Saturday, May 23, 2009

CAPÍTULO 10 – SEMIÓTICAS

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva. São Paulo: Loyola, 2007.

ALUNOS: Letícia Colnago e Renan Grisoni

 

RESUMO - CAPÍTULO 10 – SEMIÓTICAS

Cada espaço antropológico desenvolve um regime de signos, uma semiótica específica.

A semiótica da Terra, ou a presença

Na Terra, o signo participa do ser, e o ser do signo. Aqui, tudo nos fala. Animais e pessoas, astros e climas, formas e detalhes nos fazem sinal, remetem a relatos, discursos, rituais. Simetricamente, o signo é um atributo, uma parte ativa da coisa, do ser ou da situação que ele qualifica. Graças ao sopro que o leva, o signo não se separa jamais de uma presença. As falas são atos, exercem poderes, destroem e criam. Atos divinos ou rituais humanos são gestos e cantos que sustentam o mundo. Tal é o regime semiótico dos “primitivos”, dos animistas, das culturas anteriores à escrita, das crianças muito pequenas.

 

A semiótica do Território, ou o corte

No Território, a fala é destacada do sopro vivo e fixada em um suporte inerte, é sedentarizada pela escrita.  As coisas às quais remetem esses signos talvez estejam muito longe, ou tenham passado há muito tempo. Os signos representam as coisas: tornam presentes as coisas ausentes. O vínculo cambiante, vivo, atual entre os seres, os signos e as coisas é diferido. As separações e as fronteiras que quadriculam o Território insinuam-se no centro das relações de significação: o corte semiótico está instituído. Entre os signos e as coisas interpõe-se de agora em diante o Estado, a hierarquia e seus escribas. Doravante, o signo representa. O signo é arbitrário. É transcendente. O signo está presente, mas sem possuir, é claro, a dignidade ontológica e a imanência da coisa terrestre. É um ser menor.

 

A semiótica da Mercadoria, ou a ilusão

No espaço das mercadorias, já não é apenas a fala que está separada de uma situação viva. Quadros e rostos, paisagens e músicas, ritos e espetáculos, todos os tipos de acontecimentos são indefinidamente reproduzidos e difundidos fora de seu contexto de surgimento. Multiplicado pela mídia, levado por mil vias e canais, o signo é desterritorializado. No Espaço das mercadorias, os fluxos de signos correm desenfreados. O corte funcionou tão bem que a transcendência não vincula mais. Na semiótica mercantil, o signo já não representa, ele traça. Já não é um representante com o crédito de uma transcendência, mas um vírus, trabalhando para se reproduzir, competindo em velocidade com outros vírus para ocupar o espaço midiático. É isso o espetáculo: todo o real é passado para o lado do signo. Os fatos, as pessoas, as obras são signos e são tratados, reproduzidos, difundidos como tais.

 

O Espaço do saber, ou a produtividade semiótica

A semiótica do Espaço do saber define-se pelo retorno do ser, da existência real e viva, na esfera da significação. No Espaço do saber, os intelectuais coletivos reconstituem um plano de imanência da significação no qual os seres, os signos e as coisas voltam a encontrar uma relação dinâmica de participação recíproca, escapando às separações do Território, assim como aos circuitos espetaculares da Mercadoria. O retorno do real na esfera da significação supõe o envolvimento dos sujeitos vivos; mas sugere também que o espaço dos signos torna-se sensível, semelhante a um espaço físico (ou a vários!): que possamos entrar nele, observar a nós próprios, encontrar os outros, explorá-lo, apalpá-lo, modificá-lo. De um espaço a outro, tornar real, dar vida é conduzir ao dia claro do sentido, manifestar por meio de signos. Entre os seres humanos, o que não foi cantado não existe.  

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