Wednesday, April 29, 2009

Design, forma e matéria

Sumário do texto A Forma das Coisas, Uma Filosofia sobre o Design de Vilém flusser Tradução livre por Débora F. Figueiredo Bergamasco
Aluna: Lilian Dazzi Braga

Sobre a palavra Design
Para Flusser o design é objeto de análise etimológica, não começa com a ciência, nem com a apreciação de objetos fabricados ou a visão dos criadores, mas com o significado das palavras. A palavra Design em inglês é tanto um verbo (simular, desenhar, etc) como um substantivo (intenção, plano, estrutra básica).
A palavra design, máquina, tecnologia , arte, estão diretamente relacionadas e todas derivam da mesma visão de mundo. Um design está associado à esperteza e ao engano. O grego “mechos”, de máquina, significa “engano”, feito para enganar, “armadilha”. Uma máquina é uma ferramenta desenhada para enganar, a mecânica é o truque para trapacear corpos pesados.
A idéia é de que a madeira é um material sem forma ao qual o artista, o “técnico”, dá forma. Portanto causa a forma aparecer em primeiro lugar. Para Platão, a arte e a tecnologia traem e distorcem formas teoricamente intangíveis (idéias) quando transferem estas ao mundo material. Para ele, artistas e técnicos, eram traidores das idéias e trapaceiros porque espertamente seduzem pessoas a perceberem idéias distorcidas.
A cultura burguesa moderna fez uma divisão entre o mundo das artes e o da tecnologia. A cultura foi dividida em uma científica, quantitativa, “hard” e outra estética, evolutiva, “soft”. O design indica onde a arte e tecnologia se juntam como iguais, fazendo uma nova forma de cultura possível.
Entretanto, essa nova forma de cultura é enganosa. O design da alavanca copia o braço humano, é um braço artificial. Essa máquina, este design, esta arte, esta tecnologia, é feita para enganar a gravidade. Este é o design base de todas as culturas: enganar a natureza por meio de tecnologia, substituir o natural pelo artificial. O design por trás de todas as culturas tem que ser “enganador” suficiente para tornar meros mamíferos condicionados pela natureza em artistas. Ser um ser humano é um design contra a natureza.
A questão do design substitui a da idéia. Como um exemplo temos as canetas de pástico, são designes que não notasmos, e são dadas como brindes, não tem valor. As grandes idéias por tras delas são tratadas da mesma maneira que o material (plástico) e trabalho por trás delas.

Forma e Material
A palavra material, tradução do termo grego hylé, é o resultado da busca de uma palavra que expressase o oposto da palavra forma(morphe em grego). Portanto hylé é algo amorfo. O mundo material é aquele preenchido com formas, dando um enchimento. Como exemplo temos uma mesa, eu vejo madeira em forma de mesa, seu estado é transitório (será queimada e decomposta na forma amorfa de cinza). A forma da mesa é eterna, uma vez que eu posso imagina-la a qualquer tempo em qualquer lugar. A forma da mesa é real, e o conteúdo é apenas aparente. Os carpinteiros enformam a madeira (impõem a forma de mesa) e também deformam a idéia de mesa (distorcem ela na madeira).
Se a forma é o oposto da matéria, então não existe design que possa ser chamado de material. É sempre “enformar”, colocar em uma forma. A forma é o “como” da matéria e “matéria é o “que” da forma, o design é um dos métodos de dar forma à matéria. Uma vez o material enformado começa a aparecer (se torna fenômeno). Portanto material é design, é a forma como a forma aparece.
A questão atual é a de realizar as formas designadas para produzir mundos alternativos, para a “era da informação”. Não é mais uma questão de formalizar um mundo conhecido e garantido, como no passado. Isso significa a cultura “imaterial, mas deveria ser chamada de materialização da cultura, a visibilidade das formas e idéias.
O ponto central é o conceito de enformar. Impor formas aos materiais. O que quer que “material” possa significar, não significa o oposto de “imaterial” ou melhor, a a forma, é que faz o material aparecer. A aparência do material é a forma.

Tuesday, April 28, 2009

Os Quatro espaços (cap. 7)

A Inteligência Coletiva LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo Loyola, 2003.
Leituras pelo grupo: Conrado Carvalho, Deyvid Preato de Paula, Julia Ferolla Falqueto, Kamila Drago Bona, Lívia Delboni Lemos, Minieli Fim, Stella Brunoro Hoppe e Tatiana Virgilio Pereira

