Friday, April 22, 2011

2. Eixos organizadores do sentido do espaço

A analise de Teixeira Coelho Netto recorre ao eixo como base da análise. O eixo não toma  unidades menores como critérios analitícos tais como os elementos de arquitetura ou de composição,  códigos clássicos por excelencia. O eixo toma o objeto como todo e em suas partes constituintes, ou melhor, em suas relações constituintes e contextuais, considerando também os aspectos semânticos e pragmáticos passíveis de serem apurados no objeto. Esta forma de leitura se assemelha a leitura que faz Bruno Zevi em sua “Linguagem da Arquitetura Moderna” ao designar invariantes desta, a diferença consiste em que a análise de Zevi é predominantemente sintática, considerando efeitos estéticos inclusive.
As invariantes de Bruno Zevi buscam códigos “anticlássicos”. São as seguintes:
       o catálogo como metodologia do projeto;
       assimetria e dissonancia;
       tridimensionalidade antitética da perspectiva;
       sintaxe da decomposição quadridimensional;
       estruturas em balanço, coberturas e superfícies;
       temporalidade do espaco;
Pode-se dividir os seguintes  tipos de categorias entre os 7 eixos organizadores do espaço de Teixeira Coelho Netto: categorias espaciais da relação homem e natureza, espaço artificial x espaço natural ou das relações sociais: espaço privado x espaço comum; os demais podem ser entendidos como categorias do modo de fazer, construir o espaço (sintática): interior x exterior, espaço construído x espaço não construído, espaço amplo x espaço restrito, espaço vertical x espaço horizontal, espaço geométrico x espaço não-geométrico 

TEIXEIRA COELHO NETTO, J. A Construção do Sentido da Arquitetura, São Paulo: Perspectiva, 2009, 5ª Ed.

ZEVI, Bruno. A linguagem Moderna da Arquitetura. Lisboa : Don Quixote.

Thursday, April 21, 2011

1. Eixos organizadores do sentido do espaço

A primeira discussão do curso de estética neste ano tratou da interação e da interatividade entre espaços e saberes ou disciplinas, tendo como foco a arquitetura.
A segunda discussão proposta no Curso de Estética e Arquitetura, em 2011, tem início com as proposições do texto: “Eixos organizadores do sentido do espaço” de Teixeira Coelho Netto.

Objetivo da leitura do espaço criada a partir de eixos organizadores do sentido do espaço segundo o autor:
“Proceder a uma leitura do discurso arquitetural, mas ao invés de se seguir o caminho até aqui trilhado pela semiologia, propõe-se organizar o discurso arquitetural num sistema (eixos) e investigar as referências (significados) livremente, a partir do ponto de vista exigido mais imediatamente pela natureza de casa eixo”.
-A determinação dos eixos foi feita de modo a poder ser considerada a mais ampla possível.
-O modo de resolver estas oposições entre um e outro é de maneira dialética (aproximadamente).

Eixos organizadores do espaço:
1°Eixo do espaço arquitetural: Espaço interior X Espaço exterior
2°Eixo: Espaço privado X Espaço comum
3°Eixo: Espaço construído X Espaço não construído
4°Eixo: Espaço artificial X Espaço natural
5°Eixo: Espaço amplo X Espaço restrito
6°Eixo: Espaço vertical X Espaço horizontal
7°Eixo: Espaço geométrico X Espaço não-geométrico



São vários os objetivos a serem atingidos no curso de 2011 com o conteúdo deste texto:
·         - Iniciar a discussão sobre as problemáticas dos estudos da linguagem da arquitetura – neste contexto as várias definições de arquitetura;
·         - Colocar problemáticas sobre a lógica e a dialética –iniciada pelo próprio autor nas pag. 28 e 29;
·         - Do mesmo modo, estabelecer distinções entre questões de fato, conceito e valor;
- Ainda, evidenciar categorias dêiticas constitutivas/presentes do/no enunciado pessoa, tempo e lugar
·         - Discutir e problematizar os eixos ou pares propostos por Teixeira Coelho Netto;
·         - Especificamente tratar os eixos interior/exterior e privado/comum, e, o eixo natural/artificial
·         - Discutir formas alternativas, propostas por outros autores, de discussão sobre espaço; 
Sobretudo, a noção de dobra no ponto de vista tanto de Gilles Deleuze quanto de Michel Serres

-

Referências
TEIXEIRA COELHO NETTO, J. A Construção do Sentido da Arquitetura, São Paulo: Perspectiva, 2009, 5ª Ed.
CHAUI, Marilena.Convite à Filosofia. São Paulo, Ed. Ática, 2000. (unidade 5)

Lógica aristotélica – Wikipédia, a enciclopédia livre

Lógica aristotélica – Wikipédia, a enciclopédia livre

A lógica aristotélica é o estudo formal da lógica desenvolvido por Aristóteles na Antiguidade. No último século a lógica de Aristóteles teve duas grandes reviravoltas. O nascimento da chamada lógica moderna, através do trabalho de Gottlob Frege e Bertrand Russell, trouxeram a tona sérias limitações da lógica aristotélica. Mas a lógica de Aristóteles pode manter o respeito, "não só pela clareza de seus resultados, mas também pelo notável trabalho dele em lógica moderna."

Dicionário Aurélio lógica:
1.Filos. Na tradição clássica, aristotélico-tomista, conjunto de estudos que visam a determinar os processos intelectuais que são condição geral do conhecimento verdadeiro. [Distinguem-se a lógica formal e a lógica material.]

