Monday, May 18, 2009

O QUE É UM ESPAÇO ANTROPOLÓGICO?

O QUE É UM ESPAÇO ANTROPOLÓGICO?
In. A Inteligência Coletiva LÉVY. Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo Loyola, 2003.
Multiplicidade dos espaços de significação
Há diferentes espaços gerados pela interação entre as pessoas, as situações, as trocas de mensagens e representações, que denominam-se espaços plásticos. O homem vive constantemente produzindo, transformando e administrando os espaços que se criam e entrelaçam.
Os espaços são estruturados pelas pessoas, pelas palavras, imagens e conceitos, de acordo com a intensidade afetiva que os ligam. Assim, os espaços podem se curvar e deformar em torno dos objetos que os contêm e organizam, podendo ser mais duráveis ou passageiros.
Espaços maiores existem, por exemplo, na escala das instituições, grupos sociais, conjuntos culturais, etc, e que envolve elementos não humanos como sistemas de signos, armas, vírus, etc.
A importância de um acontecimento é reconhecida por sua capacidade de reorganizar as proximidades e as distâncias nos espaços, “quando não seu poder de instaurar novos espaços-tempos, novos sistemas de proximidades”.
Além do espaço físico ou geométrico existe também os espaços de significação, que compreende espaços afetivos, estéticos, sociais, históricos, entre outros.
“Vivemos em milhares de espaços diferentes, cada uma com seu sistema de proximidade particular (temporal, afetiva, lingüística etc.), de modo que uma entidade qualquer pode estar próxima de nos em um espaço e bem distante em outro.”(...)
“Dessa forma, passamos nosso tempo a modificar e a administrar os espaços em que vivemos, a conectá-los, a separá-los, a articulá-los, a endurecê-los, a neles introduzir novos objetos, a deslocar as intensidades que os estruturam, a saltar de um espaço a outro.”
Os espaços antropológicos são estruturantes, vivos, autônomos, irreversíveis
Os espaços antropológicos são constituídos de uma multiplicidade de espaços interdependentes. Os quatro espaços antropológicos (Terra, Território, Espaço das mercadorias e Espaço do Saber) são estruturantes e contém vários espaços diferentes. Eles são produzidos pelos processos e interações que neles acontecem.
O Espaço do saber não deve ser confundido com um recipiente que contém todos os saberes possíveis. O espaço do saber produz uma forma específica de saber, reorganiza, hierarquiza e insere em seu meio ativo os modos de conhecimento resultantes dos outros espaços antropológicos.
Da mesma forma que o Espaço das mercadorias não é a “economia”, mas supera o domínio da produção e das trocas econômicas para englobar quase todos os aspectos da vida humana. Assim o Espaço das mercadorias cresceu e se desenvolveu de maneira autônoma, auto-organizada, criadora e destruidora.
Os espaços antropológicos ganharam consistência, autonomizaram-se até se tornarem irreversíveis. A irreversibilidade é a qualificação dos espaços antropológicos.
Cada espaço antropológico produz sua própria estrutura com a devida autonomia. Apesar de parecerem se sobrepor, eles se permeiam e coexistem, uma vez que não devem ser entendidos como meio físico ou objeto, mas sim algo mais abstrato, tangendo o limiar da emoção e relação entre tudo aquilo que existiu, existe e existirá. Nesse sentido, podem ser entendidos como “planos de existência” com velocidades de processamento diferentes e que se renovam dinamicamente.
Estes espaços podem ser classificados em quatro esferas: a Terra, que é a freqüência básica, pré-existente e possui uma velocidade acima da compreensão da vida animal, ou seja, intangível; o Território, que passa a ser a inserção do indivíduo na Terra, e o estabelecimento de uma velocidade perceptível e de uma forma de organização da relação espaço-indivíduo, indivíduo-indivíduo, e espaço-espaço; o Espaço das mercadorias, baseado na aceleração, inserida pelo capitalismo; e, ao final, o Espaço do saber, constituído pelas redes digitais, universos virtuais e vida artificial, uma vez que não se constitui do ‘conhecimento’, mas da troca de informações dentro de uma ‘inexistência física’ ou ‘surreal’.
O autor pontua que “não havia necessidade alguma no surgimento dos espaços antropológicos”, negando assim, de certa forma, o processo de evolução que estabeleceu a contemporaneidade. A exemplo, cita as antigas civilizações, grega, egípcia, mesopotâmica, romana e chinesa, como grandes impérios que poderiam apenas ter continuado a sucessão do que já havia se estabelecido no Espaço do Território, ou seja, na esfera organizacional entre indivíduos e espaço físico. Dessa forma, condena o desencadeamento do capitalismo por volta do século XVI como forma de aniquilamento da memória, cultura e linguagem através da aceleração do processo histórico e unificação das tão diferenciadas sociedades em prol da economia.
A cartografia antropológica pode ser entendida não a partir da classificação e isolamento, mas sim pela processo ‘quase cronológico’, ou melhor, uma espécie de processo temporal vista sob o foco atemporal, em que estão aplicadas as relações, situações e emoções de tudo presente no cosmos, sob a forma de um desenvolvimento natural desordenado (não linear).
Ao final, o autor destaca que sob quaisquer circunstâncias as quatro esferas do espaço antropológico, a Terra, o Território, o Capital, e o Espaço do saber coexistem em toda parte, diferentemente, descoordenadamente e sob a inegável necessidade atual de existirem.


Autores: Bárbara Lyrio Fernandes Frazão, Bárbara de Araújo Torres e Renata Collodetti

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