Resenha do texto “entre paisagem/arquitetura”
Do texto: BOYER, M. Christine. Cognitive Landscape. In. SPELLMAN, Catherine (ed.). Re-envisioning Landscape/ Architecture. Barcelona: Actar, 2003. pp. 9-15.
O “entre paisagem/arquitetura” ou a relação transversal entre paisagem/arquitetura é o centro da abordagem de M. Christine Boyer neste texto, que ela inicia com as seguintes perguntas.
Como vencer as diferenças entre paisagem e arquitetura que parecem nunca serem conclusivas? Como revisar e estruturar mais uma vez um grupo de interações cruciais, tais como: paisagem natural e paisagem urbana (landscape/ cityscape), natureza e tecnologia, sujeito e objeto, aquilo que tem significado e aquilo que não tem ou perdeu. Boyer fala em regular, endereçar este cruzamento, no momento presente, ultrapassar os limites entre arquitetura e paisagem e as ciências cognitivas. Para ela, há pouca consciência das ciências cognitivas entre arquitetos, paisagistas ou urbanistas para eles raramente questionam a maneira de pensar de computadores e subsequentemente como as pessoas, extraem e evocam significados quando observam, fazem leituras, escrevem e falam. M. Christine Boyer discute a paisagem sob a perspectiva da cognição. Embora arquitetos paisagistas raramente se refiram ao assunto diretamente, todavia atribuem significados subjetivos, percepção e memória ao ambiente natural. Há muitas questões a respeito dessas atribuições de significado.
Por exemplo, como são românticos e nostálgicos os sentimentos engendrados pelas vistas paisagísticas? A natureza é sempre um lugar para escape, o retorno ao jardim e o Éden ou é um lugar de restauração e de salvação? Como contar a história dos jardins ou paisagens? Como as paisagens enunciam valores de harmonia, repouso, equilíbrio e orientação? E do mesmo modo, memória e jardins ou paisagens projetadas? De fato, por que a memória ou lembrança estão mesmo relacionadas à natureza? Certamente, por outro lado, é antiga a localização de memoriais em parques ou associação entre morte e ambiente natural. O espectador deve estar imerso na natureza para comunicar esta mensagem? O observador também se relaciona ao meio ambiente por meio da fotografia, cinema e textos escritos? Estes meios de representação podem expressar a maneira como as paisagens foram concebidas e experimentadas?
O texto de M. Christine Boyer explora as respostas a algumas dessas questões focalizando quatro diferentes exemplos de cognição e paisagens arquitetônicas. O paradigma simbólico e paisagens pinturescas; a memória associativa dos surrealistas e Parc Buttes-Chamont, a discussões de cognição e centralidade dos símbolos e o livro A Imagem da Cidade de Kevin Lynch e finalmente o efeito dos computadores sobre produção de novas formas visuais e a proposta de Rem Koolhas para o Parc La Villette (1983), representado no livro S, M, L, XL (1995).
Modelo de cognição: o paradigma simbólico e modo de cognição.
A análise se baseia principalmente nos estudos de Marvin Minsky sobre frame-like modes of perception. Neste ponto ela fala de dois tipos de memória: manipulação de símbolos de acordo com regras combinatórias pré-existentes tal como na arte clássica da memória, originada com os gregos – esta dá origem as ciências cognitivas do paradigma simbólico, e, o segundo modelo de conexão difunde atividades através de redes e unidades interconectadas, diacronicamente e sincronicamente, também pode ser chamado modelo combinatório.
O processo cognitivo é admitido como distribuído e paralelo e não linear e causal, a informação não pode ser localizada mas estocada em conexões e links (elos) entre unidades e distribuída através da rede. Memória se torna efeito de relações ou diferenças entre conexões (associações).
Modelos de associação de percepção
Neste ponto M. Christine Boyer cita os surrealistas André Breton e Aragon e sus passeios pelo Parc Buttes-Chamont. Breton difunde nos manifestos surrelaistas a falência dos velhos sistemas de razão e lógica e a necessidade de achar novos procedimentos de investigação.
Aragon escolhe o Parc Buttes-Chamont devido sua contraposição ao modernismo geométrico e funcionalista. M. Christine Boyer diz que os surrealistas tem grande poder de se encantar certos lugares, certos aspectos de objetos cotidianos. Este encantamento ativa um tipo de frisson entre o espectador e o ambiente, entre sujeito e objeto. Sobre a natureza Aragon conclui que o verdadeiro significado da palavra (natureza) é o senso de mundo exterior, o senso de inconsciência. “Dessa forma natureza é outro termo do senso mítico”. O modelo de percepção associativa de Aragon aproxima-se ao estado de sonho e revela fascínio pela cognição intuitiva, busca associações espontâneas entre palavras e imagens de paisagens, sendo a linguagem expressão de forças psíquicas trazendo o inconsciente à tona, podendo provocar a imaginação.
Cognição e processo simbólico de cognição
M. Christine Boyer aborda, entre outros, um estudo de Gyorgi Kepes sobre a percepção das formas, cores, texturas e dimensões que se expande, se retrai, cresce e reduz, ou seja se movimenta. Segundo Kepes, nós estamos aptos a metamorfosear opticamente. E esta também é a essência da construção do símbolo, a transformação incessante, mudanças de substância e forma no fluxo do sentido dos dados... Hoje a chave dos trabalhos criativos é a transformação, translação da experiência direta em símbolos, que somam a experiência às formas de comunicação ‑ o transporte de símbolos invisíveis é o que acontece na internet e nos chips dos computadores. O modelo de imagem como espelho é obsoleto, novos modelos são “pictures of process”, revelando movimentos escondidos no interior e fora de nós.
Deste modo, M. Christine Boyer diz comparando com a questão acima, que o trabalho de Kevin Lynch ao definir um léxico de símbolos restringindo as interações entre os indivíduos e ambiente, estreita o alcance ao domínio formamalista,,, para Boyer é evidente que se requer novas lógicas e novos processos simbólicos para entender como a mente trabalha e como a paisagem gera significado.
Informação Visual e modelos de percepção associativa
M. Christine Boyer cita o trabalho de Rem Koolhas, mas, também o de Robert Smithson (land art e site specific) que para se familiarizar com os lugares que iria intervir documentava por meio de fotografias, filmes e livros. Em sua preocupação site/ nonsite, Smithson visitava o sitio documentando-o, selecionando ‘samples’ (amostras) de pedras, pedregulhos, entulhos daquele terreno. Então, Smithson levava para a galeria um display com o nonsite: um arranjo de mapas, fotografias, samples analógicos e explicações verbais que referenciam a falta, contudo, especificando o sítio (specific site)... Ele confundia os limites entre a ficção e fato neste transporte de samples (amostras) e imagens, entre a natureza e o self...
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