉVY, p. 42).
“O problema da engenharia do laço social é inventar e manter os modos de regulação de um liberalismo generalizado”, ampliado, produtor e solicitador. Os mercados e os contextos seriam variados, neste “liberalismo” ninguém poderia se apropriar dos meios de produção dos quais outros seriam provados. (p. 43)
Enfim, o proletariado da economia da qualidade humana promove a inteligência coletiva e trabalha com massas humanas, os que fizerem isso terão sucesso, é importante que ele saiba viver e agir coletivamente, porém mantém sua identidade como indivíduo sem se rotular em uma categoria.
“A serviço da liberdade não são necessários meios que reforcem a autonomia e aumentem a potência dos que dela se servem, em vez de habituá-la a dependência? É por isso que a transmissão, a educação, a integração, a reorganização do laço social deverão deixar de ser atividades separadas. Devem realizar-se do todo da sociedade para si mesma...” (p. 45).

Capítulo 1: Os justos. Ética da inteligência coletiva

“A inteligência Coletiva” de Pierre Lévi
Fichamento CAP. 1 do aluno: Maikon Côco;

Este capítulo faz uma análise laica dos capítulos bíblicos 18 e 19 de Gênesis, em que Abraão estabelece o primeiro relato sobre a engenharia do laço social ao mediar com Deus o destino de uma população injusta por meio de um grupo de pessoas justas. Tal grupo teria que ter um número mínimo de dez pessoas para caracterizar uma força coletiva.
Na ocasião foi encontrada apenas a família de Lot justa ao receber e proteger estrangeiros (anjos disfarçados) da população promiscua. Encontrou-se então a quantidade de justos, uma família, e a quantidade de injustos, o resto da população, para isso houve a necessidade pesquisa apurada e in-locu, pois a presença dos justos não era evidenciada devido à grande quantidade de injustos.
A discussão está em torno da empatia e hospitalidade, já que a população de Sodoma foi separada como injusta por não interagir socialmente com os “estrangeiros”, ao invés disso queriam abusar deles e usando de força bruta e poder para destruir relações sociais. Enquanto os justos têm a capacidade de criar coletivos humanos ao manter comunidades existindo que é o valor relacionado ao comportamento dos justos em todas as suas variações dado em potência.
Lévy também distingue as palavras potência e poder (ação molar, aser tratado no cap. 3).
A POTÊNCIA É FÍSICA, MORAL, INTELECTUAL, SENSUAL OU DE OUTRA NATUREZA.
O PODER VISA LIMITAR A POTÊNCIA.
O ser e a potência contribuem para a produção e manutenção (gestão ver a palavra ação abaixo) de tudo que povoa o mundo humano.

Etimologia da palavra hospitalidade:
O vocábulo deriva do lat. hospes, -itis, designando tanto o anfitrião, aquele que recepciona o convidado, quanto o convidado, o visitante. Antigamente, também em português, hóspede era tanto a pessoa que oferecia hospedagem como a que recebia tal hospedagem. Significa também estrangeiro, pessoa que vem de outras terras.
Hospes deriva da raiz pa (alimentar), assim como pasco (alimentar, suprir com alimento, pastar os animais), pabulum (alimento, nutrição, pasto), Pales (a divindade tutelar dos pastores e criadores de gado), panis (pão), pastor (pastor, de gado ou de almas), pater (pai).
A etimologia da palavra "Hospedagem" remete ao latim "hospitium,ii", que, segundo Cícero, nobre historiador romano, significa "hospitalidade (dada ou recebida); hospedagem". E "Hospitalidade", também, proveniente do latim "hospitalitas, atis", em Cícero "De Oficiis" tem o significado de "hospitalidade, o ato de oferecer bom tratamento a quem se dá ou recebe hospedagem". Daí, "Hospital", local onde se recebe e se dá hospedagem, que, separando-se dos albergues e asilos, permaneceu como instituição exclusiva para atender aos doentes.
Ação segundo Hannah Arendt
O verbo agir nas línguas clássicas, em grego há duas palavras para agir, árkhein: começar, conduzir e governar, e prattein: levar a cabo alguma coisa. Os verbos latinos correspondentes são agere: por alguma coisa em movimento, e gerere: que exprime a constinuação permanente e sustentadora de atos passados cujos resultados são atos e eventos chamados históricos. Hannah Arendt, 1973
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1973