Wednesday, March 16, 2011

Vilemflusser

Vilemflusser

Congresso Internacional “Imagem, imaginação, fantasia” Vilem Flusser em Ouro Preto- 18 a 21 de outubro
promovido por:
Mestrado em Estética e Filosofia da Arte do IFAC-UFOP/ Linha de pesquisa “Estética e Filosofia da Arte” do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da FAFICH-UFMG/ Associação Brasileira de Estética – ABRE

Inscrições para a apresentação de comunicações: os resumos dos trabalhos, de cerca de 300 palavras, rigorosamente dentro do temário proposto, deverão ser enviados à Comissão Organizadora até 15/05/2011, sendo que até 10/06/2011 será publicado o resultado sobre a sua aceitação ou não para a apresentação no Congresso na página do evento na Internet

URBICENTROS 2011 : conferencistas confirmados | Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

URBICENTROS 2011 : conferencistas confirmados | Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

Wednesday, March 02, 2011

Arquitetura: ação, interação e interatividade

O Dicionário Digital Aurélio enuncia que interação é um substantivo que advém de [inter + ação.]. Designa ação que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas, ou duas ou mais pessoas; ação recíproca; (...). Como o radical ação se destaca no termo, vamos abordá-lo primeiro. O verbete ação no dicionário Metápolis, escrito por Manuel Gausa, relaciona ação à arquitetura e assinala que ação é o efeito de expressar, operar, executar e fazer. Requer energia, decisão e capacidade. Quer dizer, disposição. Segundo Manuel Gausa:
“Interessa hoje uma “arquitetura-ação”, definida desde uma vontade “atuante”, de (inter)atuar. Quer dizer, de ativar, de gerar, de produzir, de expressar, de mover, de intercambiar e de relacionar. De agitar acontecimentos, espaços e conceitos e inércias, propiciando interações entre as coisas mas que intervenções nelas mesmas. Movimentos mais que posições. Ações, pois, mais que figurações. Processos mais do que sucessos.”
A ação é apontada por Manuel Gausa como o meio de entender o espaço construído como realidade e o melhor modo de afetá-la. É a possibilidade de materialização direta. Implica na “desmesura” do corpo trabalhando e correndo entre coisas, nos edifícios e na paisagem. Isso distingue, além disso, a qualidade pré-espacial das arquiteturas. Gausa ainda discute as posturas da ação (operação) e da contemplação. Esta definida como uma atitude reflexiva (que se mantém a distância de seu objeto). Afirma que o mundo contemporâneo é decididamente midiático e interativo. “A interação abarca tudo, desde as sensações aos objetos”.
No dicionário Metápolis, o verbete interação também é escrito por Manuel Gausa. “interação é (inter)câmbio e (inter)relação. Informação transmitida, transferida e transformada entre energias, acontecimentos e/ou cenários diversos e simultâneos”.
Vicente Guallard diz sobre interatividade. “Se os objetos pensam, reagem e atuam, além de suas qualidades materiais, os espaços e os lugares devem [responder] relacionar-se com eles. Os objetos pensam porque alguém pensou neles. Programou-os e lhes atribuiu qualidades para que se integrem em uma nova lógica do mundo em que tudo está conectado com tudo”.
Para Guallard o meio atmosférico-climático tradicional será superposto pelo meio digital. E isso deve abalar profundamente as relações espaço-temporais planetárias. Segundo ele será insuflada inteligência aos edifícios, aos espaços públicos, as cidades, mediante códigos precisos que proporcionem a relação entre os espaços, os objetos e as pessoas, e ainda possibilitem o conhecimento mútuo entre eles assim como suas diferenças.
Há um excerto (publicado em 1967) do músico John Cage que contém um bom insight sobre a interação entre pessoas, coisas e outros seres, e indica uma possível conseqüência acerca da possibilidade da mudança da mente.
“Ele era um físico e um compositor-de-computador nas horas vagas. Por que era tão estúpido? Porque era de opinião que a única coisa que pode engajar o intelecto era a medição entre as coisas? Quando alertado para o fato de que sua mente podia mudar, sua resposta foi  “Como? Por que?”
“o conflito não estará entre pessoas e pessoas mas entre pessoas e coisas. Neste conflito vamos tentar regular as coisas de forma que o resultado, como em filosofia nunca seja decisivo. Trate os pinheiros, por exemplo, como entidades que têm ao menos uma chance de vencer”.
Para que isso aconteça é preciso a mudança paradigmática da ciência, para um viés mais compreensivo do que analítico. Compreender inverte a abordagem positivista, pois em vez de analisar, dissecar e apartar, acolhe metodologicamente os verbos abarcar e abranger.
Porém, o que pode dar a verdadeira chance aos pinheiros sugerida por Cage, advém de uma mudança no estatuto do tratamento da natureza pela ciência ou pela economia “determinista” antropocêntrica. Isso adverte que concepção de um homem fechado em si, numa situação que aparta natureza e cultura”deverá ceder lugar a integração do homem na natureza levando à abolição do “antropocentrismo”.
Por outro lado, as novas tecnologias da informação e da comunicação consolidam novas atividades imateriais. As NTIC impõem uma radical transformação das formas de produção e consumo (que se torna produtivo) num mundo cada vez mais desenhado por um “emaranhado de redes e redes”. As novas tecnologias jogam com a interação entre as possibilidades oferecidas pelo sistema e a integração criativa do usuário.
A base operacional do sistema (o hardware e o software) complementa-se e interage produtivamente com a netware e o wetware (uso, consumo). Neste processo de produção e circulação de informação e de produtos, as referências tradicionais materiais do valor se perdem e a ênfase na cognição cresce. O saber se manifesta como força produtiva nas economias contemporâneas. As redes provocam novas formas de cooperação entre sujeitos, atualizando a virtualidade produtiva constituída pela sociedade (COCCO & SILVA & GALVÃO, 2003).
Pierre Lévy observa que com a tecnologia digital verifica-se a ampliação da consciência. O pensamento deixa de ser uma experiência predominantemente interna, e passa a interagir com o sistema operacional dos computadores e com as redes. Por isso, multiplicam-se as redes de relacionamento entre pessoas. As novas tecnologias da informação e da comunicação multiplicam também as possibilidades oferecidas pelo sistema para a integração criativa do usuário (LÉVY, 1993). Com as novas possibilidades da informática, o pensamento assume a condição de mapeamento, que ajuda a simplificar (sintetizar) a realidade, a diagramá-la e modelá-la.
A publicação Verb Connection discorre sobre a condição mutante da cidade, da arquitetura e do urbanismo. A geração de atividade, que vincula fisicamente programas, pessoas e usos. Então serão colocados como exemplos sobre projetos de conexão, interação e comunicação:
·         OMA_ Biblioteca pública de Seattle, 2004.
·         A biblioteca pública de Seattle é uma afirmação potente sobre seu papel fundamental como o primeiro, e talvez único, edifício autenticamente público. Desde sua inauguração em maio de 2004, tem causado um grande impacto na cidade e seus arredores, como catalizador urbano que ativa e redefine seu contexto no centro da cidade, e como protótipo arquitetônico cujas inovações estruturais e programáticas oferecem novas possibilidades para criar um espaço público. OMA + LMN.
·         SHINOBU HASHIMOTO, RIENTS DIJSKTRA_ Chip City , 2000.
·         Propõe imaginar uma cidade sem placas publicitárias, semáforos, anúncios ou barreiras arquitetônicas. Com um sistema GPS aderido ao corpo, navegamos pela cidade livremente, de uma maneira fácil e eficiente. Mediante a tecnologia de posicionamento global (PosTec), o sistema GPS se integra à qualquer atividade humana, e se converte no catalizador que desencadeia a transformação do entorno urbano.
·         MICHELLE PROVOOST, WOUTER WANSTIPHOUT_ WiMBY! , Hoogvliet – Rotterdam, 2004.
·         A antiga cidade de Hoogvliet experimenta, nos últimos trinta anos, a decadência e abandono de seus habitantes. Para revitalizá-la, é proposto o WiMBY!, sigla para Welcome to my backyard ( “Bem-vindo ao meu quintal”), uma construção de caráter expositivo e internacional. São estudadas questões características da população,  e pensadas alternativas coletivas que integrem os habitantes da cidade. Para propor os módulos parasitas, a equipe estudou o programa das escolas, suas tipologias, e percebeu uma deficiência em espaço físico para salas de música e dança, refeitórios, lugares para em horários extracurriculares, entre outros. A solução foram módulos de baixo valor - os parasitas - externos aos prédios escolares já existentes, com plantas multiuso, em sintonia com as questões existentes levantadas pela população.