Os Quatro espaços
A terra
A terra, a grande terra nômade, foi o primeiro espaço ocupado pela humanidade. Nossa espécie produziu a terra elaborando o mundo como tal. A terra é o mundo das significações. A humanidade inventou a si própria, desenvolvendo a terra. A terra é o espaço-tempo imemorial ao qual não se pode atribuir origem. É o espaço "desde sempre presente" da espécie, que contém e supera o começo, o desdobramento e o futuro do mundo humano.
A terra é um cosmo, em que os seres humanos estão em comunicação com os animais, plantas, paisagens, lugares e espíritos. É o lugar das metamorfoses. O humano vive sobre uma terra que ele elabora e reelabora constantemente por meio de suas linguagens, ferramentas e edifícios sociais complicados e sutis.
A revolução Neolítica não suprimiu a grande terra nômade e selvagem. Atravessando as fronteiras das identidades, o coração da terra ainda canta sua louca canção de sonho e de vida, que mantém a existência do mundo.
O território
Difunde-se sobre a terra como um segundo espaço antropológico -A domesticação e criação de animais, a agricultura, o estado, a cidade, a escrita, uma estrita divisão social do trabalho -um novo mundo se estabelece: O mundo sedentário da "civilização".
A agricultura, a cidade, o estado ou a escrita são daí por diante virtualidades inerentes a humanidade que contribuem para quadricular o território. A figura emblemática do primeiro espaço poderia ser um caçador do paleolítico. Já para o território teríamos uma grande pirâmide cobrindo com sua sombra todo o povo de felás, de artesãos, de escribas e também de soldados, todos ali dominando campos de cevada e trigo, canais de irrigação, e de cidade, com seus lugares, ruas, córregos, templos, estátuas e muros.
O território trabalha para recobrir a terra nômade, diminuir as margens, instaura com a terra uma relação de depredação e destruição. A terra volta sempre -Conflito dos espaços.
Até a Segunda Guerra a maior parte da humanidade, camponesa, viveu no território.
O Espaço das mercadorias
Em meio às fumaças da Revolução Industrial, no século XVII, que se abre o Espaço das mercadorias -uma espécie de novo mundo tecido pela circulação contínua, cada vez mais intensa, cada vez mais rápida, do dinheiro. Esse mundo flutuante, disperso e inconsistente só atinge a superfície e as margens da vida social. Mas consegue reunir os membros dispersos. Esse novo mundo acaba crescendo sozinho. Atravessando as fronteiras, abalando as hierarquias do Território -rapidez imóvel.
O capitalismo transforma em mercadoria tudo o que consegue incluir em seus circuitos. O Espaço das mercadorias organiza os espaços anteriores segundo seus próprios objetivos. O capitalismo é “desterritorializante”, e foi durante três séculos o motor principal da evolução das sociedades humanas. O capitalismo é irreversível. É daqui por diante a economia, e a institui como dimensão impossível de ser eliminada da existência humana.
Sempre haverá o Espaço das mercadorias, como sempre haverá a Terra e o Território.
Que movimentos ainda mais rápidos, mais envolventes que os da economia desterritorializarão a desterritorialização? Eis que a camada mercantil sofre um furo, abrindo para outro espaço.
O Espaço do saber
Espaço do saber não existe. Não se realiza em parte alguma, é virtual. Na expectativa de nascer já está presente, mas dissimulado, disperso, travestido, mesclado.
Espaço do saber não se trata apenas do conhecimento científico – recente, raro e limitado -mas daquele que qualifica a espécie. Cada vez que um ser humano organiza ou reorganiza sua relação consigo mesmo, com seus semelhantes, com as coisas, com os signos, com o cosmo, ele se envolve em uma atividade de conhecimento e de aprendizado.
É sem fronteiras de relações e de qualidades. Os intelectuais coletivos inventam línguas mutantes, constroem universos virtuais, ciberespaços em que buscam formas inéditas de comunicação. O quarto espaço não existe, no sentido de que ainda não adquiriu autonomia. Mas desde o advento de sua virtualidade sempre existiu.
Nenhum grande entardecer fará surgir o espaço do saber, mas muitas pequenas manhãs.

Tuesday, April 21, 2009

Cibercultura

Cibercultura. LÉVY, P. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999.
Cibercultura? Mas, o que é isso? A interconexão mundial de computadores forma a grande rede, mas cada nó dela é fonte de heterogeneidade e diversidade de assuntos, abordagens e discussões, em permanente renovação.
"A hipótese que levanto é a de que a cibercultura leva a copresença das mensagens de volta a seu contexto como ocorria nas sociedades orais, mas em outra escala, em uma órbita completamente diferente. A nova universalidade não depende mais da auto-suficiência dos textos, de uma fixação e de uma independência das significações. Ela se constrói e se estende por meio da interconexão das mensagens entre si, por meio de sua vinculação permanente com as comunidades virtuais em criação, que lhe dão sentidos variados em uma renovação permanente." (p.15).

A cibercultura é um problema a resolver
1. Lévy mostra que as tecnologias não determinam, mas condicionam as mudanças à medida que criam as condições para que elas ocorram. Além disso, aborda o movimento social que deu origem ao ciberespaço – a experimentação de novas formas de comunicação, depois cooptado pelos interesses da indústria, e as grandes tendências de evolução técnicas no que se refere a interfaces e a tratamento, memória e transmissão das informações.
2. As implicações culturais do desenvolvimento do ciberespaço: Lévy contempla essencialmente três temas: as artes, o saber e a cidadania. As mutações nas formas de ensinar e aprender. O futuro papel do professor não será mais o de difusor de saberes, diz, mas o de “animador da inteligência coletiva” dos estudantes, estimulando-os a trocar seus conhecimentos.
3. Com o advento do ciberespaço, o compartilhamento de memória permite aumentar o potencial da inteligência coletiva. O saber, agora codificado em bases de dados acessíveis on-line, é um fluxo ininterrupto e grande escala.
Ciberespaço
"O ciberespaço (que também chamarei de "rede") é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo "cibercultura", especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço." (p.17).

"Um mundo virtual, no sentido amplo, é um universo de possíveis, calculáveis a partir de um modelo digital. Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer ou modificar o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação coletivas." (p.75).

Capítulo 3 Do molar ao molecular

Capítulo 3 Do molar ao molecular: tecnologia da inteligência coletiva (pp 47-58).
LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 2003.

“Nada é mais precioso do que o humano. Ele é a fonte das outras riquezas, critério e portador vivo de todo o valor.”
A evolução das técnicas, especialmente das técnicas da comunicação, renova profundamente o leque de soluções possíveis aos problemas de gestão do laço social e da maximilização das qualidades humanas. A novidade da engenharia do laço social reside antes nas finalidades e nas modalidades dessa engenharia.
Em oposição as tecnologias molares que consideram as coisas no atacado, em massa, as cegas, de maneira entrópica, as tecnologias moleculares abordam de maneira bem precisa os objetos e os processos que elas controlam (LÉVY, p. 48). As técnicas moleculares reduzem os desperdícios e as rejeições ao mínimo.

Vida
Lévy se refere as duas seleções a natural – a que a vida aplica a si mesma, e a artificial finaliza e acelera a formação de espécies (...).

Matéria
Podem-se classificar as técnicas para domínio da matéria em três grandes categorias: mecânicas, quentes e frias.
As tecnologias controlam o ponto de apoio de aplicação das forças humanas, animais ou naturais (ferramentas, armas, instrumentos, arados, velas, etc), a transmissão dessas forças (rodas, polias, árvores, engrenagens etc) e a reunião simples de materiais (nós, tecidos, arquitetura primitiva etc).
Lévy se refere aos desenvolvimentos também como o cruzamento da física, da química e das ciências materiais, que junto à nanotecnologia poderão acarretar imensos questionamentos econômicos, sociais e culturais...