Etimologia da palavra. Economia

O espaço doméstico é o da casa, que não se refere apenas a um edifício destinado à habitação, uma morada e suas dependências. O termo comporta toda uma dimensão diferencial e simbólica. O viver com (conviver), o comer na mesma mesa, para os gregos antigos, ocorria na oiko (casa) dirigida por regras, normas da casa, do lugar ‑ nomia. Oikós (de onde deriva economia) significa a “arte de administrar a casa”, as propriedades de terra, os recursos materiais, e também as relações matrimoniais, paternas, maternas.
Para os gregos oikomonia diz respeito à gestão do domínio familiar, do oikos, mas pode também significar ‘gestão’, ‘administração’, ‘organização’ em um sentido mais geral e compreender ainda o âmbito da cidade, sendo possível falar-se em oikomonia dos negócios da cidade; neste caso, contudo, o sentido ainda afasta-se do moderno. Com este último sentido, não há, entre os autores gregos, um efetivo estudo sobre a economia, nem mesmo uma história da economia, já que eles não a consideravam uma categoria autônoma; a economia estava integrada na sociedade, era parte de um determinado arranjo social e político.
O termo economia foi definido por Aristóteles como oiko (casa, lugar) e nomia (regras, normas da casa, do lugar). A “casa” representa o espaço privado de produção e reprodução, relegada historicamente a atuação das mulheres, espaço para o seu trabalho invisível. Seguindo essa perspectiva, poder-se-ia pensar que a ciência econômica deveria considerar como base primeira para seus estudos o trabalho desenvolvido pelas mulheres, bem como seu espaço e meios.
Entretanto, pelo menos desde o início da Revolução Industrial, a ciência econômica pautou sua abordagem a partir da esfera da produção voltada para o mercado, para a produção de valores de troca, ou seja, para tudo aquilo que poderia ser comercializado de forma monetária.


Referencias
A vida comum, espaço, cotidiano e cidade na Atenas clássica. Marta Mega de Andrade. FAPERJ: DP&A Editora.

Xenofonte – Elementos para um Novo perfil de Alessandra Carbonero Lima. CEMOrOC-Feusp / IJI-Universidade do Porto 2008
Economia Feminista e Economia Solidária. Por um outro mundo possível Por Analine Specht.
LIRA, José tavares Correia de. Sobre o conceito de casa ou como ver o objeto por excelência do arquiteto sem sair de casa. São Paulo. Revista Caramelo, FAUUSP, N. 5. s. d.

A Inteligência Coletiva. Introdução

LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 2003.
(ficha da Profa. Clara)

Introdução do livro
Economia
Da capacidade de navegar no espaço do saber e de sua gestão ótima dependerá a prosperidade coletiva, tudo deriva de uma relação ética com o outro.
Nossa relação material com o mundo se mantém por meio de uma formidável infra-estrutura espistêmica e de software: instituições de educação e formação, circuitos de comunicação, tecnologias intelectuais com apoio digital, atualização e difusão contínua do savoior-faire... tudo repousa a longo prazo na flexibilidade e vitalidade de nossas redes de produção, comércio e troca de saberes.
Pierre Lévy descreve a transformação da economia, focalizando a transição da terceirização da economia. Setor que está cada vez mais invadido por objetos técnicos, que se industrializa. Por sua vez a industria de “concebe” cada vez mais como atividade de serviço. As empresas procuram se ligar (todo o tempo) às redes de inovação, ligações que se fazem transversalmente com a sociedade e outras empresas.
O saber se torna a nova infra-estrutura (Michel Serres citado por Lévy, p. 20).
Pierre Lévy diz que quanto melhor o grupo humano melhor ele consegue se constituir em coletivo inteligente. Assim o totalitarismo fracassa por suas características de centralização de poder, por sua planificação burocrática (hierarquizada, controlada). Aspectos que se mostraram incapazes de seguir as transformações das novas técnicas e organização do trabalho. O totalitarismo é incapaz de inteligência coletiva.
Pierre Lévy se mostra crente na interpenetração entre lazer, cultura e trabalho, crê que isso baixará por capilaridade a todas as camadas da sociedade. O puro econômico e a mera eficácia perdem a eficiência, pois, o engajamento subjetivo remetido a vida, a ética a cidade são solicitados a todo instante.
Já que condiciona todas as outras, a produção contínua de subjetividade será provavelmente considerada, a principal atividade econômica (a ser tratada no cap. 2 do livro).
A capacidade de formar e reformar rapidamente coletivos inteligentes irá se tornar uma arma decisiva nos núcleos de conhecimento específico.
Uma questão que se coloca para os arquitetos inclusive...