Referências:
CAGE, John. De Segunda a um Ano. São Paulo: HUCITEC, 1985
COCCO, Giusepe et all (orgs). Capitalismo Cognitivo, trabalho, redes e inovação. Rio de Janeiro, DP&A, 2003.
GAUSA, Manuel, GUALLART, Vicente & MÜLLER, Willy et al. (orgs.). Diccionario Metápolis de arquitectura avanzada. Ciudad y tecnologia en la sociedad de la información. Barcelona: Actar, 2000.
GAUSA, Manuel, GUALLART, Vicente & MÜLLER, Willy. Barcelona Metápolis. Festival de idéias para la futura multiciudad. Barcelona: Actar, 1998.
LÉVY, PIERRE. As Tecnologias da Inteligência - O Futuro do Pensamento na Era da Informática. São Paulo: Editora 34, 1993.
LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 20003.
Verb Connection, Actar, Barcelona, 2004. ( Terceiro volume da série Boogazine Architecture da Editora Actar)

Estética e Arquitetura 2011


Os tópicos abaixo apresentam o conteúdo programático referencial previsto para disciplina de Estética e Arquitetura do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Ufes neste semetre letivo - 2011/01:

1. Temática interação no espaço:
1,2. O sentido do espaço no movimento moderno e depois (o problema da dobra)
1.3. Espaço, lugar e território
1.4.  Linhagens/identidades:a tribo,o clã, a família e o indivíduo (?), cultura
2. Walkscape: andar como prática estética
2.1. Errare humanum est: O nômade e sedentário
2.2. A casa de adão no paraíso
2.3. Estesias: contemplação, fruição, intervenção
2.4. Estesia e Cartografia
3. Corpo, Memória e imaginação
3.1. Conceitos e implicações no projeto, no planejamento, na construção, na fruição
3.2. Arquitetura: tipos de conhecimento – teórico, prático e técnico; tipos de fazer – desenho/ design, escrita, construção; meios de construção/significado ‑ conceitual e material
3.3. Personae públicas: o historiador, o filósofo, o arquiteto, o poeta e o louco
4. Espaço social ↔espaço diferencial
4.1. Viver sob o domus, a esfera privada: a poética do espaço
4.2. Da Esfera pública, Espaço social, Espaço vivido
4.3. Personae públicas: a sociedade, classes sociais, a família, o indivíduo, o burguês, o operário o artista, o intelectual, o homem-tipo, o consumidor
4.4. Espaço vivido e cartografia
5 Projeto clássico, Anticlássico e Modernidade (abordagem transversal)
5,1. Sistema x método, arquitetura da expressão: abordagens Argan, Wolfflin e Deleuze
5.2. Figuras cartesianas: extensão, divisibilidade, o esquadrinhamento
5.2. Teorias da arte: empatia e formalismo
5.3. A reprodutibilidade técnica, as tecnologias da informação e da comunicação
5.4. Personae públicas: o dandi, o surrealista, apocalípticos e integrados, a sociedade de massas
6. Agenda Contemporânea (abordagem transversal)
6.1. Cronologia de teorias e problemas da arquitetura)
6.2. O mundo globalizado; implicações para cidades e ‘ambiente natural’
6.3. Personae públicas: a multidão, o indivíduo, “comunidade”, o telespectador, as novas tribos,

Sunday, January 23, 2011

Sobre sentimentos de amor

"Déjeme decirle, a riesgo de parecer ridículo, que el revolucionário verdadero está guiado por grandes sentimientos de amor." - Ernesto Guevara
"“O amor é uma força econômica.” O amor não tem medida, é só excesso, vence a morte e opera a revolução, como princípio da organização (política) da produção." Sobre Antonio Negri in: http://quadradodosloucos.blogspot.com/2010/06/resenha-commonwealth-antonio-negri-e.html 

