Saturday, January 26, 2013

Imaginação 1 processo criativo

O mito expressa o mundo e a realidade humana, mas cuja essência é efetivamente uma representação coletiva, que chegou até nós através de várias gerações. [narrativa]. E, na medida em que pretende explicar o mundo e o homem, isto é, a complexidade do real, o mito não pode ser lógico: ao revés, é ilógico e irracional.

(...) Decifrar o mito é, pois, decifrar-se. E, como afirma Roland Barthes, o mito não pode, consequentemente, "ser um objeto, um conceito ou uma ideia: ele é um modo de significação, uma forma".Assim, não se há de definir o mito "pelo objeto de sua mensagem, mas pelo modo como a profere".
A constituição de um mito é um processo da imaginação tráz carcaterísticas de uma imagem. Guardada alguma distância sobre a relação com um passado imemorial que o mito está condicionado, como na poesia pode-se dizer que para o mito como imagem singular (e também coletiva)a sua comunicabilidade "é um fato de grande significação ontológica" como diz Gaston de Bachelard, referindo-se à poesia.
O processo criativo requer um conjunto de faculdades e capacidades como memória e imaginação. Mas o que são e como "funcionam" a memória, a imaginação, a sensação, a percepção
Quais as outras perguntas que se fazem sobre essas faculdades?
Faculdade: poder de efetuar uma ação física ou mental; capacidade.
Livros com asas de Anselm Kieffer
  Capítulo 4 - A imaginação (Chauí, p. 165)
Positiva ou negativamente, a imaginação está referida ao inexistente
A imaginação aparece como algo que possui graus, isto é, pode haver falta ou excesso. A imaginação surge, assim, como algo impreciso, situada entre dois tipos de invenção – criação inteligente e inovadora, de um lado; exagero, invencionice, mentira, de outro.
O poeta Manoel de Barros tira partido disso:
“O olho , a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo.”
“tudo o que não invento é falso” 

UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO, VII
No descomeço era o verbo.Só depois é que veio o delírio do verbo.O delírio do verbo estava no começo, lá.onde a criança diz: Eu escuto a cordos passarinhos.(...) se a criança muda a função de um verbo, ele delira.E pois.Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de  fazer nascimentos.O verbo tem que pegar delírio. 
O inventor aumenta o mundo.”

A imaginação na tradição filosófica

A tradição filosófica sempre deu prioridade à imaginação reprodutora, considerada como um resíduo do objeto percebido que permanece retido em nossa consciência. A imagem seria um rastro ou um vestígio deixado pela percepção.
Os empiristas, por exemplo, falam das imagens como reflexos mentais das percepções ou das impressões, cujos traços foram gravados no cérebro. Desse ponto de vista, a imagem e a lembrança difeririam apenas porque a primeira é atual enquanto a segunda é passada.

A imagem seria, portanto, a reprodução presente que faço de coisas ou situações presentes para os empiristas.
Os filósofos intelectualistas também consideravam a imaginação uma forma enfraquecida da percepção e, por considerarem a percepção a principal causa de nossos erros (as ilusões e deformações da realidade), também julgavam a imaginação fonte de enganos e erros.
Descartes Imaginação origem do erro.

A precipitação, que é a facilidade e a velocidade com que nossa vontade nos faz emitir juízos sobre as coisas antes de verificarmos se nossas ideias são ou não são verdadeiras. São opiniões que emitimos em consequência de nossa vontade ser mais forte e poderosa do que nosso intelecto.
Originam-se no conhecimento sensível, na imaginação, na linguagem e na memória. Chauí, Convite à filosofia
Na Enciclopédia (discurso preliminar de D’Alembert) “Memória, Razão e Imaginação” são as três faculdades do conhecimento humano. Razão e imaginação são filhas da memória.
A organização de sua arvore enciclopédica obedece ao processo natural das operações do espírito.A imaginação depende da razão porque antes de criar o artista concebe/pensa.Na criação de objetos, a imaginação depende da memória, porque somente imagina objetos semelhantes aos que conhece (ideias e sensações). 
Na Enciclopédia, a Belas Artes são produtos da imaginação. Na imitação da natureza, a invenção está sujeita a regras, que formam principalmente a parte filosófica das Belas Artes.Mas, a invenção mesmo é obra do gênio, que prefere criar a discutir. Incompatibilidade entre conteúdo e prática.A imaginação no século XVIII não é mais o lugar do erro (semelhança), nem sequer a louca da casa desde que siga regras de utilidade e bom-senso. 

Mas “a veemência é loucura”.
A imaginação são colocados limites desde de regras ao desvio destas: “Quanto mais longe da semelhança mais próximo de excelência”.
 Imagem: Dom Quixote e Sancho Pança de Picasso
A imaginação seria, pois, diretamente reprodutora da percepção, no campo do conhecimento, e indiretamente reprodutora da percepção, no campo da fantasia. Por isso, na tradição filosófica, costumava-se usar a palavra imaginação como sinônimo de percepção ou como um aspecto da percepção. Percebemos imagens das coisas, dizia a tradição. Chauí, Convite à filosofia

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