Discussão paralela:
Problemas
Peter Pal Pelbart diz: «Uma economia imaterial que produz sobretudo informação, imagens, serviços, não pode basear-se na força física, no trabalho mecânico, na automatismo burro, na solidão compartimentada. São requisitados dos trabalhadores sua inteligência, sua imaginação, sua criatividade, sua conectividade, sua afetividade ‑ toda uma dimensão subjetiva e extra-econômica antes relegada ao domínio exclusivamente pessoal e privado, no máximo artístico. Como o diz Toni Negri, agora é a alma do trabalhador que é posta a trabalhar, não mais o corpo, que apenas lhe serve de suporte.”
Ver artigo de Peter Pal Pelbart, “Biopolítica e biopotência no coração do império»: http://contrun.noblogs.org/post/2008/04/11/biopol-tica-e-biopot-ncia-no-cora-o-do-imp-rio-peter-pal-pelbart


Antropologia
Pierre Lévy coloca a hipótese de 4 espaços: terra, território, espaço mercantil e um novo espaço antropológico, o espaço do saber.
O que é um espaço antropológico? É um sistema de proximidade (espaço) próprio do mundo humano (antropológico), e portanto dependente de técnicas, de significações, da linguagem, da cultura, das convenções, da representações e das emoções humanas.
Terra. Neste espaço a relação com o cosmo constitui o ponto central deste espaço tanto no plano imaginário (totemismo, animismo) quanto no plano prático de sua relação de contato com natureza. Este vínculo com o cosmo e na relação de filiação ou de aliança com outros homens. O nome é a inscrição simbólica de uma linhagem.
Território é uma invenção a partir do neolítico com a agricultura, a cidade, o Estado e a escrita. O território não suprime a terra nômade, mas tenta sedentarizá-la, domesticá-la. Aqui começa o desenvolvimento do conhecimento, a história, os saberes de tipo: sistemático, teórico e hermenêutico.
O centro da existência passa ser a uma entidade territorial (pertença, propriedade) definida por limites e fronteiras. Nosso endereço é nossa identidade no território dos sedentários e contribuintes. As instituições com as quais lidamos são igualmente territórios com suas hierarquias, burocracias, sistemas de regras, fronteiras, lógicas de pertença ou exclusão.
O espaço mercantil, seu princípio organizador é o fluxo: de energia, de matérias-primas, de mercadorias, capitais, de mão de obra, informações. É um movimento de desterritorialização que não suprime o território mas subverte-o, subordina-o aos fluxos econômicos. O espaço mercantil supera os demais em velocidade, que é o motor de sua evolução. A riqueza não provém do controle das fronteiras, mas do controle dos fluxos. A ciência experimental moderna é o modo de conhecimento típico do novo espaço de fluxos. Cada vez mais cede lugar a tecnociência movida pela dinâmica permanente da pesquisa e inovação. A identidade aqui é a participação da produção e das trocas econômicas, é definida pelo emprego, pela profissão. Estes dois definem a posição no espaço mercantil.


A imagem acima do livro 3 estabelecimentos humanos de Le Corbusier representa uma "leitura" e modelização para intervenção no espaço de fluxos mercantil: o centro industrial, a cidade radiocênctrica e o dispositivo das estradas.

Discussão paralela:
Conceito de território em Feliz Guattari e Sueli Rolnik
“O território pode ser relativo tanto a um espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio da qual um sujeito se sente “em casa”. O território é sinônimo de apropriação, de subjetivação fechada sobre si mesma. Ele é o conjunto de projetos e representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos” (GUATTARI e ROLNIK,Cartografias do Desejo).
O território pode se desterritorializar, isto é, abrir-se, engajar-se em linhas de fuga e até sair do seu curso e se destruir. A espécie. humana está mergulhada num imenso movimento de desterritorialização, no sentido de que seus territórios “originais” se desfazem ininterruptamente com a divisão social do trabalho, com a ação dos deuses universais que ultrapassam os quadros da tribo e da etnia, ... (GUATTARI e ROLNIK).