Wednesday, November 03, 2010

A poética do espaço - Gaston de Bachelard

Sobre as imagens (em texto cortado):
Bachelard pede que captemos a realidade específica da imagem.
A comunicabilidade de imagem singular é um fato de grande significação ontológica;
Em sua simplicidade a imagem não tem necessidade de um saber.
Tudo que é especificamente humano no homem é logos. Não chegamos a meditar numa região que estaria antes da linguagem.
Nada prepara uma imagem poética; nem a cultura, no modo literário; nem a percepção no modo psicológico.
Superar os problemas da descrição - seja ela subjetiva seja ela objetiva – quer se refira a fatos ou impressões, busca atingir as virtudes primárias, inerente a função original do habitar.
Casa canto, primeiro universo
Casa, corpo de imagens, razão ou ilusão de estabilidade.
A casa, do porão ao sótão, o sentido da cabana
Dois temas principais de ligação da psicologia da casa:
Um ser vertical, nos leva a consciência da verticalidade – o sótão e o porão;
Um ser concentrado; nos leva a consciência da centralidade.
Em Paris não existem casas. Em caixas sobrepostas vivem os habitantes da grande cidade. Nosso quarto parisiense entre suas quatro paredes é uma espécie de lugar geométrico, um buraco convencional que mobiliamos com bibelôs e armários dentro de um armário ver Bachelard. p. 44.

Gustave Caillebotte. Rue de Paris, temps de pluie; Intersection de la Rue de Turin et de la Rue de Moscou . 1877

A casa já não conhece os dramas do universo segundo Bachelard.


O problema da arquitetura que Lina Bo Bardi propõe na casa do Morumbí é a criação de um ambiente “fisicamente abrigado”, que ao mesmo tempo participasse daquilo “que há de poético e ético, mesmo numa tempestade”. “Esta residência representa uma tentativa de comunhão entre a natureza e a ordem natural da coisas, opondo aos elementos naturais o menor número de meios de defesa”.

A casa e o universo
Segundo Bachelard, a casa isolada vem lhe dar imagens fortes, conselhos de resistência. O problema não é de ser, é um problema de energia. Comunhão dinâmica entre o homem e a casa, na rivalidade dinâmica entre a casa e o universo, estamos longe de qualquer referencia às simples formas geométricas. A casa vivida não é uma caixa inerte. O espaço habitado transcende o espaço geométrico. Uma casa cósmica existe potencialmente em todo sonho de casa.
“Toda arquitetura é uma expressão da saudade do lar” Greg Lynn
Estranha situação os espaços amados se desdobram, nos transportam a outros lugares.
Louise Bourgeois, Red Room (Parents), 1994
Detail. Mixed media, 247.6 x 426.7 x 424.2 cm
Private collection
Photo Peter Bellamy
© Adagp, Paris 2008
 

A

Friday, June 04, 2010

A departamentalização da casa

Algumas especulações sobre a organização da divisão dos cômodos de uma casa através dos setores íntimos, social e de serviço que caracteriza a tripartição burguesa européia do Século XIX. A base incial dessas afirmação advém do capitulo "Maneiras de Morar" por Michelle Perrot, em "A história da vida Privada n. 4". Observações que foram feitas para orientar Graziela Dadalto quando orientava seu trabalho de graduação final.

No livro “Vergonha e decoro na vida cotidiana da metrópole” – que é organizado por José de Sousa Martins – muitos autores alegam que a “departamentalização da casa” (banheiro, cozinha, quartos, sala) e a criação de corredores de passagem que permitem acesso aos diversos cômodos sem transitar pelos espaços privados, reafirmam o papel da intimidade e estabelecem um uso estrito para cada espaço, evocando ordem. A demarcação e a caracterização dos espaços estavam ligadas ao decoro . Este se relacionava (e se relaciona) ao comportamento adequado em relação às formas de interação social, cuidados com o corpo e controle das funções orgânicas e fisiológicas, às quais poderia gerar constrangimento, nojo ou vergonha. Tratava-se de uma demarcação em relação ao que deve ser exposto e ao que deve ser escondido publicamente. Estes procedimentos começaram na corte absolutista que queria se diferenciar da corte medieval. Tanto que bom comportamento passa a ser denominado de “cortesia”. A partir da corte absolutista se propôs paulatinamente o comedimento e o controle em relação a certas funções orgânicas em público. Os autores indicam que o nojo, o asco, as repugnâncias foram socialmente construídas. O “padrão de mundo civilizado” de refinamento de conduta foi um processo social que se inicia antes da era burguesa, que, contudo, radicaliza estes hábitos e protocolos. O racionalismo, o iluminismo, a medicalização da vida, o sanitarismo e o modernismo também colaboram neste processo.
A civilidade impõe certo distanciamento do outro e os cômodos da casa expressam gradações deste distanciamento. Cada local tem suas regras de conduta. A sala é o lugar mais público, pode ser a fachada da casa ou funcionar como um bastidor. Geralmente é o lugar mais arrumado e decorado. Num salão burguês disse Walter Benjamin: “o ‘interior’ obriga o habitante a adquirir o máximo possível de hábitos, que se ajustem melhor a esse interior que a ele próprio.” E sobre o quarto Benjamin escreve que:
“Se entrarmos num quarto burguês dos anos oitenta [1880], apesar de todo o “aconchego” que ele irradia, talvez a impressão mais forte que ele produz se exprima na frase: “Não temos nada a fazer ali porque não há nesse espaço um único ponto em que seu habitante não tivesse deixado seus vestígios. Esses vestígios são bibelôs sobre prateleiras, as franjas ao pé das poltronas, as cortinas transparentes atrás das janelas. O guarda-fogo diante da lareira.”
O quarto se estabelece como o local da intimidade, é o espaço mais privado da casa. A cozinha e o banheiro foram por muito tempo lugares da rejeição .
“Nas casas burguesas de Paris, por exemplo, a cozinha ficava em um cômodo que dava para o pátio, mas que não tinha acesso direto aos cômodos principais. Nas casas térreas inglesas, a cozinha, adjacente aos alojamentos dos criados, continuou situada no porão até o século XIX. Na maioria dos appartements, a “cozinha” não passava de um caldeirão pendurado na lareira. (RYBCZYNSKI, 1996, p.83)”
O surgimento da intimidade na casa propiciou mudanças no arranjo doméstico, funções mais específicas foram dadas aos cômodos como a cozinha e os quartos. Os filhos mais velhos já não dormiam mais com os pais. Criados e empregados tinham seus próprios quartos assim como os demais membros da família, mas todos os moradores da casa ainda faziam as refeições em conjunto (á mesma mesa). Este senso de intimidade doméstica que estava surgindo era o caminho para a casa de família (Graziela Dadalto).
“Domesticidade, privacidade, conforto, o conceito do lar e da família: estas são, literalmente, as primeiras conquistas da Era Burguesa. O Interior Burguês.” (RYBCZYNSKI, 1996, p.63). Na verdade, o conceito de doméstico, de esfera privada é anterior a era burguesa, derivada do tempo dos romanos de domus. essa palavra domus (singular e plural) deriva de dominus, nome por que eram designados os chefes das famílias patrícias.

