Tuesday, April 28, 2009

Os Quatro espaços (cap. 7)

A Inteligência Coletiva LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo Loyola, 2003.
Leituras pelo grupo: Conrado Carvalho, Deyvid Preato de Paula, Julia Ferolla Falqueto, Kamila Drago Bona, Lívia Delboni Lemos, Minieli Fim, Stella Brunoro Hoppe e Tatiana Virgilio Pereira

Os Quatro espaços
A terra
A terra, a grande terra nômade, foi o primeiro espaço ocupado pela humanidade. Nossa espécie produziu a terra elaborando o mundo como tal. A terra é o mundo das significações. A humanidade inventou a si própria, desenvolvendo a terra. A terra é o espaço-tempo imemorial ao qual não se pode atribuir origem. É o espaço "desde sempre presente" da espécie, que contém e supera o começo, o desdobramento e o futuro do mundo humano.
A terra é um cosmo, em que os seres humanos estão em comunicação com os animais, plantas, paisagens, lugares e espíritos. É o lugar das metamorfoses. O humano vive sobre uma terra que ele elabora e reelabora constantemente por meio de suas linguagens, ferramentas e edifícios sociais complicados e sutis.
A revolução Neolítica não suprimiu a grande terra nômade e selvagem. Atravessando as fronteiras das identidades, o coração da terra ainda canta sua louca canção de sonho e de vida, que mantém a existência do mundo.
O território
Difunde-se sobre a terra como um segundo espaço antropológico -A domesticação e criação de animais, a agricultura, o estado, a cidade, a escrita, uma estrita divisão social do trabalho -um novo mundo se estabelece: O mundo sedentário da "civilização".
A agricultura, a cidade, o estado ou a escrita são daí por diante virtualidades inerentes a humanidade que contribuem para quadricular o território. A figura emblemática do primeiro espaço poderia ser um caçador do paleolítico. Já para o território teríamos uma grande pirâmide cobrindo com sua sombra todo o povo de felás, de artesãos, de escribas e também de soldados, todos ali dominando campos de cevada e trigo, canais de irrigação, e de cidade, com seus lugares, ruas, córregos, templos, estátuas e muros.
O território trabalha para recobrir a terra nômade, diminuir as margens, instaura com a terra uma relação de depredação e destruição. A terra volta sempre -Conflito dos espaços.
Até a Segunda Guerra a maior parte da humanidade, camponesa, viveu no território.
O Espaço das mercadorias
Em meio às fumaças da Revolução Industrial, no século XVII, que se abre o Espaço das mercadorias -uma espécie de novo mundo tecido pela circulação contínua, cada vez mais intensa, cada vez mais rápida, do dinheiro. Esse mundo flutuante, disperso e inconsistente só atinge a superfície e as margens da vida social. Mas consegue reunir os membros dispersos. Esse novo mundo acaba crescendo sozinho. Atravessando as fronteiras, abalando as hierarquias do Território -rapidez imóvel.
O capitalismo transforma em mercadoria tudo o que consegue incluir em seus circuitos. O Espaço das mercadorias organiza os espaços anteriores segundo seus próprios objetivos. O capitalismo é “desterritorializante”, e foi durante três séculos o motor principal da evolução das sociedades humanas. O capitalismo é irreversível. É daqui por diante a economia, e a institui como dimensão impossível de ser eliminada da existência humana.
Sempre haverá o Espaço das mercadorias, como sempre haverá a Terra e o Território.
Que movimentos ainda mais rápidos, mais envolventes que os da economia desterritorializarão a desterritorialização? Eis que a camada mercantil sofre um furo, abrindo para outro espaço.
O Espaço do saber
Espaço do saber não existe. Não se realiza em parte alguma, é virtual. Na expectativa de nascer já está presente, mas dissimulado, disperso, travestido, mesclado.
Espaço do saber não se trata apenas do conhecimento científico – recente, raro e limitado -mas daquele que qualifica a espécie. Cada vez que um ser humano organiza ou reorganiza sua relação consigo mesmo, com seus semelhantes, com as coisas, com os signos, com o cosmo, ele se envolve em uma atividade de conhecimento e de aprendizado.
É sem fronteiras de relações e de qualidades. Os intelectuais coletivos inventam línguas mutantes, constroem universos virtuais, ciberespaços em que buscam formas inéditas de comunicação. O quarto espaço não existe, no sentido de que ainda não adquiriu autonomia. Mas desde o advento de sua virtualidade sempre existiu.
Nenhum grande entardecer fará surgir o espaço do saber, mas muitas pequenas manhãs.

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