Espaço do saber, malpercebido, incompleto. Este novo horizonte deve-se a velocidade de evolução dos sberes, a massa de pessoas convocadas a a prender e produzir novos conhecimentos, e ao surgimento de novas ferramentas – a do ciberespaço – por trás do “nevoeiro” informacional, paisagens inéditas, distintas, identidades singulares, enfim novas figuras sócio-históricas que se constituem indícios da era, do novo espaço antropológico:
A velocidade, jamais a evolução das ciências, das técnicas foi tão rápida.
A massa tornou-se impossível reservar o conheimento para a classe de especialistas. O conjunto coletivo deve aprender e inventar...
As ferramentas os intrumentos que dispomos são reduzidos para filtrar a informação pertinente, discernir significações...
Os conhecimentos vivos, so savoir-faire e competências dos seres estão prestes a ser reconhecidos como a fonte de todas as riquezas...

Laço social relação com o saber
Os dois eixos complementares para organização do “futuro”: a renovação do laço social por intermédio do conhecimento e o da inteligência coletiva propriamente dita.

O QUE É INTELIGÊNCIA COLETIVA?
A Inteligência Coletiva é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências.
A inteligência coletiva tem início com a cultura.
Pierre Lévy, “a inteligência coletiva desenvolve-se à medida que a linguagem evolui”. Com a divulgação das idéias através dos discursos e da escrita houve a disseminação do conhecimento. A inteligência coletiva pode ser dividida em inteligência técnica, conceitual e emocional.
A inteligência técnica se realiza através do mundo concreto e dos objetos, como a engenharia.
A inteligência conceitual se relaciona ao conhecimento abstrato e não ocorre sobre a materialidade física, como as artes e a matemática.
A inteligência emocional concebe a relação entre os seres humanos, confiança e sinceridade que a envolve, e se vincula ao direito, a ética e a moral.
Atualmente as idéias são o capital mais importante.
A questão não é mais “conhece-te a ti mesmo” mas aprendamos a nos conhecer para pensar juntos”. Não é mais penso logo existo, cogito cartesiano é ampliadi para cogitamus.
Pierre Lévy considera que, através da cooperação intelectual a criação coletiva de idéias se dá fundamentalmente pela internet e mais particularmente pelo ciberespaço. A conexão cada vez mais ativa entre os indivíduos verdadeiramente colabora para ações coletivas.
A produção dos capitais mais importantes está alicerçada e só pode ser alcançada quando as pessoas pensam em conjunto. Quando isso acontece produzimos três capitais:
O técnico, que vai dar suporte estrutural à edificação das idéias e pode ser explicado pelas estradas, prédio, meios de comunicação (coisa);
O cultural, mais abstrato, constituído pelo conhecimento reservado em enciclopédias, livros e na World Wide Web (signo);
O social, que representa o vínculo entre as pessoas e a cooperação e colaboração entre elas (cognição).
O capital intelectual é criado pelos capitais técnico, cultural e social. Destacando que o capital intelectual é representado por idéias idealizadas e disseminadas pela população e que, veiculadas, passam ao campo público. O capital intelectual é o cerne de toda a inteligência coletiva.

Saturday, April 18, 2009

A Inteligência Coletiva. Prólogo o Planeta nômade

LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 2003.

O Planeta nômade
O atual curso dos acontecimentos converge para a constituição de um novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho paras as sociedades humanas.
A cultura em rede ainda não está estabelecida. A forma e o conteúdo do ciberespaço ainda são especialmente indeterminados. Não existe nenhum determinismo tecnológico ou econômico simples em relação a este assunto. Escolhas políticas e culturais abrem-se diante dos governos, dos cidadãos, dos garndes agentes econômicos.
Não se trata apenas de raciocinar em termos de impacto, mas também em termos de projeto. Com que objetivo queremos desenvolver as redes digitais de comunicação interativa?