A instalação de uma comunidade em um território implicava em consagrá-lo. De certa forma o espaço doméstico também apresentava alguma consagração ao sagrado, para os Romanos Janu e Vesta, guardavam as portas e o lar, enquanto que o Deus Lares protegia o campo e a casa;

“O domus é um espaço e um tempo comuns”, um dos aspectos que constitui o lugar. Um espaço-tempo doméstico é compartilhado, é “onde cada um encontra seu lugar e seu nome” (PEIXOTO, 1996). A cidade, a esfera pública, apresenta outra configuração do espaço e do tempo.
O espaço doméstico é onde se ‘vive com’ (convive), se come na mesma mesa. Para os gregos antigos, o conviver ocorria na oiko (casa) dirigida por regras, normas da casa, do lugar nomia. Oikós (de onde deriva a palavra economia) significa a “arte de administrar a casa”, as propriedades de terra, os recursos materiais, e também as relações matrimoniais, paternas, maternas (José Lira).
No entanto, a semântica que domesticidade adquire advêm da era burguesa. Quer dizer, a domesticidade é tida como um conjunto de emoções, relacionada à família, à intimidade, à devoção ao lar, assim como a uma sensação da casa como incorporadora.
A organização da divisão dos cômodos de uma casa através dos setores íntimos, social e de serviço, caracteriza a tripartição burguesa européia do Século XIX.

Referencias:
ARRIVABENE, Graziela Dadalto. A transformação no espaço da cozinha em residências unifamiliares. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal do Espírito Santo. Orientador: Clara Luiza Miranda.
BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In. Obras escolhidas (1) Magia e técnica, arte e política. Ed. Brasiliense. São Paulo.
LIRA, José tavares Correia de. Sobre o conceito de casa ou como ver o objeto por excelência do arquiteto sem sair de casa. São Paulo. Revista Caramelo, FAUUSP, N. 5. s. d.
MARTINS, José de Sousa. Introdução. In Vergonha e decoro na vida cotidiana da metrópole. HUCITEC, São Paulo, 1999, pp 9-15.
PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens urbanas. São Paulo: SENAC: Marca D’Água, 1996.
PERROT. Maneiras de Morar. in A história da vida Privada n. 4.
RYBCZYNSKI, Witold. Casa: Pequena História de Uma Idéia. Ed. Record,
SANTOS, Christiane Sousa do & AGUIEIROS, Gabriela H. O corpo e a intimidade: os espaços do constrangimentos. In MARTINS, José de Sousa. Vergonha e decoro na vida cotidiana da metrópole. HUCITEC, São Paulo, 1999, pp 105-122

Tuesday, March 30, 2010

Sunday, March 28, 2010

"uma casa onde se pode viver”


Toyo Ito em Arquitetura dos Limites Difusos reflete sobre a distância entre os espaços que conforma as experiências dos seres humanos e o espaço construído por um arquiteto; o primeiro é “uma casa onde se pode viver” e o segundo é uma “casa obra de um arquiteto”. Os argumentos desta “autocrítica”, que se reveste de grande importância pois se trata do espaço da vida cotidiana, advém do filósofo Koji Taki: “Por que apareceu esta diferença? (...) O espaço projetado pelo arquiteto não é resultado do tempo vivido por alguém; a casa como morada não se construiu a priori para as coisas que residem no futuro. Estas revelam os aspectos espaciais do lugar habitável como um conceito lírico codificado. Entre as contradições e as relações interativas destes aspectos surgem nossas reflexões sobre o espaço habitável. As diversidades lingüísticas do espaço habitável estão relacionadas. (...). A criação do arquiteto aparece de modo que extrai aquilo essencial do conceito de arquitetura que passa desapercebido mas além do caráter vivente da casa. Ao dispor o modo como os demais vêem as coisas, se desvelam e se expressam os limites do espaço que um indivíduo pode visualizar no presente”.(KOJI apud ITO, 2006)
Toyo Ito deduz que há uma defasagem entre o corpo como “experiência vivida” e o “outro corpo”, que aspira a tal linguagem lírica (conotativa, subjetiva, pessoal), um corpo criado mediante a consciência ampliada da tecnologia moderna.

ITO, Toyo. Arquitetura dois limites difusos. Barcelona: Gustavo Gili, 2006
Trabalho da Laura Cantarelli In: Verb Connection, Actar, Barcelona, 2004.

Sunday, March 21, 2010




Nomades béberes e Moradias na caverna na Capadócia Turquia no livro "Cobijo"

"Morar de outras maneiras"

