Sunday, April 19, 2009

A Inteligência Coletiva. Introdução

LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 2003.
(ficha da Profa. Clara)

Introdução do livro
Economia
Da capacidade de navegar no espaço do saber e de sua gestão ótima dependerá a prosperidade coletiva, tudo deriva de uma relação ética com o outro.
Nossa relação material com o mundo se mantém por meio de uma formidável infra-estrutura espistêmica e de software: instituições de educação e formação, circuitos de comunicação, tecnologias intelectuais com apoio digital, atualização e difusão contínua do savoior-faire... tudo repousa a longo prazo na flexibilidade e vitalidade de nossas redes de produção, comércio e troca de saberes.
Pierre Lévy descreve a transformação da economia, focalizando a transição da terceirização da economia. Setor que está cada vez mais invadido por objetos técnicos, que se industrializa. Por sua vez a industria de “concebe” cada vez mais como atividade de serviço. As empresas procuram se ligar (todo o tempo) às redes de inovação, ligações que se fazem transversalmente com a sociedade e outras empresas.
O saber se torna a nova infra-estrutura (Michel Serres citado por Lévy, p. 20).
Pierre Lévy diz que quanto melhor o grupo humano melhor ele consegue se constituir em coletivo inteligente. Assim o totalitarismo fracassa por suas características de centralização de poder, por sua planificação burocrática (hierarquizada, controlada). Aspectos que se mostraram incapazes de seguir as transformações das novas técnicas e organização do trabalho. O totalitarismo é incapaz de inteligência coletiva.
Pierre Lévy se mostra crente na interpenetração entre lazer, cultura e trabalho, crê que isso baixará por capilaridade a todas as camadas da sociedade. O puro econômico e a mera eficácia perdem a eficiência, pois, o engajamento subjetivo remetido a vida, a ética a cidade são solicitados a todo instante.
Já que condiciona todas as outras, a produção contínua de subjetividade será provavelmente considerada, a principal atividade econômica (a ser tratada no cap. 2 do livro).
A capacidade de formar e reformar rapidamente coletivos inteligentes irá se tornar uma arma decisiva nos núcleos de conhecimento específico.
Uma questão que se coloca para os arquitetos inclusive...

Discussão paralela:
Problemas
Peter Pal Pelbart diz: «Uma economia imaterial que produz sobretudo informação, imagens, serviços, não pode basear-se na força física, no trabalho mecânico, na automatismo burro, na solidão compartimentada. São requisitados dos trabalhadores sua inteligência, sua imaginação, sua criatividade, sua conectividade, sua afetividade ‑ toda uma dimensão subjetiva e extra-econômica antes relegada ao domínio exclusivamente pessoal e privado, no máximo artístico. Como o diz Toni Negri, agora é a alma do trabalhador que é posta a trabalhar, não mais o corpo, que apenas lhe serve de suporte.”
Ver artigo de Peter Pal Pelbart, “Biopolítica e biopotência no coração do império»: http://contrun.noblogs.org/post/2008/04/11/biopol-tica-e-biopot-ncia-no-cora-o-do-imp-rio-peter-pal-pelbart


Antropologia
Pierre Lévy coloca a hipótese de 4 espaços: terra, território, espaço mercantil e um novo espaço antropológico, o espaço do saber.
O que é um espaço antropológico? É um sistema de proximidade (espaço) próprio do mundo humano (antropológico), e portanto dependente de técnicas, de significações, da linguagem, da cultura, das convenções, da representações e das emoções humanas.
Terra. Neste espaço a relação com o cosmo constitui o ponto central deste espaço tanto no plano imaginário (totemismo, animismo) quanto no plano prático de sua relação de contato com natureza. Este vínculo com o cosmo e na relação de filiação ou de aliança com outros homens. O nome é a inscrição simbólica de uma linhagem.
Território é uma invenção a partir do neolítico com a agricultura, a cidade, o Estado e a escrita. O território não suprime a terra nômade, mas tenta sedentarizá-la, domesticá-la. Aqui começa o desenvolvimento do conhecimento, a história, os saberes de tipo: sistemático, teórico e hermenêutico.
O centro da existência passa ser a uma entidade territorial (pertença, propriedade) definida por limites e fronteiras. Nosso endereço é nossa identidade no território dos sedentários e contribuintes. As instituições com as quais lidamos são igualmente territórios com suas hierarquias, burocracias, sistemas de regras, fronteiras, lógicas de pertença ou exclusão.
O espaço mercantil, seu princípio organizador é o fluxo: de energia, de matérias-primas, de mercadorias, capitais, de mão de obra, informações. É um movimento de desterritorialização que não suprime o território mas subverte-o, subordina-o aos fluxos econômicos. O espaço mercantil supera os demais em velocidade, que é o motor de sua evolução. A riqueza não provém do controle das fronteiras, mas do controle dos fluxos. A ciência experimental moderna é o modo de conhecimento típico do novo espaço de fluxos. Cada vez mais cede lugar a tecnociência movida pela dinâmica permanente da pesquisa e inovação. A identidade aqui é a participação da produção e das trocas econômicas, é definida pelo emprego, pela profissão. Estes dois definem a posição no espaço mercantil.