O desenvolvimento dos novos instrumentos de comunicação inscreve-se em uma mutação de grande alcance, à qual ela impulsiona, mas que o ultrapassa. Numa palavra diz Pierre Lévy: voltamos a ser nômades. O que isso significa.
O nomadismo dessa época se refere a transformação contínua e rápida das “paisagens” cientifica, técnica, econômica, profissional, mental...
Mas como saber que uma resposta convém a uma configuração que se apresenta pela primeira vez e que ninguém programou? (...) A realidade não estava posta, exterior a nós, mas já era resultado transitório de que fazíamos juntos...
O espaço do novo nomadismo não é o território geográfico, nem o das instituições, ou dos Estados, mas um espaço invisível de conhecimentos, saberes, potências de pensamento em que brotam e se transformam qualidades do ser, maneiras de constituir sociedade.

As hierarquias burocráticas, fundadas na escrita, as monarquias midiáticas, televisão e mundo das mídias e as redes internacionais de economia só mobilizam e coordenam parcialmente inteligência, o savoir-faire, a sabedoria e a imaginação dos seres humanos.
É por isso que a invenção de novos procedimentos de pensamento e negociação que possam fazer emergir verdadeiras inteligências coletivas se faz urgente. As tecnologias intelectuais são a zona crítica, o lugar político da mutação antropológica contemporânea.

PROGRAMA DA DISCIPLINA 2009

Conteúdo Programático referencial
Introdução: O autor e a ética da inteligência coletiva
Ética e economia da inteligência coletiva
Tecnologia da inteligência coletiva
Técnicas arcaicas (filme Guerra do Fogo)
O imaterial e o material (Vilém Flusser)
Os quatro espaços: terra, território, espaço das mercadorias e o espaço do saber
Espaço antropológico
Simbolismo e criação de lugares: o sagrado e o profano
Coreografia dos corpos angélicos: o intelecto, o inteligível e o inteligente
Projeto clássico: ordem e mimese (transtextualidade)
Relação entre projeto clássico e a origem da filosofia. Os pré-socráticos.
Semióticas e figuras de espaço
Instrumentos de navegação
Estesia, logos. Conceitos de beleza e arte. Platão e Aristóteles.
Objetos de conhecimento e Epistemologias
Leitura de texto de Vitrúvio e Alberti.
Barroco em Descartes, Leibniz, Wölfflin e Deleuze
Transformações no conceito de espaço: extensão-divisibilidade. Boullé, Ledoux, Durand.
Preparação para a disciplina estética. Visualidade x drama: Willian Shakeaspeare. A invenção da liberdade: David Hume (a teoria do gosto). Aesthetica (Baumgarten).
O criticismo. A crítica da faculdade de julgar Emanuel Kant.
O romantismo: a visão de mundo e a função da arte. Processos em arte, categorias estéticas: belo, sublime, grotesco, pinturesco em arte e em arquitetura.
Hegel: o nascimento da história da arte e o sistema das artes. Nietzsche, a oposição a Hegel.
O projeto moderno: modernidade, modernismo, movimentos modernos, funcionalismo.
As teorias artísticas em arte e arquitetura: a empatia (einfühlung), a formatividade. A crítica do formalismo: Iconologia e tipologia. A filosofia das formas simbólicas.
O momento pós-crítico: Peter Einseman critica aos fundamentos da arquitetura moderna.
A nova agenda da arquitetura: fenomenologia, pós-estruturalismo
Estética da inteligência coletiva
O design, o projetista: seus modos de ver e pensar – Flusser e Lawson
As relações entre espaços, a deriva contínua do mundo humano
Sublinhados - tópicos do livro Inteligência Coletiva.