Mediações históricas e sociais
Partimos da idéia de que tudo o que diz respeito à produção, ao uso e aos significados da moradia é fruto de processos histórico-sociais. Nada do que a ela se relaciona agora pode, sem mais, ser dito arcaico, natural, arquetípico, essencial – enfim, ahistórico. Os homens da caverna dormiam, mas não como nós; estima-se que dormiam pelo menos 14 horas por dia e de modo intermitente. Os nômades se abrigam, mas o fazem sem construções permanentes em locais fixos. Os índios Maxacali tem um certo senso de privacidade, mas relacionam-no à mata e não à casa, que para eles é lugar público. Há inúmeros exemplos de diferentes épocas, regiões e culturas para contradizer cada um dos pretensos sentidos universais da moradia.
Poder-se-ia objetar que dormir, comer ou buscar abrigo seriam, afinal, atos comuns a toda a humanidade, passíveis de alterações históricas apenas quanto às suas formas de manifestação, mas não em sua essência. Porém, cabe contrapor que não é possível separar tais supostas essências (sejam de ordem biológica ou de alguma ordem imaterial) daquilo em que se transformaram ao longo da história da sociedade. O filósofo crítico Theodor Adorno faz uma constatação incisiva nesse sentido: "A fome, entendida como categoria da natureza, pode ser saciada com gafanhotos e bolo de pernilongos. Para saciar a fome concreta dos civilizados é preciso que tenham algo para comer de que não sintam nojo, e no nojo e em seu contrário reflete-se toda a história." Até a fome e o nojo, de todos os sentimentos talvez os menos suscetíveis ao controle do intelecto, são histórica e socialmente mediados. O que as pessoas reais sentem não é fome em geral, mas uma fome tão específica que certos alimentos lhe servem e outros não (e por vezes, essa distinção é mais determinante do que o medo da morte).
Analogamente, as pessoas reais não sentem necessidade ancestral de abrigo, nem desejo genérico de moradia. Elas têm necessidades e desejos concretos, moldados pela sua situação social e histórica, tanto naquilo que uma pessoa quer, quanto naquilo que ela rechaça. Não existe "um modo intemporal de construir" que "tem milhares de anos de antigüidade e é hoje o mesmo de sempre" . Não é verdade que "a casa sempre foi o indispensável e primeiro instrumento que ele [o homem] se forjou" ou que "todos os homens têm as mesmas necessidades" . Tampouco a moradia se rege por uma "dimensão existencial [que] não é determinada pelas condições sócio-econômicas" e cujos "significados transcendem a situação histórica" . O fato de os procedimentos mais triviais de sobrevivência social nas cidades brasileiras da atualidade exigirem o comprovante de residência talvez diga mais sobre a importância e as funções da moradia nesta sociedade do que o diz o conceito de ser-no-mundo. Morar não é uma operação abstrata; morar é sempre morar desta ou daquela maneira e numa sociedade, mesmo que se more deliberadamente afastado dela. Morar também não é uma operação primitiva, primordial; nada mais inglês e setecentista do que o modo como Robinson Crusoe organiza o espaço de sua ilha e seus afazeres cotidianos. Morar é, em suma, uma prática que se dá na história e no espaço sociais. E da mesma maneira que as moradias e suas características se produziram historicamente, elas podem se modificar ou desaparecer.

O texto inteiro está neste site: http://www.mom.arq.ufmg.br/
ou em:
KAPP, Silke; BALTAZAR DOS SANTOS, Ana Paula; VELLOSO, Rita de Cássia Lucena. Morar de Outras Maneiras: Pontos de Partida para uma Investigação da Produção Habitacional. Topos Revista de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 4, p. 34-42, 2006.

Thursday, March 11, 2010

A axiologia do “lugar”

“Não há espaço que não seja arquitetônico”.

O espaço funciona por referência extrínseca- conceito, abstração- para ser precisado necessita de adjetivo. O território funciona por referência intrínseca – prática, regras, condutas. O lugar funcionaliza o mundo.
"AXIOLOGIA (in. Axiology, fr. Axiologie, ai. Axiologie, it. Axiologid). A "teoria dos valores" ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Martins Fontes.

Entre as teorias sobre o espaço estão: o grupo das concepções do espaço e as teorias do espaço da cidade ou do urbano. A problemática do urbano é indissociável da interatividade seja doméstica e privada seja coletiva e/ou pública. No quadro destes estudos há aqueles que se debruçam especificamente sobre a lógica e a axiologia do lugar.
O lugar é algo que acompanha o homem, Jean François Lyotard chega a dizer que cada um carrega o seu consigo. Por outro lado, para a definição da estrutura do lugar há uma infinidade de teorias opostas desde o distante mundo cultural grego diz Josep Muntanola Thornberg.
Como indicam Aristóteles e Hegel, “o lugar é sempre lugar de algo ou de alguém”. O que interessa expor são as inter-relações entre este algo ou alguém que habita (ou tem relações com) o lugar e descrever o próprio lugar. Além disso, a capacidade de construir o lugar distingue o homem, ou melhor, a capacidade de “espaciar-se em um espaço” como diz Heidegger. Para ele, a comunicação lingüística no homem está subordinada ao seu "ser no mundo" que é espacial.
A arquitetura organiza os lugares para viver mediante a transformação da matéria física. Esta transformação tem a ver com este "espaciar-se em um espaço" heideggeriano.
Pode-se discriminar um grupo de ciências que se ocupam do lugar, tendo as via de análise predominante: operativa, figurativa, semiótica, e ainda tendo como objeto de análise a pessoa humana, a sociedade, o meio ambiente arquitetura e urbanismo, a tecnologia são apenas algumas das disciplinas.
Josep Muntanola Thornberg distingue autores que tratam a lógica do lugar, dentre estes estão Aristóteles e Hegel. Para Aristóteles o lugar não é um vazio espacial desassociado daquilo que preenche o lugar. Ao contrário é um "intervalo corporal" (Aristóteles) que pode ser ocupado sucessivamente por diferentes corpos físicos e que está criado pelo próprio lugar em si mesmo.
A noção de lugar de Aristóteles é muito "moderna", diz Thornberg pois está articulada à noção de limite. Donde existe uma "constância vicinal" entre o continente e o conteúdo. Esta noção de lugar se identifica com a noção de contato como limite dos corpos em afinidade, determinando-se num equilíbrio variável, e cada vez mais difuso em relação à medida que nos afastamos da escala humana
Para Hegel, lugar é tempo no espaço. Além disso, entre espaço e tempo distingue duas uniões: o movimento e a matéria. A primeira é o movimento, passagens entre espaço e tempo e espaço, e também pode ser definida como mudança de lugar. La segunda unia- espacio-temporal é a matéria, é a existente união do espaço e do tempo, por uma parte, e do lugar e do movimento, por outra parte (ver Thonemberg p. 19).
Josep Muntanola Thornberg explica que a abordagem sobre a lógica do lugar realista, física e geométrica é contraposta pela axiologia do lugar (valores espaciais). Thonemberg destaca neste contexto Gaston de Bachelard.
“Tornar geométrica a representação, isto é, delinear os fenômenos e ordenar em série os acontecimentos decisivos de uma experiência, eis a tarefa primordial em que se firma o espírito científico. De fato, é desse modo que se chega à quantidade representada, a meio caminho entre o concreto e o abstrato, numa zona intermédia em que o espírito busca conciliar matemática e experiência, leis e fatos. Essa tarefa de geometrização que muitas vezes pareceu realizada — seja após o sucesso do cartesianismo, seja após o sucesso da mecânica newtoniana, seja com a óptica de Fresnel — acaba sempre por revelar-se insuficiente. Mais cedo ou mais tarde, na maioria dos domínios, é forçoso constatar que essa primeira representação geométrica, fundada num realismo ingênuo das propriedades espaciais, implica ligações mais ocultas, leis topológicas menos nitidamente solidárias com as relações métricas imediatamente aparentes, em resumo, vínculos essenciais mais profundos do que os que se costuma encontrar na representação geométrica. Sente-se pouco a pouco a necessidade de trabalhar sob o espaço, no nível das relações essenciais que sustentam tanto o espaço quanto os fenômenos. O pensamento científico é então levado para "construções" mais metafóricas que reais, para "espaços de configuração", dos quais o espaço sensível não passa, no fundo, de um pobre exemplo. (BACHELARD, 1995).
Gaston de Bachelard incentiva a ruptura com o racionalismo da ciência para ele deve-se esquecer este saber, se a proposta é estudar os problemas colocados pela imaginação poética.
“Só a fenomenologia, isto é, o levar em conta a partida da imagem numa consciência individual – pode ajudar-nos a restituir a subjetividade das imagens e a medir a amplitude, a força, o sentido da transubjetividade da imagem”.
Bachelard faz distinção entre imagem e conceito. A imagem é vivida, o conceito é construído, são termos que não admitem síntese. Estão em dois pólos divergentes da vida, intelecto e imaginação. O conceito é um centro de significação isolado. Já na imagem tem autonomia em relação aos seus objetos. A imagem ultrapassa sua significação: “A imagem poética é essencialmente variacional. Ela não é como o conceito, constitutiva” (BACHELARD, 1996). A imagem possui uma existência que lhe é própria, singular, é produto da criação, ela não é derivada da experiência.
Christian Norberg-Schulz, no quadro da fenomenologia heideggeriana, parte do mundo-da-vida cotidiana que consiste de “fenômenos concretos” e os menos tangíveis como sentimentos. Assim, interessado nas qualidades complexas dos lugares abre mão de conceitos analíticos científicos, aponta como Bachelard a poesia, como fonte de informação sobre os lugares. Interessa-se pela estrutura do lugar.