Informação
As técnicas de controle das mensagens podem ser classificadas em três grupos principais: somáticas, midiáticas e digitais. As técnicas somáticas implicam a presença efetiva, o engajamento, a energia e a sensibilidade do corpo para a produção de signos.
As tecnologias midiáticas são molares, fixam e reproduzem mensagens a fim de assegurar maior alcance, melhor difusão no tempo e no espaço. A mídia propriamente dita aos meios de comunicação de massa se dá com técnicas de reprodução dos signos e marcas: selos, carimbos, moldagem, cunhagem de moedas (protomídias). Da escrita à difusão em massa de escrita e sons, graças à fotografia, à gravação sonora, ao telefone, ao cinema, ao rádio e à televisão.
As mídias fixam, reproduzem e transportam as mensagens em uma escala que os meios somáticos jamais poderiam atingir. Mas, ao fazê-lo descontextualizam essas mensagens e fazem-nas perder sua capacidade original de adaptar-se às situações nas quais eram emitidas por seres vivos. (...) (LÉVY, p. 52).
Pierre Lévy, nesta parte do capítulo 3, segue uma análise sobre as mídias... que vale a pena ler-ver p.53-54 do livro Inteligência Coletiva.

Coletivos humanos
As famílias, clãs e as tribos são grupos sociais orgânicos. Os Estados, as Igrejas, as grandes empresas, assim como as massas são grupos organizados molares, que passam por uma transcendência ou exterioridade para se constituir e se manter. Os grupos moleculares são auto-organizados.
Nos grupos orgânicos as regras, os códigos, as tradições são fixados e carregados pela própria comunidade constituída como corpo. As tecnologias da transcendência se colocam com a formação de grupos populacionais numerosos, os líderes, os chefes, reis e representantes unificam e polarizam o espaço coletivo. As instituições configuram um tempo contínuo. A burocracia torna-se seu órgão separado de gestão e tratamento da informação. Há divisão estrita de trabalho e ruptura entre execução e concepção para “melhor” coordenação das atividades. A transcendência e a segregação são tecnologias molares, as mudanças se efetuam de maneira custosa, brutal até catastrófica: golpes de estado, motins, revoluções, revoltas.
A política molecular os grupos não estão para serem forças a explorar são inteligências coletivas que elaboram e reelaboram seus projetos, recursos e refinam suas competências. Esta política é “fina” e não quer modelar o coletivo segundo um plano pré-estabelecido. Ela suscita um laço social imanente, emergindo da relação de cada um com todos (p 56-57).
A multiplicação dos coletivos moleculares supõe um declínio relativo da mídia em proveito do ciberespaço acolhedor das inteligências coletivas.
Sem hierarquias as comunicações seriam transversais, recíprocas, fora de categorias, e as cidades seriam um grande tecido metamórfico, “cidades calmas”.

Monday, April 20, 2009

Redes sociais, redes urbanas e outras

Rede - Anne Cauquelin in Arte Contemporânea
Características das redes: É um conjunto extensível e auto-organizável. Elas repercutem-se umas sobre outras. A noção de sujeito comunicante se apaga em proveito da produção global de comunicações. A anelação ou autonomia em relação a outros sistemas, estruturas. Nominação ou prevalência do continente (a rede prevalece sobre o conteúdo). Redundância ou saturação, quer dizer, na rede pode haver a construção de uma realidade de segundo grau, simulação.

Redes sócio-culturais: Rede é o próprio tecido da sociedade
Distinguir redes alternativas e as pirâmides disfarçadas com base nos autores: Deleuze, Guattari, Mendel, Castels
Redes são tecidos sociais que se formam a partir do estabelecimento de relações entre entes independentes, mobilizados por uma questão ou objetivos comuns que, de alguma forma, concorra para os objetivos específicos de cada ente (Inojosa, 2001). Esta definição enfatiza ou privilegia a comunicação ou relação entre pessoas e o objetivo compartilhado. Manuel Castells se encaminha para a mesma ênfase na conexão, para ele rede é um conjunto de nós interconectados...
INOJOSA, Rose Marie. Redes de Compromisso Social. In: Revista de Administração Pública - RAP. Rio de Janeiro: FGV,33 (5),set./out.1999: 115-141.

As formações sócio-espaciais são constituídas como dois tipos de espaço os espaços dos lugares e espaços dos fluxos segundo Manuel Castells. Assim o espaço social é compreendido dos processos que operam em um lugar específico que o distinguem e, talvez, fornecer-lhe uma identidade, e pelos processos que são operados através dos lugares poder criar uma formação social coerente em relação às conexões. Estes dois jogos de processos não são exclusivos operam-se simultaneamente para produzir resultados espaciais em “pacotes” sociais complexos. Não obstante é analiticamente útil distingui-los.
Os espaços são criados por práticas sociais. Assim não são universais, eles são sempre historicamente específicos. Os espaços tornam-se socialmente importantes quando são constituídos por práticas sociais inumeráveis. Neste ponto definem uma espacialidade material de vida. Todas as espacialidades são produtos de agentes sociais que operam como os fabricantes dos espaços. Há fabricantes dos espaços de lugares que criam mundos de identidades ' locais ', e há fabricantes dos espaços dos fluxos que criam mundos das conexões. Com estas práticas sociais e suas espacialidades, são os dados formais da coexistência entre os espaços dos lugares e os espaços dos fluxos.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em redes. Tradução: Klaus Brandini Gerhrdt. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2000.


Redes são articulações entre diversas unidades que, através de certas ligações, trocam elementos entre si, fortalecendo-se reciprocamente, e que podem se multiplicar em novas unidades, as quais, por sua vez, fortalecem todo o conjunto na medida em que são fortalecidas por ele, permitindo-lhe expandir-se em novas unidades ou manter-se em equilíbrio sustentável. Cada nódulo da rede representa uma unidade e cada fio um canal por onde essas unidades se articulam através de diversos fluxos (...). MANCE, Euclides André. A Revolução das Redes. São Paulo, Ed. Vozes,2000.