Avaliação
Avaliação de uma série de exercícios desenvolvidos em sala de aula incluindo análises e leituras de cada tópico do conteúdo programático (em negrito).
Bibliografia referencial
Argan, Giulio Carlo. Arte e Crítica de Arte. Lisboa. Editorial Estampa, 1988
_________________. Arte Moderna. São Paulo. Companhia das Letras, 1992
_________________. História da Arte como História da Cidade. São Paulo. Martins Fontes, 1992.
BASTOS, Fernando. Panorama das Idéias Estéticas no Ocidente (De Platão a Kant). Brasília: Ed. UnB, 1987.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
_______________. Globalização, conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999
BAUDELAIRE, Charles. A Modernidade de Baudelaire. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988
CAUQUELIN, Anne. Teorias da Arte. São Paulo: Martins Fontes
CHAUI. Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994
CHOAY. Françoise. A Regra e o Modelo. São Paulo: Perspectiva.
CONSIGLIERI, Victor. As significações da Arquitetura. 1920-1990. Lisboa: Estampa, 2000
DELEUZE, Gilles. A Dobra, Leibniz e o Barroco. Campinas: Papirus, 1991.
DUARTE, Fábio. Arquitetura e tecnologias de informação da revolução industrial à revolução digital. São Paulo: FAPESP: Annablume, 1999.
DUARTE, Rodrigo. O Belo Autônomo, Textos Clássicos de Estética. Belo Horizonte: eDUFMG, 1997
FERRY, Luc. Homo Aestheticus. A Invenção do Gosto na Era Democrática. São Paulo: Ática, 1994
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac & Naify, 2007
GAUSA, Manuel. MET 1.O, Metapolis. Barcelona: Actar, 1996
GOMBRICH, Ernest. Hegel e a História da Arte In Gávea n. 5, abril, 1988
GUINSBURG, J. O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1993, 3a. ed.
HAAR, Michel. A obra de arte. Ensaio sobre a Ontologia das obras. Rio de Janeiro: Difel, 2000
HABERMAS, Jürgen. O Discurso Filosófico da Modernidade. Lisboa: Presença, 1990
KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do Juízo. Rio de Janeiro: Forense, 1993.
LAWSON, Bryam, How designers Think. Burlington, MA: Elsevier, 2005
LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 20003.
NESBIT, Kate. (org). Uma nova agenda para a arquitetura 1965-1995. São Paulo: Cosacnaify, 2006
NOVAES, Adauto. O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1989
PAIM, Gilberto. A beleza sob suspeita. O ornamento em Ruskin, Lloyd Wright, Loos, Le Corbusier e outros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed. 2000
PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens Urbanas. São Paulo: SENAC: Fapesp: Marca D’Água, 1996
PULS, Mauricio. Arquitetura e Filosofia. São Paulo: Anna Blume, 2007
STAROBINSKI, Jean. A Invenção da Liberdade, São Paulo: EdUNESP, 1994
VITRUVIO. Da Arquitetura. São Paulo: FUPAM: HUCITEC, 1999
ZEVI, Bruno. Linguagem da Arquitetura. Lisboa Dom Quixote.
http://www.estetika.blogger.com.br/

Leituras de apoio.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I São Paulo: Brasiliense, 1989
-------------------------. Obras escolhidas II, Charles Baudelaire um Lírico no auge do capitalismo, São Paulo: Brasiliense, 1991
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Felix. Mil Platos. São Paulo Ed. 34 (volumes 1 e 5).
FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
HOMERO. Odisséia / Ilíada
HESIODO. Teogonia
IRWIN, Willian. Matrix. Bem Vindo ao deserto do real. São Paulo: Madras, 2003.
LE CORBUSIER. Por uma Arquitetura. São Paulo: Perspectiva. 1989.
LE CORBUSIER. A Arte Decorativa. São Paulo: Martins Fontes, 1996
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez: Brasília: UNESCO, 2000
MAHFUZ, Edson. Nada provém do nada. Revista Projeto. (texto digitalizado)
MATURANA, Humberto R. & VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento. As bases biológicas da compreensão humana. Ed Palas Atenas, 1995.
MELLO NETTO, João Cabral. Educação pela Pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
MITTCHEL, William J. E-topia, A vida urbana- mas não como a conhecemos. São Paulo: SENAC, 2002.
NIETZSCHE, Friedrich. A origem da Tragédia no espírito da Música.
__________________. Assim Falou Zaratustra.
__________________. Gaia Ciência.
PARENTE, André (org.). Imagem-Máquina. São Paulo: Ed. 34, 1996
PLATÃO. A República. / Timeu.
VAN DER ROHE. Mies. Escritos. Fac-simile
Filmes: A Guerra do Fogo; Invasões bárbaras, Noel, Basquiat, filemes com textos de Shakeaspeare, Willian. Hamlet. / Otelo. / Romeu e Julieta/ Matrix de Andy Wachowski e Larry Wachowski.