referências
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes. 1995
BACHELARD, Gaston. O novo espírito científico. Lisboa: Edições 70, 1996
NORBERG-SCHULZ, Christian. O fenômeno do lugar. In: NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a. arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006
THORNBERG, Josep Muntanola La Arquitectura Como Lugar. Barcelona. Editorial Gustavo Gili, S.A., 1974

Friday, March 05, 2010

SOBRE O CONCEITO DE CASA

Este texto é uma transliteração/ resumo comentado do texto de Zezinho Lira.

LIRA, José tavares Correia de. Sobre o conceito de casa ou como ver o objeto por excelência do arquiteto sem sair de casa. São Paulo. Revista Caramelo, FAUUSP, N. 5. s. d.


O termo casa está ligado a um universo extremamente largo de significações. Não se refere apenas a um edifício destinado à habitação, uma morada e suas dependências, podem comportar toda uma dimensão diferencial e simbólica. Há termos relacionados a casa tal como economia, palavra que vem do grego oikós (casa) nomia (regras) que significa a “arte de administrar a casa”, as propriedades de terra, os recursos materiais, e também as relações matrimoniais, paternas, maternas. Do mesmo modo há uma “engenharia da casa”: uma “parafernália” constituída de objetos úteis à vida da casa, que tem também interesse arqueológico quando perdem a validade ou atualidade.
Desde a sociedade disciplinar , os habitantes medidos (nomeados, numerados, normatizados) e distribuídos hierarquicamente no espaço funcional moderno. A cidade moderna expressa o ideário técnico e científico burguês e “legou uma concepção de casa e família radicalmente modificada”. A cisão entre trabalho e moradia expressa a distância entre o espaço rural, da manufatura, da burocracia, do lazer e do repouso, e coloca formas progressivamente especializadas de localização e de contatos sociais cronometrados, tempo e espaços individualizados, deslocamentos geométricos, transformando a rotina e os abrigos. Entretanto a casa moderna transcende aquilo que se entende por abrigo (LIRA, s. d.).
A habitação deixará de ser encarada à maneira de um envoltório, no qual “gerações sucessivas e descendências seriam entrelaçadas por tradições estáveis e referências de origem precisas”. A moral burguesa investe na construção de um indivíduo autônomo que reivindica propriedades, intimidade e privacidade. Contudo, depois do século XIX, “a casa é atravessada pelo fio de prumo da racionalidade da ciência, desencantada de sua relação com aspectos ecológicos e aspectos diversos da vida comunitária” (LIRA, s. d.).
Se os acontecimentos da casa grega não eram assuntos a serem tratados na ágora, na esfera pública, as necessidades humanas, que incluem todos os aspectos da produção e reprodução passam a ser assuntos públicos, de governo e da esfera pública na sociedade moderna e industrial. Os arquitetos aderem a este novo programa para habitação. Os Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna, particularmente os de Frankfurt em 1929 e Bruxelas em 1930, são marcos da equiparação doutrinária da casa racional à máquina de morar corbusiana e da casa-ração de Walter Gropius (LIRA, s. d.).
A casa torna-se “espaço estratégico da formação do homem civilizado” que confirma o padrão técnico e científico da casa higiênica. A casa máquina é mercantil, os prazeres realizados no espaço doméstico são cada vez mais “alicerçados em uma economia da equipagem, do conforto ambiental e do bem estar” (LIRA, s. d.).
No período contemporâneo, o filosófo Gilles Deleuze observa que “a família, a escola, o exército, a fábrica não são mais espaços analógicos distintos que convergem para um proprietário, Estado ou potência privada, mas são agora figuras cifradas, deformáveis e transformáveis, de uma mesma empresa que só tem gerentes. Até a arte abandonou os espaços fechados para entrar nos circuitos abertos do banco” (DELEUZE, 1992). Deste modo, espera-se que a forma, a estrutura, a equipagem, o espaço da habitação deveriam acompanhar espacialmente as novas formas de controle, novos programas sociais, culturais e para o mundo do trabalho, novos modos de vida urbana e doméstica.

