De acordo com Michel Serres a dobra (dobrar – plier –francês- pli) implica (envolve) o volume e começa a construir o lugar. Ainda diz que a dobra que implica e multiplica (dobra sobre si e se desdobra) também permite passar do lugar ao espaço, associando a Michel de Certeau, permite passar do espaço, isto é, da prática do lugar (que implica em posições no espaço, em movimento, fluxo) ao lugar propriamente, que é ordem, convenção, indicando estabilidade, determinando um “próprio”.
“O espaço é um lugar praticado”.
“Assim a rua definida geometricamente pelo planejamento urbano é transformada em um espaço pelos caminhantes” (CERTEAU, 1984, p.117).
“O espaço é um lugar praticado”.
“Assim a rua definida geometricamente pelo planejamento urbano é transformada em um espaço pelos caminhantes” (CERTEAU, 1984, p.117).
Corroborando com esta idéia (aproximadamente), segundo Manuel Castells os espaços são criados por práticas sociais. Assim não são universais, eles são sempre historicamente específicos. Os espaços tornam-se socialmente importantes quando são constituídos por práticas sociais inumeráveis. Neste ponto definem uma espacialidade material de vida. Todas as espacialidades são produtos de agentes sociais que operam como os fabricantes dos espaços. Há fabricantes dos espaços de lugares que criam mundos de identidades ' locais ', e há fabricantes dos espaços dos fluxos que criam mundos das conexões. Com estas práticas sociais e suas espacialidades, são os dados formais da coexistência entre os espaços dos lugares e os espaços dos fluxos.
Uma primeira exploração da dobra em Gilles Deleuze
Deleuze serviu-se da metáfora do labirinto para explicar o conceito de espaço em Leibniz, em seu livro A Dobra. Diz Deleuze, “Leibniz explica em um texto extraordinário: um corpo flexível ou elástico ainda tem partes coerentes que formam uma dobra, de modo que não se separam em partes de partes, mas sim se dividem até o infinito em dobras cada vez menores, que conservam sempre uma coesão.
Assim, o labirinto do contínuo não é uma linha que dissociaria em pontos independentes, como a areia fluida em grãos, mas sim é como um tecido ou uma folha de papel que se divide em dobras até o infinito ou se decompõe em movimentos curvos, cada um dos quais está determinado pelo entorno consistente ou conspirante. Sempre existe uma dobra na dobra, como também uma caverna na caverna.
A unidade da matéria, o menor elemento do labirinto é a dobra, não o ponto, que nunca é uma parte, e sim uma simples extremidade da linha”.
O espaço ‘leibniziano’ é constituído como um labirinto com um número infinito de dobras, algo similar à cidade composta de quadras, casas, quartos, móveis, dobras dentro de dobras, dobras que conformam espaços, como um origami, a arte da dobradura do papel.
A dobra é a continuidade do avesso e do direito, do verso e reverso da folha, a arte de instaurar esta continuidade entre as superfícies. Deleuze A lógica dos sentidos.
O que está dentro está fora, e o que está fora, logo pode estar dentro.
“Não há lugares fora”Michael Hardt.
“A superfície, a cortina, o tapete, o casaco, eis onde o cínico e o estóico se instalam e aquilo de que se cercam. O duplo sentido da superfície, a continuidade do avesso e do direito, substituem a altura e a profundidade. Nada atrás da cortina, salvo misturas inomináveis.
“Nada acima do tapete, salvo o céu vazio. O sentido aparece e atua na superfície, pelo menos se soubermos convenientemente, de maneira a formar letras de poeira ou como um vapor sobre o vidro em que o dedo pode escrever”.
DELEUZE, G. A dobra. Papirus
CASTELLS, M. A Sociedade em redes: Ed. Paz e Terra
DELEUZE, G. A dobra. Papirus
CASTELLS, M. A Sociedade em redes: Ed. Paz e Terra
No comments:
Post a Comment