Saturday, May 23, 2009

Figuras de espaço e de tempo – Cap. 11

Segundo Levy, a Terra constitui a memória dos homens. Em suas paisagens mapeia as epopéias e guarda todas as sabedorias. Pois o espaço vive e cada canto do mundo contém uma história. Onde as trilhas não são refeitas, perde-se a referência da memória e tudo morre. Quando refeitas, a origem se faz presente. Tudo revive, pois jamais passou. Aqui o espaço é percorrido por forças, pontuados de lugares altos, intensidades, centros, livres de áreas proibidas. Trata-se do espaço-memória, um espaço-narração, a encarnação de uma subjetividade coletiva dentro do cosmo.

 “(...) Os sites notáveis da Terra nômade são ossuários, restos de gigantomaquias (...)” [p.149]

 A invenção (a novidade) é uma reminiscência. Com o retorno cósmico, o devir sobre a terra alimenta a eternidade. Ao tempo Terra, chamamos imemorial. Todo espaço habitado, por peregrinos, viajantes, aventureiros e poetas reconstitui a Terra. O tempo é transportado com a Terra. Ela está sempre presente e é sempre o presente.

 Imemorial (figuras de tempo)

 “A inteligência produz recortes que introduzem em re

giões de parada no devir, correspondendo a contrações do passado mais ou menos fluida. Quanto mais fluídas, mais próximas estarão de uma dimensão virtual, da memória imemorial. Somente através da memória se pode atingir o passado, e este, não existindo como um antigo presente, só se torna possível enquanto produção no presente, resgatado pelo imemorial. Assim, é somente a partir de hoje que se pode falar sobre o passado, e é implicado no presente e comprometido com o futuro que se faz valer o passado — um passado sempre a se refazer no presente.” [Rauter, 1998].

 

Território: a clausura, a inscrição, a história (3.000 a.C).

 


Espaço: Clausuras (fundações)

 

Clausura:

  1. Vida de claustro.
  2. Estado de quem não sai de casa, e vive nela com retraimento.
  3. Fig. Claustro, convento.

 

Liames:

  1. Tirar a rudeza; civilizar.
  2. Polir; aperfeiçoar

 

Tempo: História; Tempo “lento” diferido, engendrado pelas operações espaciais de clausura e fundação.

 

 A fundação é o ato que cria o Território. Cada vez que se funda, no sentido do gênio ou da arquitetura e no sentido de instauração, estende-se o império do Território.

 Fundação é o início da criação do espaço e inaugura o tempo. Lembrando que o lugar é existente, mas o espaço territorial passa a ser contado através do espaço-tempo, sustentado pela continua fundação e refundação.

“O camponês cerca, ara, carpe, e planta o campo. O rei cava os fossos, ergue muros em torno da cidade, e edifica no centro seu palácio. O padre delimita o espaço sagrado, núcleo secreto do templo, para nele alojar um ídolo, um altar ou a ausência.” (vazio constitui um espaço). “O escriba prepara a tábua de argila, o papiro (...) inscreve (...) o texto (...) cercado por suas margens.” [p.150]

“Os cercados abrigam (...); as fronteiras impedem (...); o Estado prende (...); canais e estradas canalizam os fluxos. Alfândegas, guichês, portas restabelecem continuamente o dentro e o fora. Entre os escribas, os exames e concursos erguem barreiras em torno do saber.” [p.151]

Seguindo...

Todas as fortificações são proteções contra a aniquilação e o esquecimento, esforços para durar, permanecer, não passar. Já a agricultura instaura os jogos e os riscos da duração, do atraso, do estoque. Surgindo celeiros, silos, depósitos, adegas, tesouros enterrados, previsão para os anos de escassez, e aposta no futuro.

 Estoque do sentido, a página grifada, semeada de signos invoca a leitura, a interpretação, o comentário. As falas se evaporam, restam as escritas.

 Restare: Deter-se, que provém de stare, manter-se de pé, plantado, fundado.

 Levy afirma que só existe o antes e o depois porque existe o dentro e o fora. O Território produz o tempo linear da história, a qual não corre mais rápida do que o imemorial, é outra velocidade, outra qualidade de tempo: a lentidão do Território.

 

 

Mercadoria: circuitos, tempo real (1750).

Espaço: Redes; Circuitos Urbanos.

 Tempo: Tempo real; Tempo abstrato e uniforme dos relógios.

“Desterritorializados, homens, coisas, técnicas, capitais, signos e saberes renovam-se e giram continuamente nos circuitos da mercadoria. As estratégias comerciais não mais erguem proteções: instalam redes, organizam circuitos. Redes de comunicação, de transporte, de distribuição e de produção entrelaçando-se (...), tecendo um espaço de circulação.” [p.151]


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