Hipertexto e redes in "As Tecnologias da Inteligência" de Pierre Lévy:
"A fim de preservar as possibilidades de múltiplas interpretações do modelo de hipertexto, propomos caracterizá-lo através de seis princípios abstratos:
Princípio da metamorfose: A rede hipertextual está em constante construção e renegociação. Ela pode permanecer estável durante certo tempo, mas esta estabilidade é em si mesma fruto de um trabalho. Sua extensão, sua composição e seu desenho estão permanentemente em jogo para os atores envolvidos, sejam eles humanos, palavras, imagens, traços de imagens ou de contexto, objetos técnicos, componentes desses objetos etc.
Princípio da heterogeneidade: Os nós e as conexões de uma rede hipertextual são heterogêneos. Na memória serão encontradas imagens, sons, palavras, diversas sensações, modelos etc, e as conexões serão lógicas, afetivas, etc. Na comunicação, as mensagens serão multimídias, multimodais, analógicas, digitais, etc. O processo sociotécnico colocará em jogo pessoas, grupos, artefatos, forças naturais de todos os tamanhos, com todos os tipos de associações que pudermos imaginar entre esses elementos.
Princípio de multiplicidade ou encaixe de escalas: O hipertexto se organiza de modo "fractal ", ou seja, qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode revelar-se como sendo composto por toda uma rede, e assim por diante, indefinidamente, ao longo da escala dos graus de precisão. Em algumas circunstancias críticas, há efeitos que podem propagar-se de uma escala a outra: a interpretação de uma vírgula em um texto ( elemento de uma microrrede de documentos ), caso se trate de um tratado internacional, pode repercutir na vida de milhões de pessoas ( na escala da macrorrede social ) .
Princípio de exterioridade: A rede não possui unidade orgânica, nem motor interno. Seu crescimento e sua diminuição, sua composição e sua recomposição permanente dependem de um exterior indeterminado: adição de novos elementos, conexões com outras redes, excitação de elementos terminais ( captadores ), etc. Por exemplo, para a rede semântica de uma pessoa escutando um discurso, a dinâmica dos estados de ativação resulta de uma fonte externa de palavras e imagens. Na constituição da rede sociotécnica intervêm o tempo todo elementos novos que não lhe pertenciam no instante anterior: elétrons, micróbios, raios X, macromoléculas, etc.
Princípio de topologia: Nos hipertextos, tudo funciona por proximidade, por vizinhança. Neles, o curso dos acontecimentos é uma questão de topologia, de caminhos. Não há espaço universal homogêneo onde haja forças de ligação e separação, onde as mensagens poderiam circular livremente. Tudo que se desloca deve utilizar-se da rede hipertextual tal como ela se encontra, ou então será obrigado a modificá-la. A rede não está no espaço, ela é o espaço.
Princípio de mobilidade dos centros: A rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos centros que são como pontas luminosas perpetuamente móveis, saltando de um nó ao outro, trazendo ao redor de si uma ramificação infinita de pequenas raízes, de rizomas, finas linhas brancas esboçando por um instante um mapa qualquer com detalhes delicados, e depois correndo para desenhar mais à frente outras paisagens de sentido."(Lévy, P, 1993, p 25-26) .

Nova gramática espacial no mundo das redes. In. GaWC Research Bulletin 117 (Z) : 'Place as Network' (R.G. Smith).

Sunday, April 19, 2009

Capítulo 2: As qualidades humanas. Economia da inteligência coletiva

“A inteligência Coletiva” de Pierre Lévi
Fichamento do aluno: Maikon Côco; profa. Clara (inserções do livro de Lévy)
Este capítulo trata das leis da economia aplicadas às relações sociais, uma vez que as relações comerciais dependem obrigatoriamente das relações humanas. Forma-se uma rede de contatos sociais e quanto mais ampla e forte essa rede for, mais chances de gerar capital, porém fatores antiéticos tais como corrupção e máfia, além da desterritorialização gerada pela instabilidade do sistema geopolítico e tecnológico interferem no bom funcionamento dessa rede.

“O que acontece quando se mecanizou a agricultura, a indústria e as operações que giram em torno das mensagens? A economia girará – como já faz – em torno do que jamais se automatizará completamente, em torno do irredutível¨a produção do laço social, o “relacional”.” (LÉVY, p. 41). É necessário mobilizar a subjetividade dos indivíduos.

Como a economia está ligada à relação social, há a necessidade de se investir nas qualificações profissionais que permitam lidar com as pessoas, em todas as necessidades delas, que são o produto final da engenharia do laço social, contratante/contratado, comerciante/cliente, servidor público/população, etc.

“As necessidades econômicas se associam a exigência ética. Mas não é a única razão que nos faz invocar uma economia das qualidades humanas”. (LÉVY, p. 42).
“O problema da engenharia do laço social é inventar e manter os modos de regulação de um liberalismo generalizado”, ampliado, produtor e solicitador. Os mercados e os contextos seriam variados, neste “liberalismo” ninguém poderia se apropriar dos meios de produção dos quais outros seriam provados. (p. 43)
Enfim, o proletariado da economia da qualidade humana promove a inteligência coletiva e trabalha com massas humanas, os que fizerem isso terão sucesso, é importante que ele saiba viver e agir coletivamente, porém mantém sua identidade como indivíduo sem se rotular em uma categoria.
“A serviço da liberdade não são necessários meios que reforcem a autonomia e aumentem a potência dos que dela se servem, em vez de habituá-la a dependência? É por isso que a transmissão, a educação, a integração, a reorganização do laço social deverão deixar de ser atividades separadas. Devem realizar-se do todo da sociedade para si mesma...” (p. 45).