Sobre a sociedade disciplinar
Sociedades disciplinares refere-se a um termo criado por Michel Foucault para discriminar a rede de instituições disciplinares e seus mecanismos de exercício do poder, enquadram-se entre essas instituições a família, a escola, o quartel, a fábrica, o hospital e a prisão. O indivíduo não cessava de passar de um espaço fechado ao outro: família, escola, fábrica, universidade e eventualmente prisão ou hospital. Esta organização de grandes meios de confinamento, os quais tinham como objetivo concentrar e compor, no tempo e no espaço, uma forma de produção cujo efeito deveria ser superior à soma das partes. A existência de mecanismos disciplinares é anterior ao período que Foucault denominou como sociedade disciplinar, mas antes existiam de forma isolada, fragmentada. O padrão de visibilidade das sociedades disciplinares projectou-se no interior dos prédios das instituições, que passaram a ser construídos para permitir o controle interno In. POMBO, Olga. Da Sociedade disciplinar à Sociedade de controle. http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/sociedade%20disciplinar/index.htm
Ver tbm. DELEUZE, Gilles. Pós scriptum. A Sociedade Mundial de Controle. In. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 1992.

Sunday, June 07, 2009

INSTRUMENTOS DE NAVEGAÇÃO. CAPÍTULO 12 . INTELIGÊNCIA COLETIVA

Alunos: Clarice/ Gabriela/ Giovanna/ Natália/ Patrick


CAPÍTULO 12. INSTRUMENTOS DE NAVEGAÇÃO


O texto faz referência inicial à época anterior aos séculos XV e XVI, período das Grandes Navegações, quando o homem utilizava relatos para se localizar. Esses relatos por mais eficazes que fossem, eram muito mais descritivos do que funcionais, sua compilação em portulanos auxiliava na localização e viagem dos navegantes, todavia, existiam muitos relatos em branco, os quais eram preenchidos com histórias fantasiosas e mitos que se tornavam símbolos de grande força.
Nessa época, além da grande utilização da bússola, instrumento terrestre, o qual auxiliava na orientação a partir de um norte magnético; existiam também os algoritmos que eram mais eficazes do que os portulanos para navegação, vez que era uma descrição seqüencial de ações a serem tomadas pelos navegantes durante suas viagens.
Devido às necessidades de se navegar em mares desconhecidos, os portulanos e algoritmos não serviam mais, era também grande a dificuldade em encontrá-los. Fez-se necessário criar, então, uma espécie de território, o qual, em um campo abstrato e imóvel, far-se-iam projeções sobre o céu na terra, as quais funcionariam para localização dos viajantes. Essa localização era definida a partir da criação de pontos especificados neste território abstrato depois de sua divisão quadrangular. Os instrumentos utilizados na época se voltavam consequentemente à orientação pelo território do céu, tais instrumentos eram basicamente o quadrante e o astrolábio, que definiam de acordo com a altura da Estrela Polar ou do Sol a latitude e a longitude. Com a nova definição de espaço, a Terra é quadriculada e cercada por uma rede que cai do céu, e cada ponto possui a partir de então coordenadas e um endereço, mesmo que não seja assim desejado. Os relatos e os algoritmos dão lugar ao sistema do qual a geografia científica só é um caso particular. Esse sistema permite orientar-se onde ninguém jamais antes esteve, e permite realizar com certeza e precisão resultados de uma operação bem efetuada.
No espaço da mercadoria já não é possível fixar pontos em um sistema, visto que tudo circula e flutua incessantemente. A inércia do Território é forte, seus pontos de referência, fixos. O espaço econômico é móvel, relativista, sendo que nele é o terreno que viaja e se transforma. As mercadorias circulam, seus preços flutuam, possuem valores diferentes em um lugar ou em outro no mesmo instante, os sistemas de produção evoluem. O valor e a organização dos conhecimentos dependem estreitamente de um contato cultural, social e profissional cambiante.
A dificuldade no Espaço do saber consiste em organizar o organizador, objetivar o subjetivante. O saber sobre o saber deriva de uma circularidade essencial, originária, inelutável.
Para auxiliar o espaço das mercadorias, surge no século XVII, as estatísticas e probabilidades e seu desenvolvimento acompanha a expansão capitalista. Com esse mapa móvel os comerciantes terão como base os índices, taxas, médias, demanda e todos os itens suficientes para se adequares a esse espaço imprevisível, onde tudo circula e flutua. Porém as estatísticas escondem de os exemplos particulares, ocorre generalização o que deixa por vezes um caso isolado no esquecimento. As estratégicas são submetidas à lei de grandes números, levando à probabilidades assim as qualidades são reduzidas a quantidades.
Considerando que o espaço do saber não pode apoiar-se na estatística puramente quantitativa à maneira mercantil, ou uma organização transcendente como o território, o cinemapa desenvolve espaço qualitativamente diferenciado. A organização desse espaço vai mostrar essa complexidade de relações que os objetos ou atores do universo informacional mantêm uns com os outros.
O cinemapa consegue dar tributo diferente, para cada lugar, com suas peculiaridades. Para cada ponto mostra investigações mais profundas, fornecem detalhamentos: o cinemapa é um mosaico móvel em permenente recomposição, onde cada figura é completa, mas adquire valor e sentido na configuração geral.
Ele permite ler uma situação, um espaço qualitativo. Grupo humano para utiliza-lo precisa intelectual coletivo. Assim, o cinemapa é uma realidade virtual , um ciberespaço.