“Uma obra clássica de arquitetura é um mundo dentro do mundo. Está separada do entorno pela precisão de suas partes e pela forte demarcação de seus limites. Em contraste com o que a rodeia é completa e total tem unidade. Estas noções de completo, total e unidade, chegam ao pensamento arquitetônico por intermédio da Poética de Aristóteles” Tzonis, Lefraive e Bilodeau
Ordem e mímese organizam o projeto clássico, o discernem dos demais modos de fazer arquitetura. Ordem coloca o problema da conexão entre formas e mímese como constituição da representação. O problema da ordem é sintático, definir elementos, de estabelecer leis de organização da composição.
O classicismo é um fenômeno cultural. Aponta uma hierarquia social. Tem um caráter iconológico, um sistema de signos que para ser lido, depende de um conhecimento prévio, uma iniciação. É um problema morfológico, na medida em que, os edifícios clássicos revelam uma maneira de tratar os problemas da estabilidade das construções, do controle bioclimático e do habitat. Expressam uma poética, pois, revelam algo mais que sua organização sintática, baseada em princípios estilísticos. A poética da ordem quer descobrir na natureza a ordem evidente das coisas, e ter consciência da norma imanente na relação entre homens e coisas.
A obra clássica e o entorno devem manifestar a diversidade de suas características.
Ordem: o todo é tripartite, tem início, meio e fim. A finalidade da ordem é produzir um objeto que não seja contraditório.
Aspectos didáticos da teoria clássica: simetria, analogia, conceito de metáfora, superposição, justaposição, repetição. É um sistema gerador.
Poética do classicismo: o todo é tripartite e tem uma disposição ordenada de suas partes, imperativos que se denominam taxis.
A fórmula tripartite (ritmo, harmonia e metro) vigora na relação interna e inter-relação das partes constituintes da obra. Esta metodologia teve origem n poética de Aristóteles. A finalidade do todo e da divisão das partes em 3 partes, é ser facilmente apreendido pela memória.
Vitrúvio (50 anos, d. c.) a taxis era empregada como um processo normativo de concepção. Uma trama normativa, um sistema de linhas e planos, eixos e superfícies, limites reguladores que garantem que a matéria se disponha por meio de leis.
Em Vitrúvio, a arquitetura é ordenação, relações entre as medidas dos membros do edifício, proporção do conjunto, simetria, eleição de unidades modulares que unem os elementos e o efeito harmonioso do conjunto resultante destas relações. Euritimia relações entre os módulos das colunas e seu espaçamento, assim como dos outros elementos do edifício.
Simetria é fundamental na obra clássica, é o acordo harmonioso entre as partes e membros do edifício, correlação modular entre as partes e o todo. A simetria é efetuada pela proporção, que por sua vez é obtida pela subordinação dos membros a um módulo, cujo parâmetro é o corpo humano. Vitrúvio ainda relata do agenciamento, distribuição e conveniência, relativos a escolha de partes, volumes e ao caráter do edifício.
Linhas reguladoras de alinhamento, intercessões geométrica seção do ouro, contornos, eixos (Durand / séc. XIX). Taxis é um instrumento de controle projetual.
Os modos do classicismo: dórico, jônico e coríntio, não diferem na maneira de ordenar o espaço, mas em certas características figurativas, numa relação básica de largura e altura: modo. Modulação, uma diferença técnica de composição. Vitrúvio denominava de genera, ligando as ordens à natureza. Identificando-as pelo elemento coluna.
O classicismo é uma investigação intelectual que usa os meios formais de que dispõe como potenciações e limitações.
Métrica: distribuições de acentos no espaço, ritmo das colunas, intercolúnios e diâmetros das colunas (módulo). Motivo arquitetônico: repetição, coluna, intervalo, contraste.
Os tratados ligavam a arquitetura e Antigüidade (História), assegurando a transmissividade e a perfeição das experiências.
A tratadística de Alberti classificava os fenômenos em categorias essenciais: função primeira/ construção e função simbólica/representação.
Leon Alberti em De Re Aedificatoria, Os dez livros da arquitetura, estabelece uma dialética entre antigüidade e presente. Alberti discute menos a arquitetura que suas condições preliminares, a concepção e a vontade de construir. A partir da exigência de construir e da dimensão em que se coloca a profissão de arquiteto, demonstra que a cidade é uma entidade histórico-política. O tratado de arquitetura de Alberti é uma urbanística.