Capítulo 1: Os justos. Ética da inteligência coletiva

“A inteligência Coletiva” de Pierre Lévi
Fichamento CAP. 1 do aluno: Maikon Côco;

Este capítulo faz uma análise laica dos capítulos bíblicos 18 e 19 de Gênesis, em que Abraão estabelece o primeiro relato sobre a engenharia do laço social ao mediar com Deus o destino de uma população injusta por meio de um grupo de pessoas justas. Tal grupo teria que ter um número mínimo de dez pessoas para caracterizar uma força coletiva.
Na ocasião foi encontrada apenas a família de Lot justa ao receber e proteger estrangeiros (anjos disfarçados) da população promiscua. Encontrou-se então a quantidade de justos, uma família, e a quantidade de injustos, o resto da população, para isso houve a necessidade pesquisa apurada e in-locu, pois a presença dos justos não era evidenciada devido à grande quantidade de injustos.
A discussão está em torno da empatia e hospitalidade, já que a população de Sodoma foi separada como injusta por não interagir socialmente com os “estrangeiros”, ao invés disso queriam abusar deles e usando de força bruta e poder para destruir relações sociais. Enquanto os justos têm a capacidade de criar coletivos humanos ao manter comunidades existindo que é o valor relacionado ao comportamento dos justos em todas as suas variações dado em potência.
Lévy também distingue as palavras potência e poder (ação molar, aser tratado no cap. 3).
A POTÊNCIA É FÍSICA, MORAL, INTELECTUAL, SENSUAL OU DE OUTRA NATUREZA.
O PODER VISA LIMITAR A POTÊNCIA.
O ser e a potência contribuem para a produção e manutenção (gestão ver a palavra ação abaixo) de tudo que povoa o mundo humano.

Etimologia da palavra hospitalidade:
O vocábulo deriva do lat. hospes, -itis, designando tanto o anfitrião, aquele que recepciona o convidado, quanto o convidado, o visitante. Antigamente, também em português, hóspede era tanto a pessoa que oferecia hospedagem como a que recebia tal hospedagem. Significa também estrangeiro, pessoa que vem de outras terras.
Hospes deriva da raiz pa (alimentar), assim como pasco (alimentar, suprir com alimento, pastar os animais), pabulum (alimento, nutrição, pasto), Pales (a divindade tutelar dos pastores e criadores de gado), panis (pão), pastor (pastor, de gado ou de almas), pater (pai).
A etimologia da palavra "Hospedagem" remete ao latim "hospitium,ii", que, segundo Cícero, nobre historiador romano, significa "hospitalidade (dada ou recebida); hospedagem". E "Hospitalidade", também, proveniente do latim "hospitalitas, atis", em Cícero "De Oficiis" tem o significado de "hospitalidade, o ato de oferecer bom tratamento a quem se dá ou recebe hospedagem". Daí, "Hospital", local onde se recebe e se dá hospedagem, que, separando-se dos albergues e asilos, permaneceu como instituição exclusiva para atender aos doentes.
Ação segundo Hannah Arendt
O verbo agir nas línguas clássicas, em grego há duas palavras para agir, árkhein: começar, conduzir e governar, e prattein: levar a cabo alguma coisa. Os verbos latinos correspondentes são agere: por alguma coisa em movimento, e gerere: que exprime a constinuação permanente e sustentadora de atos passados cujos resultados são atos e eventos chamados históricos. Hannah Arendt, 1973
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1973

Etimologia da palavra. Economia

O espaço doméstico é o da casa, que não se refere apenas a um edifício destinado à habitação, uma morada e suas dependências. O termo comporta toda uma dimensão diferencial e simbólica. O viver com (conviver), o comer na mesma mesa, para os gregos antigos, ocorria na oiko (casa) dirigida por regras, normas da casa, do lugar ‑ nomia. Oikós (de onde deriva economia) significa a “arte de administrar a casa”, as propriedades de terra, os recursos materiais, e também as relações matrimoniais, paternas, maternas.
Para os gregos oikomonia diz respeito à gestão do domínio familiar, do oikos, mas pode também significar ‘gestão’, ‘administração’, ‘organização’ em um sentido mais geral e compreender ainda o âmbito da cidade, sendo possível falar-se em oikomonia dos negócios da cidade; neste caso, contudo, o sentido ainda afasta-se do moderno. Com este último sentido, não há, entre os autores gregos, um efetivo estudo sobre a economia, nem mesmo uma história da economia, já que eles não a consideravam uma categoria autônoma; a economia estava integrada na sociedade, era parte de um determinado arranjo social e político.
O termo economia foi definido por Aristóteles como oiko (casa, lugar) e nomia (regras, normas da casa, do lugar). A “casa” representa o espaço privado de produção e reprodução, relegada historicamente a atuação das mulheres, espaço para o seu trabalho invisível. Seguindo essa perspectiva, poder-se-ia pensar que a ciência econômica deveria considerar como base primeira para seus estudos o trabalho desenvolvido pelas mulheres, bem como seu espaço e meios.
Entretanto, pelo menos desde o início da Revolução Industrial, a ciência econômica pautou sua abordagem a partir da esfera da produção voltada para o mercado, para a produção de valores de troca, ou seja, para tudo aquilo que poderia ser comercializado de forma monetária.


Referencias
A vida comum, espaço, cotidiano e cidade na Atenas clássica. Marta Mega de Andrade. FAPERJ: DP&A Editora.

Xenofonte – Elementos para um Novo perfil de Alessandra Carbonero Lima. CEMOrOC-Feusp / IJI-Universidade do Porto 2008
Economia Feminista e Economia Solidária. Por um outro mundo possível Por Analine Specht.
LIRA, José tavares Correia de. Sobre o conceito de casa ou como ver o objeto por excelência do arquiteto sem sair de casa. São Paulo. Revista Caramelo, FAUUSP, N. 5. s. d.

