O mito expressa o mundo e a realidade
humana, mas cuja essência é efetivamente uma representação
coletiva, que chegou até nós através de várias gerações. [narrativa]. E, na medida em que pretende explicar o
mundo e o homem, isto é, a complexidade do real, o mito não pode ser lógico: ao
revés, é ilógico e irracional.
(...) Decifrar o
mito é, pois, decifrar-se. E, como afirma Roland Barthes, o mito não pode, consequentemente,
"ser
um objeto, um conceito ou
uma ideia: ele é
um modo de significação, uma forma".Assim, não se há de definir o mito "pelo
objeto de sua mensagem, mas pelo modo como a profere".
A constituição de um mito é um processo da imaginação tráz carcaterísticas de uma imagem. Guardada alguma distância sobre a relação com um passado imemorial que o mito está condicionado, como na poesia pode-se dizer que para o mito como imagem singular
(e também coletiva): a sua comunicabilidade "é um fato de grande significação ontológica" como diz Gaston de Bachelard, referindo-se à poesia.
O processo criativo requer um conjunto de faculdades e capacidades como memória e imaginação. Mas o que são e como "funcionam" a
memória, a
imaginação, a sensação, a percepção?
Quais as outras perguntas que se fazem
sobre essas faculdades?
Faculdade: poder de efetuar uma ação
física ou mental; capacidade.
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Livros com asas de Anselm Kieffer |
Capítulo 4
- A imaginação (Chauí, p. 165)
Positiva ou negativamente, a imaginação
está referida ao inexistente.
A imaginação aparece como algo que possui graus, isto
é, pode haver falta ou
excesso. A imaginação surge, assim, como algo
impreciso, situada entre dois tipos de invenção –
criação inteligente e inovadora, de um lado; exagero, invencionice,
mentira, de
outro.
O poeta Manoel de Barros tira partido
disso:
“O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação
transvê. É preciso
transver o
mundo.”
“tudo o que não invento é
falso”
UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO, VII
No descomeço era o verbo.Só depois é que veio o delírio do verbo.O delírio do verbo estava no começo, lá.onde a criança diz: Eu escuto a cordos passarinhos.(...) se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.E pois.Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos.O verbo tem que pegar delírio.
“O inventor aumenta o mundo.”
A imaginação na tradição filosófica
A tradição filosófica sempre deu
prioridade à imaginação reprodutora, considerada como
um resíduo do objeto percebido que permanece retido em
nossa consciência.
A imagem seria um rastro ou um vestígio deixado pela percepção.
Os empiristas, por exemplo, falam das
imagens como reflexos mentais das percepções ou
das impressões, cujos traços foram gravados no cérebro. Desse
ponto de
vista, a imagem e a lembrança difeririam apenas porque a primeira é
atual enquanto
a segunda é passada.
A imagem seria, portanto, a reprodução
presente que
faço de coisas ou situações presentes para os empiristas.
Os filósofos intelectualistas também
consideravam a imaginação uma forma enfraquecida da
percepção e, por considerarem a percepção a principal causa de
nossos erros
(as ilusões e deformações da realidade), também julgavam a
imaginação fonte
de enganos e erros.
Descartes Imaginação origem do erro.
A precipitação, que é a facilidade e
a velocidade com que nossa vontade nos faz emitir juízos sobre as coisas antes de
verificarmos se nossas ideias
são
ou não
são verdadeiras.
São opiniões que emitimos em consequência de
nossa vontade
ser mais
forte e poderosa do que nosso intelecto.
Originam-se
no conhecimento
sensível, na
imaginação, na linguagem e na memória. Chauí, Convite à filosofia
Na Enciclopédia (discurso preliminar de
D’Alembert) “Memória, Razão e Imaginação” são as três faculdades do
conhecimento humano. Razão e imaginação são filhas da memória.
A organização de sua arvore enciclopédica
obedece ao processo natural das operações do espírito.A imaginação depende da razão porque
antes de criar o artista concebe/pensa.Na criação de objetos, a imaginação
depende da memória, porque somente imagina objetos semelhantes aos que conhece
(ideias e sensações).
Na Enciclopédia, as Belas Artes são produtos da
imaginação. Na imitação da natureza, a invenção está
sujeita a regras, que formam principalmente a parte filosófica das Belas Artes.Mas, a invenção mesmo é obra do gênio,
que prefere criar a discutir. Incompatibilidade entre conteúdo e prática.A imaginação no século XVIII não é mais o
lugar do erro (semelhança), nem sequer a louca da casa desde que siga regras de
utilidade e bom-senso.
Mas “a veemência é loucura”.
A imaginação são colocados limites desde
de regras ao desvio destas: “Quanto mais longe da semelhança mais próximo de
excelência”.
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Imagem: Dom Quixote e Sancho Pança de Picasso
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A imaginação seria,
pois, diretamente reprodutora da percepção, no campo do
conhecimento,
e indiretamente reprodutora da percepção, no campo da fantasia. Por isso, na tradição filosófica,
costumava-se usar a palavra imaginação como sinônimo de
percepção ou como um aspecto da percepção. Percebemos imagens
das coisas,
dizia a tradição. Chauí, Convite à filosofia