O De Re Aedificatoria de Alberti difere do De Architectura de Vitrúvio, para quem a arquitetura se enquadra no campo vasto das técnicas da construção, sendo seu momento artístico. Para Alberti arquitetura se enquadra no âmbito da cidade, interpretação e comunicação das formas visíveis. História é sucessão determinada e fatal de acontecimentos, é preciso partir da tradição, critica a cidade medieval, sem ordem preestabelecida, que são estruturas portantes dissociadas, dispersas e com ornamentos incoerentes.
No Tratado da pintura Alberti relata uma teoria da perspectiva, parte do ponto de vista dos artistas, pois, eles representam a história, a ação. O De re aedificatoria pertence a filosofia da arte. Neste, Alberti distingue duas categorias: ornamento (beleza acrescentada) e estrutura (beleza inata). Ornamento constitui-se de formas expressivas, mostra os conteúdos das instituições (coisa pública) civis, religiosa, legislativas e militares: Interligam monumento e cidade. Cidade não é mais um espaço fechado para proteção, mas um centro de poder, com atividades mercantis e produtivas. Um estado é também um discurso, é retórica. O ornamento, a beleza acrescentada, deve se integrar à beleza inata das estruturas. Para Alberti, o problema do significado é maior que o da ordem matemática.
Alberti nos tratados da pintura e estátua trata a imitação como um processo intelectual e não mecânico, é preciso que seja representação (modalidade de conhecimento) e não cópia. Porém, a arquitetura, vai além, porque modifica a natureza, esclarece as diferenças entre devir da natureza e ação humana. A cúpula de Brunelleschi é sua referência não representa o espaço, porém o realiza, une história e invenção.
Emulação e superação dos antigos são maneiras de relacionamento com os antigos até Michelangelo. Os modernos podem superar os antigos porque contam com o privilégio da revelação são cristãos. Os antigos servem de espelho para serem emulados (rivalizados).
Mímese / imitatio é um problema social, de educação, de cultura, de bom gosto, de intensificar contato com uma época áurea, em que o controle do saber não estava na mão do clero. A atitude de imitatio demonstra genealogia nobre e está ligada à retórica, à propriedade do discurso, ao verossímil e ao necessário.
Alteração fundamental no problema da mímese no renascimento ocorre na passagem de uma posição poética (taxis) para uma posição retórica, em que se ultrapassa uma relação interna e estrutural visando tornar algo belo, para outra ordem, na qual se busca o estratagema que provocará o efeito desejado em uma platéia específica.
De acordo com Alberti a edificação satisfaz 3 níveis: necessidade, comodidade e prazer. Há um novo estatuto do arquiteto, ars liberalis.
A lógica da Gênese arquitetônica, por elementos pares: universal/particular; público/privado, e as tríades de Alberti fazem parte de uma teoria estética derivada de Aristóteles:
Edifício-corpo: personagem, que tem forma e depende do espírito e decorre da matéria dependente da natureza, que são unidas no ato de construir.
Tríade principia, partes ou rationes: região, área, divisão da planta, paredes, cobertura, axioma da concepção.
O edifício tem partes, subordinadas ao todo e solidárias entre si, cumprem funções específicas e diferentes. Operações universais sejam para a casa ou a cidade.
“A cidade é uma grande casa e inversamente a casa é uma cidade pequena”.
Para Alberti a cidade é um lugar público que supera qualquer artefato humano, a casa é seu análogo privado. Refere-se a uma série de operações aplicáveis a qualquer cidade, operações topológicas, enquanto para os edifícios, define-se a partir de suas particularidades e status.
A tratadística de Alberti classificava os fenômenos em categorias essenciais: função primeira/ construção e função simbólica/representação.
Ver Sobre Alberti e o De re aedificatória nos livros
Clássico e Anti-Clássico de Giulio Carlo Argan
A história da arte como história da cidade de Giulio Carlo Argan
A regra e o modelo. Françoise Choay
Quid Tum? O combate da arte em Leon Batista Alberti de Carlos Antônio L. Brandão
Da Arquitetura. Texto de Vitrúvio publicado pela Hucitec
Ver também:
Tzonis, Lefraive e Bilodeau . El clasicismo en arquitectura: la poética del orden. Madrid: Herman Blume, 1984
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