A Inteligência Coletiva. Introdução

LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 2003.
(ficha da Profa. Clara)

Introdução do livro
Economia
Da capacidade de navegar no espaço do saber e de sua gestão ótima dependerá a prosperidade coletiva, tudo deriva de uma relação ética com o outro.
Nossa relação material com o mundo se mantém por meio de uma formidável infra-estrutura espistêmica e de software: instituições de educação e formação, circuitos de comunicação, tecnologias intelectuais com apoio digital, atualização e difusão contínua do savoior-faire... tudo repousa a longo prazo na flexibilidade e vitalidade de nossas redes de produção, comércio e troca de saberes.
Pierre Lévy descreve a transformação da economia, focalizando a transição da terceirização da economia. Setor que está cada vez mais invadido por objetos técnicos, que se industrializa. Por sua vez a industria de “concebe” cada vez mais como atividade de serviço. As empresas procuram se ligar (todo o tempo) às redes de inovação, ligações que se fazem transversalmente com a sociedade e outras empresas.
O saber se torna a nova infra-estrutura (Michel Serres citado por Lévy, p. 20).
Pierre Lévy diz que quanto melhor o grupo humano melhor ele consegue se constituir em coletivo inteligente. Assim o totalitarismo fracassa por suas características de centralização de poder, por sua planificação burocrática (hierarquizada, controlada). Aspectos que se mostraram incapazes de seguir as transformações das novas técnicas e organização do trabalho. O totalitarismo é incapaz de inteligência coletiva.
Pierre Lévy se mostra crente na interpenetração entre lazer, cultura e trabalho, crê que isso baixará por capilaridade a todas as camadas da sociedade. O puro econômico e a mera eficácia perdem a eficiência, pois, o engajamento subjetivo remetido a vida, a ética a cidade são solicitados a todo instante.
Já que condiciona todas as outras, a produção contínua de subjetividade será provavelmente considerada, a principal atividade econômica (a ser tratada no cap. 2 do livro).
A capacidade de formar e reformar rapidamente coletivos inteligentes irá se tornar uma arma decisiva nos núcleos de conhecimento específico.
Uma questão que se coloca para os arquitetos inclusive...

Discussão paralela:
Problemas
Peter Pal Pelbart diz: «Uma economia imaterial que produz sobretudo informação, imagens, serviços, não pode basear-se na força física, no trabalho mecânico, na automatismo burro, na solidão compartimentada. São requisitados dos trabalhadores sua inteligência, sua imaginação, sua criatividade, sua conectividade, sua afetividade ‑ toda uma dimensão subjetiva e extra-econômica antes relegada ao domínio exclusivamente pessoal e privado, no máximo artístico. Como o diz Toni Negri, agora é a alma do trabalhador que é posta a trabalhar, não mais o corpo, que apenas lhe serve de suporte.”
Ver artigo de Peter Pal Pelbart, “Biopolítica e biopotência no coração do império»: http://contrun.noblogs.org/post/2008/04/11/biopol-tica-e-biopot-ncia-no-cora-o-do-imp-rio-peter-pal-pelbart


Antropologia
Pierre Lévy coloca a hipótese de 4 espaços: terra, território, espaço mercantil e um novo espaço antropológico, o espaço do saber.
O que é um espaço antropológico? É um sistema de proximidade (espaço) próprio do mundo humano (antropológico), e portanto dependente de técnicas, de significações, da linguagem, da cultura, das convenções, da representações e das emoções humanas.
Terra. Neste espaço a relação com o cosmo constitui o ponto central deste espaço tanto no plano imaginário (totemismo, animismo) quanto no plano prático de sua relação de contato com natureza. Este vínculo com o cosmo e na relação de filiação ou de aliança com outros homens. O nome é a inscrição simbólica de uma linhagem.
Território é uma invenção a partir do neolítico com a agricultura, a cidade, o Estado e a escrita. O território não suprime a terra nômade, mas tenta sedentarizá-la, domesticá-la. Aqui começa o desenvolvimento do conhecimento, a história, os saberes de tipo: sistemático, teórico e hermenêutico.
O centro da existência passa ser a uma entidade territorial (pertença, propriedade) definida por limites e fronteiras. Nosso endereço é nossa identidade no território dos sedentários e contribuintes. As instituições com as quais lidamos são igualmente territórios com suas hierarquias, burocracias, sistemas de regras, fronteiras, lógicas de pertença ou exclusão.
O espaço mercantil, seu princípio organizador é o fluxo: de energia, de matérias-primas, de mercadorias, capitais, de mão de obra, informações. É um movimento de desterritorialização que não suprime o território mas subverte-o, subordina-o aos fluxos econômicos. O espaço mercantil supera os demais em velocidade, que é o motor de sua evolução. A riqueza não provém do controle das fronteiras, mas do controle dos fluxos. A ciência experimental moderna é o modo de conhecimento típico do novo espaço de fluxos. Cada vez mais cede lugar a tecnociência movida pela dinâmica permanente da pesquisa e inovação. A identidade aqui é a participação da produção e das trocas econômicas, é definida pelo emprego, pela profissão. Estes dois definem a posição no espaço mercantil.


A imagem acima do livro 3 estabelecimentos humanos de Le Corbusier representa uma "leitura" e modelização para intervenção no espaço de fluxos mercantil: o centro industrial, a cidade radiocênctrica e o dispositivo das estradas.

Discussão paralela:
Conceito de território em Feliz Guattari e Sueli Rolnik
“O território pode ser relativo tanto a um espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio da qual um sujeito se sente “em casa”. O território é sinônimo de apropriação, de subjetivação fechada sobre si mesma. Ele é o conjunto de projetos e representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos” (GUATTARI e ROLNIK,Cartografias do Desejo).
O território pode se desterritorializar, isto é, abrir-se, engajar-se em linhas de fuga e até sair do seu curso e se destruir. A espécie. humana está mergulhada num imenso movimento de desterritorialização, no sentido de que seus territórios “originais” se desfazem ininterruptamente com a divisão social do trabalho, com a ação dos deuses universais que ultrapassam os quadros da tribo e da etnia, ... (GUATTARI e ROLNIK).