A imagem acima do livro 3 estabelecimentos humanos de Le Corbusier representa uma "leitura" e modelização para intervenção no espaço de fluxos mercantil: o centro industrial, a cidade radiocênctrica e o dispositivo das estradas.

Discussão paralela:
Conceito de território em Feliz Guattari e Sueli Rolnik
“O território pode ser relativo tanto a um espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio da qual um sujeito se sente “em casa”. O território é sinônimo de apropriação, de subjetivação fechada sobre si mesma. Ele é o conjunto de projetos e representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos” (GUATTARI e ROLNIK,Cartografias do Desejo).
O território pode se desterritorializar, isto é, abrir-se, engajar-se em linhas de fuga e até sair do seu curso e se destruir. A espécie. humana está mergulhada num imenso movimento de desterritorialização, no sentido de que seus territórios “originais” se desfazem ininterruptamente com a divisão social do trabalho, com a ação dos deuses universais que ultrapassam os quadros da tribo e da etnia, ... (GUATTARI e ROLNIK).

Espaço do saber, malpercebido, incompleto. Este novo horizonte deve-se a velocidade de evolução dos sberes, a massa de pessoas convocadas a a prender e produzir novos conhecimentos, e ao surgimento de novas ferramentas – a do ciberespaço – por trás do “nevoeiro” informacional, paisagens inéditas, distintas, identidades singulares, enfim novas figuras sócio-históricas que se constituem indícios da era, do novo espaço antropológico:
A velocidade, jamais a evolução das ciências, das técnicas foi tão rápida.
A massa tornou-se impossível reservar o conheimento para a classe de especialistas. O conjunto coletivo deve aprender e inventar...
As ferramentas os intrumentos que dispomos são reduzidos para filtrar a informação pertinente, discernir significações...
Os conhecimentos vivos, so savoir-faire e competências dos seres estão prestes a ser reconhecidos como a fonte de todas as riquezas...

Laço social relação com o saber
Os dois eixos complementares para organização do “futuro”: a renovação do laço social por intermédio do conhecimento e o da inteligência coletiva propriamente dita.

O QUE É INTELIGÊNCIA COLETIVA?
A Inteligência Coletiva é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências.
A inteligência coletiva tem início com a cultura.
Pierre Lévy, “a inteligência coletiva desenvolve-se à medida que a linguagem evolui”. Com a divulgação das idéias através dos discursos e da escrita houve a disseminação do conhecimento. A inteligência coletiva pode ser dividida em inteligência técnica, conceitual e emocional.
A inteligência técnica se realiza através do mundo concreto e dos objetos, como a engenharia.
A inteligência conceitual se relaciona ao conhecimento abstrato e não ocorre sobre a materialidade física, como as artes e a matemática.
A inteligência emocional concebe a relação entre os seres humanos, confiança e sinceridade que a envolve, e se vincula ao direito, a ética e a moral.
Atualmente as idéias são o capital mais importante.
A questão não é mais “conhece-te a ti mesmo” mas aprendamos a nos conhecer para pensar juntos”. Não é mais penso logo existo, cogito cartesiano é ampliadi para cogitamus.
Pierre Lévy considera que, através da cooperação intelectual a criação coletiva de idéias se dá fundamentalmente pela internet e mais particularmente pelo ciberespaço. A conexão cada vez mais ativa entre os indivíduos verdadeiramente colabora para ações coletivas.
A produção dos capitais mais importantes está alicerçada e só pode ser alcançada quando as pessoas pensam em conjunto. Quando isso acontece produzimos três capitais:
O técnico, que vai dar suporte estrutural à edificação das idéias e pode ser explicado pelas estradas, prédio, meios de comunicação (coisa);
O cultural, mais abstrato, constituído pelo conhecimento reservado em enciclopédias, livros e na World Wide Web (signo);
O social, que representa o vínculo entre as pessoas e a cooperação e colaboração entre elas (cognição).
O capital intelectual é criado pelos capitais técnico, cultural e social. Destacando que o capital intelectual é representado por idéias idealizadas e disseminadas pela população e que, veiculadas, passam ao campo público. O capital intelectual é o cerne de toda a inteligência coletiva.

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