Espaço do saber, malpercebido, incompleto. Este novo horizonte deve-se a velocidade de evolução dos sberes, a massa de pessoas convocadas a a prender e produzir novos conhecimentos, e ao surgimento de novas ferramentas – a do ciberespaço – por trás do “nevoeiro” informacional, paisagens inéditas, distintas, identidades singulares, enfim novas figuras sócio-históricas que se constituem indícios da era, do novo espaço antropológico:
A velocidade, jamais a evolução das ciências, das técnicas foi tão rápida.
A massa tornou-se impossível reservar o conheimento para a classe de especialistas. O conjunto coletivo deve aprender e inventar...
As ferramentas os intrumentos que dispomos são reduzidos para filtrar a informação pertinente, discernir significações...
Os conhecimentos vivos, so savoir-faire e competências dos seres estão prestes a ser reconhecidos como a fonte de todas as riquezas...

Laço social relação com o saber
Os dois eixos complementares para organização do “futuro”: a renovação do laço social por intermédio do conhecimento e o da inteligência coletiva propriamente dita.

O QUE É INTELIGÊNCIA COLETIVA?
A Inteligência Coletiva é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências.
A inteligência coletiva tem início com a cultura.
Pierre Lévy, “a inteligência coletiva desenvolve-se à medida que a linguagem evolui”. Com a divulgação das idéias através dos discursos e da escrita houve a disseminação do conhecimento. A inteligência coletiva pode ser dividida em inteligência técnica, conceitual e emocional.
A inteligência técnica se realiza através do mundo concreto e dos objetos, como a engenharia.
A inteligência conceitual se relaciona ao conhecimento abstrato e não ocorre sobre a materialidade física, como as artes e a matemática.
A inteligência emocional concebe a relação entre os seres humanos, confiança e sinceridade que a envolve, e se vincula ao direito, a ética e a moral.
Atualmente as idéias são o capital mais importante.
A questão não é mais “conhece-te a ti mesmo” mas aprendamos a nos conhecer para pensar juntos”. Não é mais penso logo existo, cogito cartesiano é ampliadi para cogitamus.
Pierre Lévy considera que, através da cooperação intelectual a criação coletiva de idéias se dá fundamentalmente pela internet e mais particularmente pelo ciberespaço. A conexão cada vez mais ativa entre os indivíduos verdadeiramente colabora para ações coletivas.
A produção dos capitais mais importantes está alicerçada e só pode ser alcançada quando as pessoas pensam em conjunto. Quando isso acontece produzimos três capitais:
O técnico, que vai dar suporte estrutural à edificação das idéias e pode ser explicado pelas estradas, prédio, meios de comunicação (coisa);
O cultural, mais abstrato, constituído pelo conhecimento reservado em enciclopédias, livros e na World Wide Web (signo);
O social, que representa o vínculo entre as pessoas e a cooperação e colaboração entre elas (cognição).
O capital intelectual é criado pelos capitais técnico, cultural e social. Destacando que o capital intelectual é representado por idéias idealizadas e disseminadas pela população e que, veiculadas, passam ao campo público. O capital intelectual é o cerne de toda a inteligência coletiva.

Saturday, April 18, 2009

A Inteligência Coletiva. Prólogo o Planeta nômade

LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 2003.

O Planeta nômade
O atual curso dos acontecimentos converge para a constituição de um novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho paras as sociedades humanas.
A cultura em rede ainda não está estabelecida. A forma e o conteúdo do ciberespaço ainda são especialmente indeterminados. Não existe nenhum determinismo tecnológico ou econômico simples em relação a este assunto. Escolhas políticas e culturais abrem-se diante dos governos, dos cidadãos, dos garndes agentes econômicos.
Não se trata apenas de raciocinar em termos de impacto, mas também em termos de projeto. Com que objetivo queremos desenvolver as redes digitais de comunicação interativa?

O desenvolvimento dos novos instrumentos de comunicação inscreve-se em uma mutação de grande alcance, à qual ela impulsiona, mas que o ultrapassa. Numa palavra diz Pierre Lévy: voltamos a ser nômades. O que isso significa.
O nomadismo dessa época se refere a transformação contínua e rápida das “paisagens” cientifica, técnica, econômica, profissional, mental...
Mas como saber que uma resposta convém a uma configuração que se apresenta pela primeira vez e que ninguém programou? (...) A realidade não estava posta, exterior a nós, mas já era resultado transitório de que fazíamos juntos...
O espaço do novo nomadismo não é o território geográfico, nem o das instituições, ou dos Estados, mas um espaço invisível de conhecimentos, saberes, potências de pensamento em que brotam e se transformam qualidades do ser, maneiras de constituir sociedade.

As hierarquias burocráticas, fundadas na escrita, as monarquias midiáticas, televisão e mundo das mídias e as redes internacionais de economia só mobilizam e coordenam parcialmente inteligência, o savoir-faire, a sabedoria e a imaginação dos seres humanos.
É por isso que a invenção de novos procedimentos de pensamento e negociação que possam fazer emergir verdadeiras inteligências coletivas se faz urgente. As tecnologias intelectuais são a zona crítica, o lugar político da mutação antropológica contemporânea.

PROGRAMA DA DISCIPLINA 2009

Conteúdo Programático referencial
Introdução: O autor e a ética da inteligência coletiva
Ética e economia da inteligência coletiva
Tecnologia da inteligência coletiva
Técnicas arcaicas (filme Guerra do Fogo)
O imaterial e o material (Vilém Flusser)
Os quatro espaços: terra, território, espaço das mercadorias e o espaço do saber
Espaço antropológico
Simbolismo e criação de lugares: o sagrado e o profano
Coreografia dos corpos angélicos: o intelecto, o inteligível e o inteligente
Projeto clássico: ordem e mimese (transtextualidade)
Relação entre projeto clássico e a origem da filosofia. Os pré-socráticos.
Semióticas e figuras de espaço
Instrumentos de navegação
Estesia, logos. Conceitos de beleza e arte. Platão e Aristóteles.
Objetos de conhecimento e Epistemologias
Leitura de texto de Vitrúvio e Alberti.
Barroco em Descartes, Leibniz, Wölfflin e Deleuze
Transformações no conceito de espaço: extensão-divisibilidade. Boullé, Ledoux, Durand.
Preparação para a disciplina estética. Visualidade x drama: Willian Shakeaspeare. A invenção da liberdade: David Hume (a teoria do gosto). Aesthetica (Baumgarten).
O criticismo. A crítica da faculdade de julgar Emanuel Kant.
O romantismo: a visão de mundo e a função da arte. Processos em arte, categorias estéticas: belo, sublime, grotesco, pinturesco em arte e em arquitetura.
Hegel: o nascimento da história da arte e o sistema das artes. Nietzsche, a oposição a Hegel.
O projeto moderno: modernidade, modernismo, movimentos modernos, funcionalismo.
As teorias artísticas em arte e arquitetura: a empatia (einfühlung), a formatividade. A crítica do formalismo: Iconologia e tipologia. A filosofia das formas simbólicas.
O momento pós-crítico: Peter Einseman critica aos fundamentos da arquitetura moderna.
A nova agenda da arquitetura: fenomenologia, pós-estruturalismo
Estética da inteligência coletiva
O design, o projetista: seus modos de ver e pensar – Flusser e Lawson
As relações entre espaços, a deriva contínua do mundo humano
Sublinhados - tópicos do livro Inteligência Coletiva.

Avaliação
Avaliação de uma série de exercícios desenvolvidos em sala de aula incluindo análises e leituras de cada tópico do conteúdo programático (em negrito).
Bibliografia referencial
Argan, Giulio Carlo. Arte e Crítica de Arte. Lisboa. Editorial Estampa, 1988
_________________. Arte Moderna. São Paulo. Companhia das Letras, 1992
_________________. História da Arte como História da Cidade. São Paulo. Martins Fontes, 1992.
BASTOS, Fernando. Panorama das Idéias Estéticas no Ocidente (De Platão a Kant). Brasília: Ed. UnB, 1987.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
_______________. Globalização, conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999
BAUDELAIRE, Charles. A Modernidade de Baudelaire. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988
CAUQUELIN, Anne. Teorias da Arte. São Paulo: Martins Fontes
CHAUI. Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994
CHOAY. Françoise. A Regra e o Modelo. São Paulo: Perspectiva.
CONSIGLIERI, Victor. As significações da Arquitetura. 1920-1990. Lisboa: Estampa, 2000
DELEUZE, Gilles. A Dobra, Leibniz e o Barroco. Campinas: Papirus, 1991.
DUARTE, Fábio. Arquitetura e tecnologias de informação da revolução industrial à revolução digital. São Paulo: FAPESP: Annablume, 1999.
DUARTE, Rodrigo. O Belo Autônomo, Textos Clássicos de Estética. Belo Horizonte: eDUFMG, 1997
FERRY, Luc. Homo Aestheticus. A Invenção do Gosto na Era Democrática. São Paulo: Ática, 1994
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac & Naify, 2007
GAUSA, Manuel. MET 1.O, Metapolis. Barcelona: Actar, 1996
GOMBRICH, Ernest. Hegel e a História da Arte In Gávea n. 5, abril, 1988
GUINSBURG, J. O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1993, 3a. ed.
HAAR, Michel. A obra de arte. Ensaio sobre a Ontologia das obras. Rio de Janeiro: Difel, 2000
HABERMAS, Jürgen. O Discurso Filosófico da Modernidade. Lisboa: Presença, 1990
KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do Juízo. Rio de Janeiro: Forense, 1993.
LAWSON, Bryam, How designers Think. Burlington, MA: Elsevier, 2005
LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 20003.
NESBIT, Kate. (org). Uma nova agenda para a arquitetura 1965-1995. São Paulo: Cosacnaify, 2006
NOVAES, Adauto. O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1989
PAIM, Gilberto. A beleza sob suspeita. O ornamento em Ruskin, Lloyd Wright, Loos, Le Corbusier e outros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed. 2000
PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens Urbanas. São Paulo: SENAC: Fapesp: Marca D’Água, 1996
PULS, Mauricio. Arquitetura e Filosofia. São Paulo: Anna Blume, 2007
STAROBINSKI, Jean. A Invenção da Liberdade, São Paulo: EdUNESP, 1994
VITRUVIO. Da Arquitetura. São Paulo: FUPAM: HUCITEC, 1999
ZEVI, Bruno. Linguagem da Arquitetura. Lisboa Dom Quixote.
http://www.estetika.blogger.com.br/

Leituras de apoio.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I São Paulo: Brasiliense, 1989
-------------------------. Obras escolhidas II, Charles Baudelaire um Lírico no auge do capitalismo, São Paulo: Brasiliense, 1991
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Felix. Mil Platos. São Paulo Ed. 34 (volumes 1 e 5).
FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
HOMERO. Odisséia / Ilíada
HESIODO. Teogonia
IRWIN, Willian. Matrix. Bem Vindo ao deserto do real. São Paulo: Madras, 2003.
LE CORBUSIER. Por uma Arquitetura. São Paulo: Perspectiva. 1989.
LE CORBUSIER. A Arte Decorativa. São Paulo: Martins Fontes, 1996
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez: Brasília: UNESCO, 2000
MAHFUZ, Edson. Nada provém do nada. Revista Projeto. (texto digitalizado)
MATURANA, Humberto R. & VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento. As bases biológicas da compreensão humana. Ed Palas Atenas, 1995.
MELLO NETTO, João Cabral. Educação pela Pedra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
MITTCHEL, William J. E-topia, A vida urbana- mas não como a conhecemos. São Paulo: SENAC, 2002.
NIETZSCHE, Friedrich. A origem da Tragédia no espírito da Música.
__________________. Assim Falou Zaratustra.
__________________. Gaia Ciência.
PARENTE, André (org.). Imagem-Máquina. São Paulo: Ed. 34, 1996
PLATÃO. A República. / Timeu.
VAN DER ROHE. Mies. Escritos. Fac-simile
Filmes: A Guerra do Fogo; Invasões bárbaras, Noel, Basquiat, filemes com textos de Shakeaspeare, Willian. Hamlet. / Otelo. / Romeu e Julieta/ Matrix de Andy Wachowski e Larry Wachowski.